Grandes bancos suíços também necessitam ajuda
O governo suíço vai injetar seis bilhões de francos (US$ 5,3 bilhões) no UBS, o maior banco do país. O banco vai ainda transferir 60 bilhões de dólares em ativos "tóxicos" para um fundo criado pelo banco central do país.
Já o Credit Suisse, o segundo maior, preferiu se privar da ajuda estatal para receber de investidores privados, dentre eles um fundo soberano do Catar. A injeção é de aproximadamente 10 bilhões de francos (US$ 8.8 bi).
Após dois aumentos emergenciais de capital, o UBS pede agora ajuda estatal para enfrentar as atuais turbulências no mercado financeiro. O Banco Nacional Suíço (banco central) e o governo helvético disponibilizam 68 bilhões de francos para permitir ao banco se livrar dos papéis problemáticos e permitir uma melhor capitalização da instituição.
“A piora da situação nos mercados e a crescente insegurança nos obriga a diminuir os riscos”, justificou o chefe do UBS, Marcel Rohner, durante uma coletiva por telefone. Graças ao Banco Nacional Suíço (SNB, na sigla em alemão), o UBS irá se livrar dos ativos originários da crise do “subprime”, o mercado de crédito hipotecário de alto risco, depois de já ter registrado perdas da ordem de 45,4 bilhões de francos.
O SNB possibilitará ao UBS colocar esses ativos “tóxicos”, avaliados em valores astronômicos de até 60 bilhões de dólares, em um fundo especial, onde serão liquidados posteriormente. O fundo terá um capital próprio fornecido pelo UBS da ordem de seis bilhões de dólares. Já o banco central deve financiá-lo com um empréstimo de 54 bilhões de dólares e, ao mesmo tempo, ter o controle sobre o fundo. Depois do pagamento do empréstimo, o SNB deve receber um bilhão de dólares como participação nos ganhos.
Assegurar solidez
O presidente do conselho de administração do UBS, Peter Kurer, declarou que o banco está tomando todas as medidas possíveis para assegurar a sua solidez. No terceiro trimestre, o UBS anunciou um lucro líquido de 296 milhões de francos (US$ 261 milhões). A parte de banco de investimento, a que mais sofre com a atual crise, teve um resultado negativo de 2,7 bilhões de francos (US$ 2,3 bi) no mesmo período, após perdas da ordem de 5,2 bilhões de francos (US$ 4,5 bi) no segundo trimestre.
Como medida adicional, o governo suíço injeta diretamente seis bilhões de francos suíços (US$ 5,2 bi) no UBS. Se este capital for convertido em ações, a um preço de 20 francos cada, o governo ficará com uma participação de 9% no maior banco do país, revelou um porta-voz através de comunicado. Para isso, o UBS deverá convocar pela terceira vez neste ano uma assembléia extraordinária de acionistas. Ela deve ocorrer no final de novembro.
Posição do governo
As medidas, anunciadas em conjunto pelo Executivo suíço e as autoridades monetárias, vêm após críticas de que o governo tem demorado para reagir à crise enquanto vizinhos europeus já executam seus próprios programas de salvamento.
Depois de ter anunciado repetidamente não ver necessidade de colocar dinheiro público para salvar os bancos, o Executivo explica a pressa com que o novo programa foi realizado. “Até domingo (12.10) acreditávamos que o Banco Nacional poderia resolver o problema sozinho, mas então percebemos que o UBS necessitava de novo capital”, declarou o ministro Moritz Leuenberger ao Tagesanzeiger.
No comunicado público, o gabinete de ministros também mostra estar preparado às eventualidades. Caso ocorram mais problemas de refinanciamento dos bancos suíços, o governo pode garantir obrigações interbancárias, assim como outros negócios dos bancos. Os fundos já injetados atenderiam às necessidades concretas das instituições financeiras suíças, pelo menos até o momento.
A ministra interina de Finanças, Eveline Widmer-Schlumpf, afirmou estar segura de que o pacote tem boas chances de diminuir as conseqüências da crise financeira. “Ele deve reforçar, em longo prazo, a confiança no sistema bancário do país”, afirmou.
“Frente à força com que a crise financeira se abate sobre a Europa, medidas para reforçar a confiança eram necessárias”, declarou Widmer-Schlumpf. Para o presidente Pascal Couchepin, o “principal objetivo é consolidar o sistema”.
Condições
O governo helvético ainda anunciou uma série de condições apresentadas para a sua participação no pacote. Uma delas é que a participação no UBS não provoque um aumento duradouro da dívida pública. Ao mesmo tempo, o governo quer vender o mais rápido possível a participação no banco a investidores privados, desde que as condições sejam boas.
Na questão das garantias às contas privadas, o gabinete de ministros solicitou ao Ministério das Finanças uma melhora em duas etapas. Como medida imediata, o governo quer apresentar ao Parlamento durante a sua sessão de inverno um pedido para aumentar a garantia e também limitar o sistema. Atualmente as contas privadas são garantidas individualmente em apenas 30 mil francos através de recursos disponibilizados por bancos do país da ordem de quatro bilhões de francos (U$ 3,53 bi).
A determinação de novos valores ainda deve ser estabelecida pelos grupos de trabalho, sendo que decisões tomadas pelos membros da União Européia devem servir como orientação, explica o Ministério das Finanças. Em um segundo passo, o sistema de garantia de contas privadas deve sofrer uma revisão completa. O governo apresentará as primeiras propostas no final de março de 2009.
O pacote de salvamento costurado para o UBS não será gratuito. O governo quer participar do processo de pagamento de bonificações e indenizações de saída, como explica o Ministério das Finanças, e também ser indenizado “razoavelmente” pelos riscos que está tomando.
CS sem ajuda estatal
O Credit Suisse, segundo maior banco do país, revelou perdas consideráveis no terceiro trimestre do ano. O banco espera ter um prejuízo de 1,3 bilhão de francos (US$ 1,15 bi). Devido à crise financeira, a instituição já perdeu 2,4 bilhões de francos (US$ 2,12 bi).
As dificuldades de caixa obrigaram a instituição a fazer um acordo com a Comissão Federal de Bancos (EBK, na sigla em alemão) sobre os objetivos de capitalização e exigências em termos de endividamento. A primeira medida foi reforçar o seu capital através de uma injeção de 10 bilhões de francos (US$ 8.8 bi). Grande parte do dinheiro veio da Autoridade de Investimentos do Catar.
swissinfo com agências
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