UBS perde executivo e muda diretoria no Brasil
Pouco mais de dois anos após comprar o Banco Pactual e entrar oficialmente no mercado financeiro brasileiro, o suíço UBS atravessa um período de mudanças em seu comando no Brasil.
Apesar dos bons resultados obtidos até aqui pelo UBS Pactual, a direção da instituição enfrentava uma crise política que culminou na saída do executivo André Esteves, confirmada em junho e recebida como uma bomba pelo mercado.
Esteves tem apenas 39 anos e é visto por seus pares como um fenômeno das finanças. Aos 22 anos, ele começou a trabalhar como técnico de informática no Pactual. Ao substituir um operador de investimentos da mesa de renda fixa que estava em férias, teve um desempenho tão bom que de lá não mais saiu.
Em 1999, já diretor do Pactual, Esteves juntou-se a outros diretores para comprar o banco, do qual se tornou presidente. Em maio de 2006, ele vendeu o Pactual para o UBS, num negócio estimado em US$ 3,1 bilhões e que lhe rendeu US$ 1 bilhão líquidos.
Em lua-de-mel com a direção mundial do UBS, logo após a venda do Pactual Esteves foi encarregado de administrar todas as ações do banco na América Latina. Meses depois, quando a crise mundial do UBS contrastava com os bons resultados obtidos por seu braço brasileiro, Esteves foi deslocado para Londres, onde assumiu o comando mundial da área de renda fixa do UBS.
Quando tudo parecia perfeito, o banqueiro brasileiro tomou no fim do ano passado uma decisão que iniciou o mal-estar político que agora resulta em sua saída do UBS Pactual. Em meio à crise imobiliária dos Estados Unidos, com o UBS numa inédita posição de fragilidade e atravessando a maior crise de gestão de sua história, Esteves se uniu ao empresário Jorge Paulo Lemann (um dos donos da InBev) numa tentativa de adquirir o controle internacional do banco.
A tentativa foi mal recebida pela direção mundial do UBS, que a rejeitou prontamente. Meses depois, Esteves foi afastado de seu posto em Londres e enviado de volta ao Brasil para reassumir a presidência do UBS Pactual. Nem a instituição nem Esteves jamais se manifestaram oficialmente sobre esse processo de desgaste, mas nele provavelmente reside o principal motivo da saída do executivo.
Novo banco
Numa das raras informações que passa à imprensa, André Esteves já mandou avisar que vai montar um novo banco de investimentos. Para isso, no entanto, terá de esperar até 2011, pois ele _ assim como todos os outros sócios do Pactual na época da venda ao UBS _ está proibido por cláusula contratual de atuar no setor por cinco anos a contar da data do fechamento do negócio.
Esteves também vazou à imprensa que precisou pagar uma multa de R$ 100 milhões ao UBS Pactual por deixar a instituição antes do prazo mínimo previsto. O que se sabe de concreto é que ele já trabalha na montagem de uma nova empresa que, quando for possível, se transformará em banco de investimentos. Para preparar o terreno, em sua saída Esteves levou consigo outros doze executivos do UBS Pactual.
Procurado pela swissinfo, o novo presidente do UBS Pactual, Rodrigo Xavier, confirmou a saída de doze executivos, mas se recusou a precisar o valor da multa paga por Esteves. Comenta-se no mercado que a direção mundial do UBS teria oferecido bônus extras pelos próximos três anos para evitar que mais executivos seguissem Esteves, numa informação não confirmada pelo banco: “O UBS não comenta rumores”, disse Xavier.
Nomeações
No Pactual desde 1993, Xavier, após a fusão com o UBS em 2006, passou a cuidar da gestão dos fundos de investimento UBS Pactual Asset Management. Agora, foi nomeado presidente e CEO no Brasil, devendo se reportar a Jerker Johansson, presidente e CEO do UBS Investment Bank.
Outra mudança na diretoria executiva confirmada pelo banco é a nomeação de Juerg Haller como presidente e CEO da América Latina. Sua ação vai abranger todos os negócios do grupo e ele deverá se reportar a Johansson e a Robert Wolf, que é presidente e CEO do UBS Group Americas. Haller também manterá adicionalmente sua função como vice-CEO do UBS Pactual.
UBS Pactual cresce
Em meio às mudanças de comando, Rodrigo Xavier faz uma análise tranqüilizadora para o banco e seus clientes: “A economia brasileira continua sólida, as empresas crescendo e o UBS Pactual está acompanhando este crescimento”, diz. Segundo Xavier, “os negócios no Brasil se solidificaram significativamente por causa da integração bem sucedida” entre o UBS e Pactual:
“Agradecemos aos nossos clientes por seu apoio contínuo e estamos ansiosos em continuar promovendo e alavancando a nossa liderança em serviços para o cliente no Brasil. As diversas áreas do UBS Pactual continuam empenhadas para fazer de 2008 um ano tão bom quanto 2007”, diz.
O processo de saída de Esteves, segundo o novo presidente, não afetou o trabalho do banco: “Ao longo do primeiro semestre de 2008, o UBS Pactual ganhou diversos prêmios que comprovam a excelência da atuação do banco no mercado brasileiro. A liderança da instituição tem sido cada vez mais reconhecida com dados que reforçam o trabalho em equipe nas diversas áreas estratégicas”, diz, citando prêmios como o Top Gestão Valor Econômico, o Melhor Banco de Atacado e Negócios (FGV/Conjuntura Econômica) e o Melhor Private Bank no Brasil (Euromoney), entre outros.
swissinfo, Maurício Thuswohl, Rio de Janeiro
Em 2007, o UBS Pactual obteve um lucro líquido de R$ 2,649 bilhões, com rentabilidade de 105,33% sobre o patrimônio líquido médio. Foi um dos melhores resultados entre os bancos brasileiros.
Segundo o novo presidente do banco, Rodrigo Xavier, “todo esse lucro do UBS Pactual foi incorporado ao patrimônio do banco, que mais do que triplicou, passando de R$ 1,2 bilhão para R$ 3,8 bilhões”.
Antes mesmo de completar 40 anos, André Esteves tem uma fortuna pessoal estimada em US$ 1,5 bilhão. Com sua saída do grupo UBS, pretende montar um novo banco de investimentos, mas já manifestou a intenção de diversificar sua atuação.
Um de seus desejos, segundo pessoas próximas, seria o de investir em veículos de mídia impressa e televisão. Avesso à badalações, Esteves mora com a mulher e os três filhos em uma cobertura em Ipanema, bairro chique do Rio de Janeiro.
O imóvel, segundo as revistas de fofoca, é decorado com obras de arte valiosas e tem as paredes, portas e janelas blindadas.
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