Cuba e Suíça: um relacionamento de muitas voltas
O ex-presidente de Cuba Fidel Castro morreu aos 90 anos de idade. A notícia foi transmitida pela televisão pública pelo seu irmão Raúl Castro, atual chefe de Estado do país. Enquanto estava no poder, Cuba e Suíça mantiveram laços estreitos não apenas oficialmente, mas também através dos seus intelectuais.
O líder histórico da Revolução Cubana faleceu na noite de sexta-feira (25), às 22h29 (hora local), e seu corpo será cremado “atendendo sua vontade expressa”, explicou Raúl Castro, visivelmente emocionado.
O presidente cubano afirmou que, nas próximas horas, será anunciado como acontecerá o funeral de Fidel Castro, que foi visto pela última vez no último dia 15, quando recebeu em sua residência o presidente do Vietnã, Tran Dai Quang.
Depois da deposição do regime ditatorial Fulgencio Batista e sua fuga em 1 de janeiro de 1959, Fidel Castrou convocou generais para consolidar a vitória da Revolução e marchou até Havana, onde entrou em 8 de janeiro. O governo revolucionário instaurado o designou primeiramente comandante das forças armadas e depois, em meados de fevereiro, presidente do país.
Em 31 de julho de 2006, Fidel surpreendeu o mundo ao deixar temporariamente o poder por motivos de saúde. Por meses, sua saúde foi segredo de Estado, com rumores sobre sua morte. Em fevereiro de 2008, a Assembleia Nacional de Cuba aprovou a aposentadoria de Fidel, que oficialmente passou o poder ao irmão, Raúl Castro.
O ministério suíço do Exterior (DFA, na sigla em alemão) declarou em seu site que as relações bilaterais entre a Suíça e CubaLink externo são consideradas como “boas e no espírito de continuidade”.
Desde a ruptura das relações diplomáticas entre Washington e Havana em 1961, a Suíça representava os interesses dos Estados Unidos em Cuba. A partir de 1991 também os de Cuba nos Estados Unidos. Durante 54 anos de mandato como potência protetora, até o reestabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos em julho de 2015, diplomatas suíços tiveram contato direto com o governo cubano e, portanto, também com Fidel Castro, que nunca escondeu sua apreciação pela Suíça e seus representantes.
Relação com intelectuais
Há mais de meio século Fidel Castro – juntamente com Che Guevara – havia incorporado as esperanças de um mundo justo, sem fome, guerras, doenças ou analfabetismo para correligionários em todas as partes do mundo.
Muitos intelectuais, artistas e escritores suíços também se deixaram influenciar pela Revolução Cubana e o Comandante Castro. Juntamente com outras celebridades como Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Régis Debray, eles também foram conhecer o despertar revolucionário em Havana. Legendário são também os relatos e as análises sobre Fidel Castro pelos intelectuais suíços Jean Ziegler e Hugo Lötscher.
Já no início da revolução cubana, Jean Ziegler indicava quem era o personagem mais interessante em Havana: muito mais do que Fidel Castro, Che Guevara devia estar no centro das atenções, sobretudo pelo fato deste não sonhar apenas com uma revolução, mas sim várias.
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Fidel na Suíça
Como nunca na história contemporânea, os revolucionários em Havana souberam utilizar do poder e magia das imagens. Sobretudo Fidel Castro se mostrou um mestre em se colocar no centro da revolução graças a sua presença midiática, exemplificada pelos discursos intermináveis.
René Burri e Luc Chessex
Muitos fotógrafos e cineastas suíços também se deixaram inspirar pela magia das imagens em Havana, dentre eles René Burri e Luc Chessex. René Burri foi, por exemplo, o autor de fotografias de Che Guevara que terminaram famosas mundialmente. Muitos chegaram a dizer que, enquanto Fidel Castro fornecia a retórica da Revolução, Che Guevara dava as imagens.
Durante os vários anos que viveu em Cuba, Luc Chessex dedicou um tempo considerável a fotografar Fidel Castro. Seu tema preferido acabou criando uma disputa, que só seria resolvida pouco anos antes do falecimento do “Comandante”.
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Fidel Castro visto por René Burri
Richard Dindo coloca no cinema diário boliviano
Também o documentarista Richard Dindo dedicou-se intensamente à realidade cubana. Ele imortalizou Che Guevara e não Fidel Castro, ao realizar um documentário sobre os diários bolivianos do primeiro. Provavelmente a campanha de Castro contra a imagem de Che Guevara já estava fadada ao fracasso desde o início.
Enquanto Che, aos 39 anos, terminou derrotado na sua campanha revolucionária nas florestas bolivianas e executado em 1967, Fidel Castro permaneceu por 48 anos no poder. Ele também chegou ao fim da vida com uma grande derrota.
Castro era o único que tinha nas mãos a possibilidade de realizar as urgentes reformas da economia e sociedade cubanas, tão necessárias depois da transição ideológica de 1989, mas não as realizou. Fidel Castro era uma pessoa que dificilmente aceitava as idéias de outros. Mas ele também aceitava ajuda de terceiros, até mesmo da Suíça.
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