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Vinho brasileiro procura entrar no mercado suíço

Poderia ser a Toscana, mas são vinhais no Vale do São Francisco, Brasil. cortesia Ibravin

Guaraná ou caipirinha já são populares na Suíça. Porém poucos conseguem imaginar que o Brasil também produz a bebida mais mítica da Europa, o vinho.

Por que não tentar apresentá-lo na Suíça? Foi o que um grupo de produtores brasileiros tentou fazer há pouco.

“Vinho brasileiro? Você está brincando, não? Eu até acredito no suco de laranja, mas vinho…”, afirmou recentemente ao repórter da swissinfo.ch o vendedor italiano de um estande na feira de vinho na última Bea/Pferd, a feira agropecuária de Berna.

Essa reação inusitada espelha o desconhecimento geral. Consumidores europeus estão mais acostumados a associar vinhos do novo mundo aos originários de países como Chile, África do Sul, Austrália ou Argentina. Por isso a cachaça é praticamente a única bebida tupiniquim a ser encontrada nas prateleiras das grandes redes de supermercado.

Para combater o preconceito e conquistar um novo público, o produtor brasileiro se viu obrigado a provar o contrário. Cinco deles foram convidados ontem (12/05) pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) a apresentar suas melhores garrafas a um público selecionado no Kaufleuten Hof, um clube de luxo localizado no centro de Zurique, poucos metros de distância das centrais dos maiores bancos suíços, o UBS e o Credit Suisse. O evento fazia parte do projeto “Wines of Brazil”, lançado em 2002 com apoio do governo brasileiro.

Profissionalização 

“Até esse ano existia muito pouca exportação do vinho brasileiro”, revelou Andreia Milan, gerente de exportação da Ibravin. Porém a orientação mudou. Além de trazer os produtores à Europa e convidar o público-alvo, os organizadores também prepararam material informativo em inglês e apresentam as diversas regiões vinícolas brasileiras em formato multimídia, no qual se inclui também o próprio site da organização.

As projeções no telão exibiam as condições da produção de vinho no Brasil, a quinta maior no hemisfério sul. “São 3,3 milhões de hectolitros por ano”, afirmava Andreia ao exibir uma imagem dos vinhedos do Vale dos Vinhedos que poderia até lembrar a Toscana, na Itália. Ao mesmo tempo, garçons colocavam nos copos uma prova do Pizzato Reserva Merlot, colheita de 2006. Outros vinhos se sucederam durante a apresentação.

Alguns presentes se surpreenderam ao descobrir que vinhos brasileiros, semelhantes aos homólogos europeus, já são qualificados segundo a origem. O registro de indicação geográfica para o vinho produzido no Vale dos Vinhedos, ao sul do Brasil, foi concedido em 2002 pelos órgãos competentes. Hoje, além da localização, esse vinho precisa atender às várias exigências técnicas.

“Para que um vinho produzido no Vale dos Vinhedos tenha o reconhecimento de D.O, ou seja, a ‘Denominação de Origem’, ele precisa ter algumas características. O vinho tinto tem de ser no mínimo produzido com 60% de uvas merlot e o restante cabernet sauvignon, cabernet franc e tannat”, afirmou Andreia aos presentes, dentre os quais importadores, revendedores e jornalistas.

Avanços apesar dos problemas 

Segundo os representantes da Ibravin, o foco da campanha do vinho brasileiro está sob oito países: Hong Kong, Canadá, Estados Unidos e cinco países europeus. Os resultados desde 2002 tem sido prometedores. “Ao longo desses anos, passamos de dois países onde o Brasil exportava para 27, o que ocorreu no ano passado”, ressaltou a gerente de exportações. “Cinco por cento dos vinhos finos brasileiros foram exportados, com exportações na base de 4 a 5 milhões de dólares”, disse, revelando também que os maiores mercados se encontram na Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos.

A razão de apresentar o vinho brasileiro na Suíça deve-se a uma especificidade do mercado helvético. “Identificamos na Suíça um potencial muito importante. Uma das características especiais é que 35% dos vinhos comercializados são vendidos em lojas especializadas. É um nicho bem interessante para quem está entrando no mercado e quer posicionar seus produtos”, disse Andreia. Em sua opinião, a forte presença de vinhos chilenos e argentinos também irá ajudar a abrir as portas ao produto brasileiro. 

A maior dificuldade, como reconhecem até os produtores, é a falsa imagem do país. “O primeiro desafio é explicar às pessoas que é possível produzir vinho no Brasil. Elas pensam que nosso clima é quente e úmido, sem estações definidas. Mas não é o caso do sul do Brasil. Aqui temos estações definidas. Nosso clima é entre o subtropical entre o temperado. No topo dos morros chega a ser frio e até neva. Assim temos todo o ciclo completo anual da vinha: brotação, maturação, colheita, repouso e queda de folhas”, declarou Flávio Pizzato, diretor da empresa familiar localizada em Bento Gonçalves, no Estado do Rio Grande do Sul.

Outro grande desafio para os produtores brasileiros é o preço do vinho de qualidade. Algumas das garrafas abertas em Zurique chegam a custar de 45 reais (20 euros) até mais de 200 (86 euros) para o consumidor, como revelaram alguns dos expositores. A justificativa são os custos. “Nossos vinhos não são dos mais baratos, pois não são de produção extensiva. Eles vêm de pequenas propriedades, montanhas e vinhedos, onde o trabalho é manual”, revelou Flávio.

Elogios e críticas 

Alguns dos convidados em Zurique experimentavam pela primeira vez o vinho brasileiro. O alemão Antonio Potenza, chefe de vendas do Park Hyatt Zurich, hotel de cinco estrelas de Zurique, se surpreendeu. “Muito interessante. Não é um vinho que você conhece dos supermercados. Eu não imaginava que se produzia vinho no Brasil”. Depois de degustar alguns, não escondeu a satisfação. “Achei muito bons os vinhos que experimentei, sobretudo o Talento (vinícola Salton). Vou conversar com meus colegas no hotel sobre a possibilidade de incluí-los no nosso cardápio.”

O suíço Sven Martin, importador de vinhos, já inclui os brasileiros no seu catálogo de produtos. “Os vinhos são de muita qualidade e me lembram bastante os de Bordeaux e do norte da Itália. Eles são elegantes, sobretudo os baseados em Merlot”, afirmou.

Porém dentre os presentes, a concorrência também não faltou. E é dela que vem a crítica. “Não imaginava que os vinhos brasileiros pudessem ser tão bons, mas considero pouco ecológico trazê-los para cá”, retrucou Josef-Marie Chanton, produtor da região do Valais, ao sul da Suíça.

Produção anual média: 3,2 milhões de hectolitros.

15 mil famílias estão envolvidas na vitivinicultura no Brasil.

O país é o 2° maior consumidor de vinho na América do Sul, mas tem apenas um consumo de 2 litros per capita.

A produção de vinho no Brasil foi iniciada a partir de 1875 com a chegada de imigrantes italianos.

A região produtora de vinho no país tem aproximadamente 82.500 hectares e é dividida em seis regiões produtores de vinhos.

A Serra Gaúcha, sul do Brasil, detem 90% da produção de vinho no país.

A primeira certificação de origem é o D.O Vale dos Vinhedos, para os vinhos produzidos na região do mesmo nome, entre as cidades de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, e que atendem a determinados padrões.

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