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Atividades da ONU em Genebra prejudicadas por restrições financeiras

Um prédio atrás de tapumes
O Palácio das Nações, um importante centro da diplomacia internacional, está passando por dificuldades financeiras. Keystone / Martial Trezzini

Enfrentando uma crise orçamentária sem precedentes, a sede européia da ONU em Genebra foi forçadas a implementar medidas drásticas de redução de custos que afetam serviços essenciais e levantam dúvidas sobre sua capacidade de cumprir sua missão de forma eficaz.

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“Não estamos operando como de costume e reconhecemos que tanto a prestação de serviços quanto o bem-estar da equipe estão enfrentando desafios imediatos”, diz Alessandra Vellucci, diretora do serviço de informações da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra.

Os cortes significam que Genebra, um centro de diplomacia internacional e humanitarismo, enfrenta restrições financeiras que ameaçam interromper seu trabalho. O Escritório das Nações Unidas em Genebra (UNOG), que é um dos principais centros de negociações globais para a estabilidade, está lidando com um corte de 42% nas despesas não salariais este ano. Isso levou a uma cascata de mudanças, desde o apagar das luzes no Palais des Nations até o possível cancelamento de todos os eventos paralelos e reuniões de ONGs.

Os escritórios e salas de reuniões do Palais agora fecham mais cedo, às 19h. As salas estão frias, pois o aquecimento é reduzido para 20,5°C no inverno, o termostato é ajustado para modestos 26°C no verão e a iluminação ao ar livre é minimizada. A aquisição de bens e serviços foi suspensa, exceto os itens mais essenciais, e a compra de uniformes e bandeiras parou. As operações de construção foram reduzidas e os programas de treinamento foram reduzidos ao mínimo.

Risco de cancelamento

Devido às restrições orçamentárias, o UNOG agora está priorizando reuniões oficiais obrigatórias, como o Conselho de Direitos Humanos da ONU e a Conferência sobre Desarmamento, que são obrigados a realizar sessões regulares a cada ano. Mas isso significa que as reuniões informais, muitas vezes a força motriz do engajamento diplomático e da participação da sociedade civil, correm o risco de sair perdendo.

“Todos os escritórios, departamentos e unidades que compõem o Secretariado da ONU devem gerenciar seu programa de trabalho dentro de um teto de gastos orçamentários reduzidos”, explica Vellucci. “No entanto, até onde sabemos, nenhuma das reuniões intergovernamentais oficiais foi cancelada devido às medidas de economia do UNOG até agora.”

“Além desta crise de liquidez, vemos que há um fosso crescente entre as necessidades, entre o que pedimos às organizações internacionais e os recursos disponíveis”, diz Jürg Lauber, embaixador da Suíça na ONU em Genebra. “A Suíça apoia um multilateralismo focado e eficaz, onde as organizações internacionais se concentram em seus mandatos centrais sem duplicação. Nossas prioridades incluem trabalhar com as comunidades locais, investir mais em medidas econômicas de prevenção e usar novas tecnologias e ciência, e diplomacia para prevenir crises e para o benefício da humanidade.”

Implicações mais amplas

Os desafios financeiros estão tendo um impacto não só no pessoal da UNOG, mas também na comunidade internacional de Genebra em geral. Eles requerem planejamento estratégico e inovação para gerenciar o orçamento reduzido, mantendo funções e serviços essenciais. A mudança para plataformas virtuais poderia ser ecologicamente correta e inclusiva, mas tornaria as negociações informais mais difíceis e afetaria a participação das vozes da sociedade civil.

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Ilustração de prédio das Nações Unidas em Genebra

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“Esta crise pode significar reduzir mandatos, reduzir atividades que podem parecer menos importantes, incluindo operações de manutenção da paz, ou não renovar ou lançar uma missão, mesmo que possa haver um consenso sobre sua necessidade”, alerta Lucile Maertens, professora associada de relações internacionais do Instituto Universitário de Altos Estudos de Genebra (IHEID).

Esta crise financeira é resultado do fracasso de alguns Estados-membros da ONU em pagar suas contribuições, o valor que cada país deve pagar para cobrir o trabalho da ONU e pagar seu pessoal. Ela está forçando o UNOG a economizar mais de US$ 15 milhões (CHF13,5 milhões) de seu orçamento, mantendo apenas funções essenciais. Genebra não está sozinha nessa situação; outros escritórios da ONU, como Nova York, Viena e Nairobi, também enfrentam restrições orçamentárias.

Maertens ressalta que a crise de liquidez da ONU reflete os desafios econômicos enfrentados pelos Estados-membros, que ainda se recuperam dos efeitos da pandemia de Covid, da guerra na Ucrânia e da situação no Oriente Médio. Mas também reflete uma crise de legitimidade para as organizações multilaterais, que são frequentemente criticadas por governos populistas que se opõem ao multilateralismo. A ONU também é por vezes acusada pelos Estados-membros de ineficiência, embora sejam os Estados que decidem sobre os orçamentos e as atividades da ONU.

Um grande plenário com um teto colorido
O Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra, setembro de 2023. Afp Or Licensors

A crise financeira da ONU pode ser um sinal de uma mudança mais profunda na ordem global, um desafio aos princípios do multilateralismo e do diálogo que sustentam seu trabalho. O impacto do déficit orçamentário pode ser sentido de forma particularmente aguda em Genebra, onde a ONU abriga uma série de atividades diplomáticas e mecanismos de direitos humanos que dependem de financiamento confiável e de apoio político: desde painéis de discussão sobre os direitos dos povos indígenas até campanhas sobre controle de armas.

“Sem recursos suficientes, reuniões e negociações multilaterais podem ser canceladas ou adiadas”, alerta Maertens. Ela sugere que quaisquer decisões para promover a estabilidade financeira dentro da ONU devem ser consensuais entre os Estados-membros, pois eles precisam reconhecer os benefícios dessa estabilidade. No entanto, ela acha que assumir compromissos de longo prazo é particularmente desafiador durante crises como as atuais. A implicação é que, embora os Estados-membros sejam a chave para a estabilidade financeira, o caminho para alcançá-la está repleto de políticas internacionais complexas e das pressões imediatas das crises globais.

Maertens sugere que as medidas de redução de custos correm o risco de forçar a ONU a abandonar algumas de suas plataformas globais inclusivas, que são essenciais para reunir uma ampla gama de atores para o diálogo multilateral.

“O principal risco seria desistir de fóruns inclusivos projetados para trazer à mesa o maior número possível de atores, como fazem os processos da ONU”, acrescenta.

Edição: Imogen Foulkes/ts

Adaptação: DvSperling

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