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Um legítimo “Rolex” por seis dólares

Pirataria: um "Rolex" de seis dólares (esquerda) e um "Montblanc" de 24 dólares (direita). swissinfo.ch

Um passeio ao "Mercado de Pérolas" de Hong Qiao, em Pequim. Dentre as diversas "pérolas" encontradas nesse espaço tradicional, estão milhares de falsificações de relógios suíços vendidas a céu aberto.

Pirataria, sobretudo na China, é hoje uma das maiores preocupações da Federação da Indústria Relojoeira Suíça. Ela considera o fenômeno como o problema número um do setor.

“Hello, hello, watch, Rolex!”. Essa frase pode ser escutada dezenas de vezes ao dia durante um passeio entre as bancas do grande mercado de Hong Qiao, muito próximo ao Templo do Céu, uma das principais atrações da capital chinesa.

Entre calçados, cuecas, estolas de caxemira ou seda, periféricos informáticos ou lembranças, dezenas e dezenas de bancas, algumas aparelhadas como verdadeiras joalherias, apresentam os relógios de marca. Todos absolutamente falsos.

Sete dias da semana, todo o ano, inúmeros chineses e centenas de turistas e estrangeiros residentes em Pequim desfilam no local, através dos corredores vigiados por guardas mais folclóricos do que temidos. Os clientes se espremem entre esse espaço e compram como se fosse o último dia da vida.

Marcas suíças

Rolex, Breguet, Longines, Omega, Blancpain, Tag Heuer, Vacheron Constantin e outros: o sentimento é de que todos os grandes nomes da relojoaria suíça estão presentes.

“Eles são verdadeiramente suíços”, pergunta o repórter. “Não, alguns vêm de Taiwan e outros de Shenzhen, na China mesmo”, responde o vendedor com toda a franqueza. Ele ainda tenta tornar seus produtos mais atraentes: – “Veja, olhe de perto, esse modelo é realmente maravilhoso”. Nas mãos ele tem um modelo automático negro da Montblanc.

O bracelete parece tudo, mesmo ser um objeto de qualidade. Ele é feito de plástico e deve provavelmente arrebentar após algumas semanas de uso. Por outro lado, de um ponto de vista mais profano, o mecanismo do relógio parece ser bem sólido. E o quadro é mais bonito ainda.

Uma dama de aparência burguesa, com um forte sotaque francês, se aproxima e pede um modelo especial da Patek Philippe, uma das marcas mais caras na Suíça. O vendedor faz uma rápida pesquisa no catálogo, sorri e anuncia: – “Eu encontrei-o!”. A venda é concluída em apenas alguns segundos.

No meu caso, eu estou sempre discutindo sobre a qualidade (“Que pode ser muito variada segundo o relógio escolhido”, explica o vendedor) e o preço. Finalmente entramos num acordo. O modelo do Montblanc, mais um Rolex para mulheres: no total 200 yuan, o que convertendo a moeda não passa de 18 dólares.

“Eu posso fazer o Rolex por 50 yuan (5 dólares), mas o Montblanc é de melhor qualidade. Não posso descer a soma total para menos do que 150 yuan”, argumenta meu interlocutor.

Ele mal se despede e já está negociando com outro cliente.

Além de Hong Qiao

O exemplo do mercado de Hong Qiao (uma verdadeira instituição, destacada até como uma das principais atrações de Pequim pelos guias turísticos) não é o único da metrópole, nem de outras cidades chinesas. A venda de cópias falsificadas, relógios ou outros produtos, é uma realidade não escondida em toda a China.

“Esse é um grande problema para nós. A China é o mercado número um da pirataria, seja pela produção, como também venda. E detalhe: lá ela ocorre livremente”, explica Jean-Daniel Pasche, presidente da Federação da Indústria Relojoeira Suíça.

O órgão entrou em contato com o governo chinês, que se disse disposto a colaborar. “Porém a luta será longa”, prevê Pasche.

Hoje em dia o número de falsificações no mercado cada vez mais globalizado já ultrapassa o de produtos originais, sobretudo graças à internet. Inúmeras plataformas virtuais vendem relógios suíços on-line, um fenômeno que pode colocar em risco a boa reputação dos modelos Swiss Made.

“Com o apoio das autoridades locais, já conseguimos realizar diversas operações e confiscar as falsificações na China. Nós destruímos as cópias e tentamos obter a condenação das quadrilhas de falsários”, declara Jean-Daniel Pasche. Porém ele sabe que a luta é quase inglória. “Uns vão e outros chegam no mercado para tomar o seu lugar”.

swissinfo, Marzio Pescia, Pequim

A falsificação de relógios suíços não é um fenômeno recente, mas sim de décadas.

Antes as cópias eram fabricadas em países como o Japão, Hong Kong, Tailândia ou Taiwan.

Hoje em dia, a China se transformou no líder do mercado de falsificações de marcas. As autoridades locais começaram apenas nos últimos anos a combater o problema, sobretudo devido às pressões da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A pirataria causa prejuízos de 800 milhões de francos por ano a indústria relojoeira suíça.

A indústria relojoeira suíça produz cerca de 25 milhões de peças por ano.
Paralelamente os especialistas acreditam que são produzidos 40 milhões de cópias piratas anualmente.
70% das falsificações vêm de países asiáticos, principalmente da China.

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