Uma cabana alpina como laboratório do futuro
Em meio às montanhas do cantão do Valais, quase na fronteira da Suíça com a Itália, foi inaugurada no último final de semana a futurística nova cabana Monte Rosa, considerada um marco da arquitetura alpina.
A obra realizada pela Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH) em cooperação com o Clube Alpino Suíço (CAS) servirá também como laboratório para tecnologias de construção civil sustentável.
O Clube Alpino Suíço tem 153 cabanas, mas nenhuma conseguiu até hoje atrair tanta atenção da mídia como a nova Monte Rosa, localizada a 2883 metros de altitude, na base do pico mais alto da Suíça (o Doufurspitze, de 4634 m). E isso antes de começar a funcionar em março de 2010.
Quarenta jornalistas, entre eles equipes de televisão estrangeiras, compareceram à sua inauguração oficial na última sexta-feira (25/9). No sábado, ela foi visitada por patrocinadores e autoridades; no domingo, esteve aberta ao público. Swissinfo.ch esteve lá.
Chamar de “cabana” essa construção que custou 6,5 milhões de dólares é quase um sacrilégio. “Cristal da montanha” soa mais adequado. É assim, como uma gigante pedra brilhante em meio a um mar de rochas e gelo, que a Monte Rosa se apresenta ao visitante, depois de se cruzar a geleira de Gorner – a terceira maior da Suíça.
Suas paredes revestidas de alumínio e os painéis solares na fachada sul reluzem ao sol e garantem à chamada “cabana do futuro” uma autonomia de 90% em energia. Os restantes 10% vêm de um gerador de energia elétrica e térmica instalado no porão.
Comparada a outras cabanas ou pousadas do CAS, a Monte Rosa é um luxo. Os beliches nos 18 quartos oferecem aconchego a 120 pessoas. Ela tem vários chuveiros quentes, lavabos, WCs e mictórios. Água da chuva e do degelo é recolhida numa caverna de 200.000 m3. Depois de usada na cozinha e nos chuveiros, é reciclada para a descarga dos banheiros e tratada antes ir para o esgoto.
Dos quartos, das escadas internas e do refeitório, todo em madeira “esculpida” digitalmente, tem-se uma vista panorâmica das geleiras e dos picos de mais de 4.000 metros de altitude nos arredores, entre eles, o Matterhorn (4478 m), o cartão postal do país.
Marco da arquitetura alpina
Bem mais desafiante do que a caminhada de duas horas e meia sobre pedra e gelo para chegar à cabana foi a sua construção. Seis anos durou o planejamento, 21 semanas o trabalho no canteiro de obras sem conexão às redes de água e energia.
Devido ao difícil acesso, só a pé, todo o material foi transportado de helicóptero. Como não foi possível construir um heliporto, os módulos das paredes e do telhado não podiam ter mais de 600 quilos e foram fixados diretamente na estrutura.
Mais do que erguer uma casa energeticamente econômica, com a melhor vedação possível, os construtores juntaram o know how de diversas disciplinas, utilizando os recursos disponíveis em abundância nas montanhas: energia solar e água. As tecnologias usadas não são novas, sua combinação em condições extremas, sim.
“Reunimos nesse projeto especialistas que normalmente nunca se encontram”, disse o vice-presidente da ETH, Roman Boutellier, na inauguração. “As ideias aplicadas aqui na montanha podem ser imediatamente transferidas para aumentar a eficiência energética e reduzir as emissões de CO2 na construção civil na planície”, acrescentou.
Gerenciamento remoto
A pesquisa na Monte Rosa continua. Ainda não foi implementado o comando remoto dos equipamentos, que está sendo programado por um doutorando da ETH. Esse comando, que estará instalado em Zurique, irá analisar também dados da meteorologia e da ocupação dos quartos para otimizar o gerenciamento de energia e atingir o máximo de autonomia da cabana.
A construção da cabana foi o 50° projeto do jubileu de 150 anos da ETH, comemorado há quatro anos. A instituição fez todo o planejamento e buscou patrocinadores para cobrir a maior parte dos custos. “Todos os envolvidos deram 200% de si para atingirmos nosso objetivo”, elogiou o diretor da obra, Hans Zurniwen.
A Monte Rosa revoluciona também a imagem das cabanas do Clube Alpino Suíço, fundado em 1863. Enquanto estas antigamente apenas ofereciam proteção contra o vento, a chuva e a neve, nos últimos anos, elas se aproximam dos padrões de hotéis.
Diante dos elevados custos da Monte Rosa, o vice-presidente do clube, Reto Jenatsch, no entanto, não alimenta as ilusões dos 120 mil sócios. “O CAS não tem condições para construir outras cabanas com esse padrão. Nosso desafio é lidar com as crescentes exigências de conforto”, diz.
O presidente da seção Monte Rosa do CAS, Peter Planche, diz que só ouviu elogios neste final de semana. “É uma construção muito bonita e complexa. Até a energia dos visitantes será aproveitada para o aquecimento. Certas coisas experimentadas aqui podem ser usadas também em outras cabanas, mas de forma arquitetônica mais simples”, diz à swissinfo.ch.
Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch
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