“Westside de Berna não é uma catedral do dinheiro”

Centro comercial, oásis de wellness, cinema multiplex, asilo de idosos, hotel, estação ferroviária e uma nova porta de entrada para a cidade: com a inauguração do "Westside", Berna ganha um novo cartão postal.
O projeto é de Daniel Libeskind, polonês naturalizado norte-americano e um dos maiores nomes da arquitetura contemporânea mundial. swissinfo conversou com ele na capital suíça.
swissinfo: swissinfo: Qual foi seu primeiro ato para o projeto? O senhor pensou e desenhou?
Daniel Libeskind: Eu tinha na cabeça as imagens do filme A Grande Loja (The Big Store, 1941), dos Irmãos Marx, e desenhei uma mistura de diversas coisas. A cidade de Berna, o local escolhido para a obra e as compras aventureiras dos Irmãos Marx.
swissinfo: O senhor então esteve antes no terreno?
D.L.: Sim, já estive muitas vezes em Berna. Amo Berna por sua beleza arquitetônica. Para qualquer arquiteto, a cidade antiga é uma atração histórica. Também a paisagem daqui eu conhecia bem. Eu a desenhei várias vezes.
swissinfo: Olhando agora o complexo de edifícios, o resultado é como o senhor havia imaginado?
D.L.: Absolutamente! O edifício cresceu ao longo do processo, se desenvolveu, mas está próximo da idéia original.
swissinfo: O espaço para criatividade foi maior do que os limites econômicos?
D.L.: Trabalhei em cooperação estreita com os construtores. Eles queriam uma construção audaciosa e não uma repetição de algo conhecido. Havia a vontade de construir algo novo, e isso foi interessante.
swissinfo: Dependendo do ângulo, a vista externa do edíficio muda muito. Qual é a vista que o senhor prefere?
D.L.: Penso que o Westside é o centro de um desenvolvimento urbano em larga escala. Ao seu lado, surgem edifícios residenciais e são implantados novas transportes públicos. Definitivamente não é só um prédio sobre uma auto-estrada. Naturalmente há as vistas espetaculares, mas elas mudam a cada hora do dia ou da noite.
swissinfo: O Westside está situado numa periferia pouca atraente de Berna. Qual foi o papel desempenhado pela localização?
D.L.: Um papel muito importante. Peguei esses edifícios em forma de caixas, que podem ser vistos ao longo da auto-estrada, e disse: esse não é o caminho certo. O caminho certo é usar a auto-estrada num sentido positivo e, em vez de um conglomerado transbordante, construir algo mais compacto. O Westside deve se tornar uma atração. As pessoas não devem apenas ir e vir, e sim permanecer lá e, com isso, contribuir com a vida econômica e social.
swissinfo: Qual foi o papel de seu escritório em Zurique, onde concretamente Barbara Holzer, como diretora arquitetônica, foi responsável pela execução da obra?
D.L.: Ela desempenhou um papel imensamente importante. Olhe todos os detalhes da construção. Nada vem de um manual, nenhum elemento é pré-fabricado. Tudo foi inventado. Barbara Holzer e toda a equipe passaram muitas noites sem dormir, para encontrar soluções concretas.
swissinfo: Mas o senhor era o chefe?
D.L.: Claro, eu sou o chefe! (ri)
swissinfo: O design interior é Libeskind puro. Ao lado disso, há as lojas, com a apresentação de suas marcas, ou a área de cinemas, com carpetes lilás. Isso são quebras de estilo. Qual é a marca que no final vai prevalecer?
D.L.: Não sou um arquiteto cabeça-dura, que constrói um quadrado e então diz que isso é o mundo perfeito e que nele não há espaço para outra coisa. Um edifício precisa ser tolerante e possibilitar vida social. Essa é a marca que vai se impor, uma marca viva. Uma boa cidade integra diversas tendências. Ela não exclui nada.
swissinfo: Uma boa cidade não é uma cidade concluída e sim um espaço que se modifica permanentemente?
D.L.: Talvez cidades musealizadas sejam construídas prontas, mas verdadeiras cidades se desenvolvem, crescem, até para além do perímetro urbano.
swissinfo: Houve objeções e resistência. Isso também foi positivo?
D.L.: Nunca penso que oposição é ruim. Vivemos numa democracia e é bom ter pontos de vista diferentes. Eu ouço as pessoas. O edifício ganhou com as longas discussões sobre o planejamento do trânsito ou sobre os materiais.
swissinfo: O Westside é uma catedral do dinheiro?
D.L.: Eu penso que não é uma catedral do dinheiro e sim uma catedral para gente. Toda catedral custa muito dinheiro. Nesse sentido, não devemos diferenciar entre o mundo espiritual e material. Este local vai gerar um espírito que irá além dos cálculos e da razão.
swissinfo, Andreas Keiser
Nascido em 1946 em Lodz, Polônia, Libeskind viveu em Israel e depois em Nova York. Desde 1965, ele é cidadão norte-americano.
Ele estudou música em Israel e Nova York e posteriormente arquitetura. Atualmente tem escritórios em Nova York e em Zurique.
Sua especialidade são museus. O Westside, em Berna, é seu primeiro shopping center e sua primeira construção na Suíça.
2009: Teatro Grande Canal e complexos de escritórios, Dublin, Irlanda.
2009: Museu Histórico Militar, Dresden, Alemanha.
2009: MGM Mirage City Center, Las Vegas, Nevada, EUA.
2008: Museu Contemporâneo Judaico, São Francisco (EUA).
2007: Cobertura do pátio “Sukkah”, Museu Judaico, Berlim.
2005: Monumento Memoria e Luce, Padua, Itália.
2005: Sede da Hyundai Development Company, Seul, Coréia do Sul.
2004: Museu Judaico Dinamarquês, Copenhague, Dinamarca.
2001: Museu Judaico, Berlim, Alemanha.
Construtora: Neue Brünnen AG
Investimento: 500 milhões de francos suíços.
Área útil: 141.500m2
Shopping: aproximadamente 60 lojas
Gastronomia: 10 restaurantes e bares.
Cinema: 11 salas totalizando 2.400 lugares.
Hotel: 144 quartos e 11 salas de reunião
Centro aquático: 18 piscinas, sauna, spa e salas de ginástica.
Asilo de idosos: 95 apartamentos e 20 quartos de tratamento.
Estacionamento: 1.275 vagas.
Visitantes por ano (expectativa): 3,5 milhões.
Empregos gerados: cerca de 800.

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