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“A preparação para pandemias é de interesse global”

Cartaz da campanha da OMS
Vinheta da última edição do Géopolitis, intitulada "Pandemics: the global response" (Pandemias: a resposta global). RTS

Os 194 membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) prolongaram por um ano as negociações tendo em vista um tratado internacional de combate às pandemias. Enquanto a ameaça de uma nova pandemia aumenta, as tensões internacionais não facilitam a assinatura de um novo acordo.

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“A próxima pandemia é apenas uma questão de tempo”, alertouLink externo o diretor-geeral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, ao término da Assembleia Mundial da Saúde, em 1º de junho. Quatro anos após a Covid-19, que paralisou as economias de todo o mundo e causou 7 milhões de mortesLink externo, os 194 países membros da OMS ainda lutam para chegar a um acordo global para prevenir e conter futuras pandemias.

No início de junho, diante da ausência de consenso dentro do prazo previsto, a OMS, com sede em Genebra, decidiu prolongar as negociações por um ano. Persistem pontos de atrito, nomeadamente no que se refere à propriedade intelectual, à partilha de informações sobre agentes patogênicos e o acesso equitativo a vacinas e outros equipamentos médicos.

A pandemia não só revelou a fragilidade de um mundo globalizado e mal preparado para um desafio dessa natureza, como também pôs em evidência as desigualdades entre países ricos e pobres. Os primeiros países a ter acesso às vacinas foram aqueles que as produziam, como a Europa, os Estados Unidos, a China e a Rússia. Em 2023, apenas um terço das pessoas que vivem na África havia recebido a vacinação completa, contra cerca de 70% na América do Norte, América do Sul e Ásia.

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Corrida contra o tempo

Se as negociações podem estar num impasse, o tempo, por sua vez, corre. A ameaça de uma próxima pandemia é real e está aumentando, alertam os especialistas. Desde o final de março, o vírus da gripe aviária H5N1, monitorado de perto pela OMS, infectou pela primeira vez vacas leiteiras nos Estados Unidos. Essas contaminações inéditas levantam questões sobre a possível transmissão do vírus para humanos.

“A cepa H5N1 não é nova; ela tem mais de 25 anos”, pondera Antoine Flahault, diretor do Instituto de Saúde Global da Universidade de Genebra e convidado do programa GéopolitisLink externo. “Sabemos que ela também pode afetar os seres humanos e ser extremamente virulenta”. Desde 2003, mais de 900 casos em humanos foram registrados pela OMS – metade morreu pouco tempo após a infecção.

“Por enquanto, o vírus não se transmite de humano para humano, mas entre aves”, explica o epidemiologista. Atualmente, os bovinos afetados estão na América do Norte, e até mesmo o leite está contaminado. Os gatosLink externo, e provavelmente humanos, podem ser contaminados por este leite (não pasteurizado, nota do editor)”.

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Até o momento, a causa por trás da infecção das vacas leiteiras é pouco compreendida. Alguns suspeitam de uma transmissão através dos úberes durante a ordenha, enquanto um estudo recenteLink externo aponta para uma possível contaminação pelas vias respiratórias. “É difícil saber se há transmissão entre mamíferos. Se for o caso, o vírus terá dado mais um passo em direção a uma temida contaminação entre humanos”, acrescenta ele.

Em 11 de junho, a União Europeia anunciouLink externo ter encomendado 665 mil doses de uma vacina que previne a transmissão da gripe aviária para humanos, enquanto várias novas infecções humanas foram relatadas nos Estados Unidos, México e Austrália. No entanto, a gripe aviária não é o único vírus monitorado pela OMS, que elaborou uma lista de patógenos preocupantes e que se prepara até mesmo para uma doença desconhecida, batizada de “doença X”. “Esse foi o caso da pandemia de coronavírus”, comenta Antoine Flahault. “Pode haver o surgimento de um vírus que não conhecemos, que nunca infectou o homem antes e que, por mutação, se torna transmissível entre seres humanos”.

Uma só saúde, um só planeta

A transmissão de doenças infecciosas de animais para humanos – chamadas zoonoses – é motivo de preocupação. De acordo com um estudoLink externo publicado na revista Nature em 2022, o aquecimento global, o desmatamentoLink externo e o comércio de espécies protegidas agravam esse risco. Na floresta tropical de Yucatán, no México, em uma área onde os contatos potenciais entre animais e humanos são mais prováveis devido a um forte desmatamento, cientistas da Universidade Nacional Autônoma do México estão rastreandoLink externo agentes infecciosos suscetíveis de provocar novas pandemias.

Uma pesquisa que ecoa os objetivos do programa “Uma Só Saúde” (One Health), lançado pela OMS, que visa prever futuras pandemias, levando em consideração as interações entre o meio ambiente, os humanos e os animais.

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“70% das novas doenças infecciosas vêm dos animais”, assinala Antoine Flahault. “Temos apenas uma saúde: a do planeta, dos humanos e dos animais. Se negligenciarmos uma das três, teremos um efeito bumerangue”. Para ele, é necessário formar cientistas e profissionais, mais especificamente médicos e veterinários. “Precisamos trabalhar juntos, convergir nossos pontos de vista e, às vezes, confrontá-los, para avançar nos dispositivos e, sobretudo, para melhor prevenir grandes pandemias como a Covid-19”, propõe ele.

Clima internacional tenso

A elaboração de um acordo internacional é um processo notoriamente longo e complicado, especialmente porque o contexto internacional tenso coloca à prova o multilateralismo, com o surgimento de guerras na Ucrânia e no Oriente Médio. Para Antoine Flahault, as tensões geopolíticas atuais não devem frear as discussões, assim como não impediram a erradicação da varíola, iniciada durante a Guerra Fria.

“Em 1958, em plena Guerra Fria, a URSS propôs, na Assembleia Mundial da Saúde, um projeto de resolução para erradicar a varíola”, recorda Antoine Flahault. “Vinte anos depois, em 1979, em Genebra, a OMS declarou a erradicação total deste vírus que matou 300 milhões de pessoas no século 20”. E acrescenta: “A preparação para pandemias é vantajosa para todos, independentemente dos regimes e opiniões políticas. Isso transcende todas as culturas”.

As negociações prosseguirão até 2025. Enquanto isso, avanços foram feitos na extremidade do lago com a adoção de várias emendas ao Regulamento Sanitário Internacional (RSI), um quadro juridicamente vinculativo para responder às emergências de saúde pública. A noção de uma “emergência pandêmica”, que pode ser declarada pelo diretor-geral da OMS, foi aprovada no início de junho.

Adaptação: Karleno Bocarro

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