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imagem ilustrativa

A boa vida do representante do Qatar em Genebra

Localizada nas proximidades do exclusivo Clube Náutico de Genebra, a residência do embaixador do Qatar também dá vista para a sede da ONU.

A compra da casa de 550 metros quadrados, situada em terreno com mais de dois hectares, ocorreu um antes do então presidente da FIFA, Sepp Blatter, ter anunciado que Qatar havia sido escolhido para organizar a Copa do Mundo em 2022. A FIFA está sediada em Zurique. Trata-se do órgão esportivo que controla o futebol internacional e organiza eventos como a Copa do Mundo.

Os catarianos comemoraram a decisão. Mas, em dezembro de 2010, as reações de membros das delegações dos países que concorreram à Copa em Zurique levantaram suspeitas de que a decisão tomada na FIFA não foi transparente como deveria.

No verão, o Catar, um país sem tradição de futebol, as temperaturas médias podem até ultrapassar os 40°C. Os representantes do país argumentaram que o problema seria solucionável, mas o fato é que a Copa não poderia ser ocorrer no verão europeu, a época tradicional de realização do evento.

Proposta cercada de mortes e corrupção

torcida em estádio de futebol
AFP

Quando o Catar embarcou na ideia de tornar sua candidatura à Copa do Mundo de 2022 uma realidade, os relatos de abusos e mortes de trabalhadores migrantesLink externo responsáveis pela criação da infraestrutura se tornaram uma desvantagem crescente para a narrativa otimista que o país, produtor de gás, insistia em transmitir. Trabalhadores de comunidades empobrecidas do Sul e Leste da Ásia tinham seus salários frequentemente negados, eram proibidos de mudar de emprego e impedidos de deixar o país livremente. Alguns trabalhadores estrangeiros também enfrentaram punições severas por criticar o sistema.

Uma reportagem publicada no jornal inglês The GuardianLink externo detectou que pelo menos 6.700 trabalhadores migrantes morreram no Catar entre 2010 e 2020, quando o país se preparava para o evento esportivo. Acredita-se que muitos desses trabalhadores faleceram em consequência da exposição excessiva ao calor, de exaustão e condições de trabalho geralmente inseguras.

Sob pressão sobretudo da Confederação Sindical Internacional (ITUC) e da Organização Internacional do Trabalho, ambas sediadas em Genebra, o Catar anunciou que assumiria compromissos com a reforma trabalhista. Isso aconteceu sete anos após o país ter vencido a concorrência para sediar o Mundial. Só então o Catar passou a incluir a proibição do trabalho ao ar livre ao meio-dia durante os meses de verão, permitindo também que os trabalhadores deixem o país sem a permissão dos empregadores, além de passar a estipular um salário-mínimo.

O grupo de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch afirmouLink externo, contudo, que essas questões têm sido “terrivelmente insuficientes e mal aplicadas”.

As investigações de corrupção no processo de licitação também foram iniciadas. No final de 2021, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos afirmouLink externo que vários funcionários da FIFA haviam recebido suborno para votar pelo Catar em 2010.

Na França, estão em andamento investigações sobre uma reunião entre o ex-presidente Nicolas Sarkozy, o ex-presidente da Federação Europeia de Futebol (UEFA), Michel Platini, e o emir do Catar dias antes do fim da licitação que beneficiaria o emirado. A acusação é de que foram obtidos benefícios econômicos em troca de um voto francês. Nenhuma acusação foi arquivada.

A menos de um mês do pontapé inicial da Copa do Mundo, Tamim Bin Hamad Al-Thani, o emir do Catar, descreveu o evento como uma “grande ocasião humanitária”, em um discurso ao conselho de Shura, o órgão legislativo do país. Ele condenou as críticas ao Catar chamando-as de “mentiras fabricadas”.

Os “estudos de viabilidade” da FIFA chegaram a essa conclusão. Assim os organizadores escolheram os meses de novembro e dezembro para organizá-la, trazendo insatisfação a torcedores e patrocinadores.

Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, que haviam concorrido para sediar as Copas do Mundo de 2018 e 2022 junto com a Coréia, Japão e Austrália, estavam há muito tempo entre os favoritos. Mas a intensa pressão do Qatar e a propensão da FIFA de apoiar governos autoritários, as perspectivas de investir em um terreno “virgem” do futebol, atuaram a favor do emirado. Jérôme Valcke, ex-secretário-geral da FIFA, admitiu em 2013 que “menos democracia às vezes é melhor para organizar uma Copa do Mundo”.

Todavia, Valcke foi condenado na Suíça por aceitar suborno. Posteriormente, as investigações nos Estados Unidos e na Suíça culminaram em 2015 com a revelação de um escândalo de corrupção na FIFA. Logo depois dirigentes da organização esportiva foram presos e Blatter perdeu o cargo.

Apesar da escolha para sediar a Copa, a reputação do Qatar sofreu desde o início dos preparativos. Denúncias constantes de defensores dos direitos humanos sobre abusos e mortes de migrantes que estavam trabalhando para construir a infraestrutura da Copa do Mundo se tornaram uma constante nas manchetes internacionais.

Mesmo antes da licitação, o Qatar, ciente de sua imagem internacional ruim, procurou aumentar o apoio entre organizações esportivas, chefes de Estado e diplomatas. Escolheu Genebra como base de lançamento de uma vasta campanha de relações públicas.  

Esta reportagem em três capítulos mostra a luta do Emirado para melhorar sua reputação e o papel que Genebra desempenhou nessa estratégia.

Adaptação: Alexander Thoele

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Debate
Moderador: Dominique Soguel

Como evitar que megaeventos esportivos prejudiquem direitos humanos ou o meio ambiente?

Que critérios as organizações esportivas devem considerar ao escolher um local para sediar competições internacionais como a Copa do Mundo ou as Olimpíadas?

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