Um super-radar para pegar os maus motoristas
Um fabricante suíço de radares de trânsito lança um "super-radar" capaz de controlar 22 veículos simultaneamente e o cumprimento de onze diferentes tipos de regras de trânsito. O SR590 já está sendo testado em Genebra e deve ser empregado em outras cidades e regiões do país.
A máquina deve multiplicar o número de multas. Porém o principal objetivo continua sendo.a segurança.
É o momento que ninguém gosta de ser fotografado. Uma pequena distração no trânsito, seja não prestando atenção na placa de limite de velocidade ou pisando no acelerador para passar aquele sinal amarelo e economizar alguns segundos, e a máquina mostra sua implacabilidade. O flash é acionado e, poucas semanas depois, a conta é enviada diretamente ao domicílio. Dúvida? As autoridades podem enviar uma foto também e ela é tão detalhista como uma 3×4 de um automático.
Porém se motoristas em todas as partes do mundo odeiam o radar – também chamado de “pardal” no Brasil – então ele irá detestar ainda mais uma nova invenção suíça, o Traffistar SR590. O mais recente lançamento da Multanova, uma empresa especializada há mais de 60 anos na produção de equipamentos de controle de tráfego. Ela promete controlar ainda mais a segurança no tráfego.
Não é à toa. O SR590 está equipado com a última tecnologia de radares 3D de seguimento. Através de feixes de ondas eletromagnéticas em um ângulo de até 60 graus, o aparelho é capaz de controlar a trajetória de 22 veículos simultaneamente sobre quatro pistas, em uma distância de até 500 metros. É muito mais do que os radares clássicos, que cobrem apenas duas vias e apenas alguns veículos por vez. O super-radar “conhece” a posição exata de cada objeto no espaço e acompanha seu movimento.
“Isso explica porque algumas pessoas conseguem escapar das multas. Os radares atuais não são precisos o suficiente. Além disso, eles também podem sofrer interferências de outros veículos justapostos”, explica Stefan Guggisberg, diretor da Multanova em seu escritório em Uster, pequeno vilarejo ao leste de Zurique.
Testes em Genebra
O novo super-radar está sendo testado desde o início de julho pelas autoridades municipais de Genebra. Os resultados são mais do que positivos. “Estamos muito satisfeitos com o aparelho”, declarou Jean-Marc Pecorini, chefe da brigada de tráfego da polícia cantonal de Genebra ao jornal “Le Matin”. Apesar do pouco tempo de uso, as autoridades genebrinas decidiram colocar o aparelho em funcionamento pleno a partir do final de agosto. O número de multas deve aumentar exponencialmente.
Além de registrar excessos de velocidade e passagem em sinal vermelho, o SR590 também controla o cumprimento de mais nove regras de trânsito: a proibição de dobrar à direita (para veículos que estão na pista de ultrapassagem), transposição da faixa branca, a placa de parada obrigatória, a distância de segurança entre dois veículos, a prioridade de passagem para pedestres, a faixa da bicicleta, a prioridade de passagem para os que vêm da direita, faixas de uso exclusivo de ônibus e todas as manobras de ultrapassagem (as famosas “tesouradas” no Brasil).
O super-radar tem um “olho” de águia. Além de ser equipado com uma máquina fotográfica clássica e um potente flash – que fazem o registro fotográfico do momento exato da infração de trânsito, ele também possui uma câmara de vídeo. Esta consegue tirar seis fotos por segundo e fornecer, dessa maneira, uma sequencia de imagens para mostrar com exatidão como a infração foi cometida, inclusive nos tribunais. Obviamente o veículo, sua placa e a velocidade também são gravados pelo computador.
Stefan Guggisberg abre uma tampa para mostrar a parte de trás do SR590. “Aqui temos uma saída USB, que permite retirar as informações com uma simples chave. Se desejado, elas também podem ser transmitidas por WLAN ou cabo até uma central de controle”, explica o diretor da Multanova. Tanta tecnologia justifica seu preço: 80 mil francos (US$ 77 mil).
Com satisfação, ele revela também outro segredo da máquina. “Ela pode ser instalada em caixas de radares normais ou utilizada de forma móvel. Assim a polícia pode colocar, durante uma semana, em uma rua com placa de parada obrigatória ou em um cruzamento próximo a uma escola”, conta.
Chuva de multas
Questionado se o interesse demonstrado pelas autoridades helvéticas em relação à nova máquina se explica pelo desejo de aumentar ainda mais as receitas geradas pelas multas, Guggisberg refuta. “Eu sei que muitas pessoas nos criticam por isso, mas é preciso ver que acidentes de trânsito causam não apenas muito sofrimento, mas também prejuízos imensos à economia. Imagine quanto se gasta em terapias ou se perde em dias de trabalho”, afirma.
Seu contra-argumento: “As mesmas pessoas que falam da ganância do Estado, pagam com seus impostos por essas perdas. Se esse novo radar conseguir diminuir um pouco mais os acidentes, então já se justifica seu uso.”
O interesse dos governos municipais e cantonais pelo super-radar é concreto. Além de Genebra, também o cantão do Ticino (sul) já comprou um exemplar. Zurique e Basileia avaliam momentaneamente os resultados obtidos com os testes genebrinos. “Estamos analisando uma possível compra”, declarou Cornelia Schuoler, porta-voz da Polícia de Zurique.
O diretor da Multanova – o nome da empresa vem do latim “mulcta”, ou seja, pena pecuniária, e nova – espera vender até o final do ano vinte aparelhos na Suíça e pelo menos oitenta até o final de 2012. O que o faz estar tão otimista é a homologação oficial da SR590 pelas autoridades helvéticas. “Com isso podemos vender nosso radar em qualquer parte do país”, afirma.
Em breve na América Latina?
Casado com uma peruana, Stefan Guggisberg conhece bem a América Latina. Questionado sobre o comportamento no trânsito nesses países, ele não titubeia. “Sempre me espanto em ver como as pessoas dirigem em Lima ou em São Paulo, cidades que conheço bem. O mais espetacular é quando uma pessoa à minha esquerda me corta repentinamente para virar à direita. Isso parece ser normal por lá.”
Porém os motoristas latino-americanos não precisam se preocupar. O super-radar não será exportado imediatamente para o continente. Sua homologação é um processo complicado, pois o aparelho deve adaptar-se às regras de trânsito de cada país e respeitar também as legislações específicas de proteção dos dados pessoais.
“Existe, de fato um grande potencial, mas até agora exportamos nossos radares somente para os países do norte da África”, explica Guggisberg e completa, “é porque eles adotaram quase 100% das nossas regras.”
Alexander Thoele, swissinfo.ch
Segundo o Depto. Federal de Estatísticas, 335 pessoas perderam sua vida nas ruas e estradas da Suíça em 2009. Aproximadamente cinco mil tiveram ferimentos graves e 15 mil ferimentos leves. No total, o ano teve 20.506 acidentes de trânsito.
O parque automotivo da Suíça é de 5.634.059 veículos, dos quais pouco mais de quatro milhões é de carros particulares. Sua idade média é de oito anos.
Segundo o Depto. Federal de Estradas, 74.326 carteiras de motoristas foram apreendidas em 2008. Em grande parte, por um período entre um e três meses.
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