Direita quer lançar plebiscito contra minaretes
A construção de minaretes na Suíça pode se transformar em tema de debate nacional, após a proposta de um partido de direita de lançar plebiscito popular para proibir sua construção.
A comunidade muçulmana do país reage chocada e vê “islamofobia” na campanha, alertando também para o perigo de atingir as frágeis relações entre as diferentes crenças.
O grupo de pessoas por trás da campanha para lançar um plebiscito popular, que inclui também membros do maior partido nacional, a União Democrática do Centro (UDC), de tendências direitistas e nacionalistas, tem até novembro de 2008 para recolher 100 mil assinaturas. A lei só permite a realização de um “referendum” a partir do seu recolhimento.
Para os oponentes, a campanha é um ataque ao artigo 72 da Constituição Suíça, que permite as autoridades de tomar as medidas apropriadas para manter a paz entre as diferentes comunidades religiosas do país.
Ulrich Schlüer, parlamentar da UDC e vice-presidente do comitê da campanha, argumenta que a construção de minaretes cria problemas nas comunidades e “ameaçar” a paz social.
Essa situação já estaria ocorrendo em cantões como Solothurn e Berna, onde planos de construção de minaretes nas mesquitas provocam atualmente um grande debate local, onde muitos não escondem seu descontentamento.
“O minarete não tem nada a ver com a religião: não está mencionado no Alcorão ou em outros textos sagrados muçulmanos. Ele apenas simboliza o lugar onde a Lei islâmica está estabelecida”, declara Schlüer à swissinfo.
Lei islâmica
A questão da Lei islâmica e sua suposta “incompatibilidade” com as leis suíças estaria no centro da forte oposição dos partidos de direita à construção de minaretes.
“Ninguém na UDC é contra o Islã. Eu penso que os muçulmanos na Suíça são livres de viver neste país, mas eles têm de respeitar o fato de que temos leis de caráter ocidental e liberais e que estas leis são válidas para todos que querem viver na Suíça”, reforça Schlüer.
O político confessa que ainda não recebeu o apoio oficial do partido, mas acredita que este virá durante a assembléia geral prevista para ser realizada no final de junho. Na ocasião seus dirigentes pretendem elaborar uma estratégia para as eleições parlamentares de outubro.
A pressão exercida pela UDC para forçar a realização de um plebiscito contra os minaretes é visto pelos representantes da Liga de Muçulmanos Suíços como um grande revés. Para Adel Méjri, presidente da organização, a construção de minaretes não é somente para os muçulmanos suíços.
“Como uma organização que ajuda os muçulmanos a se integrar e se tornar cidadãos-modelo, estamos chocados com esta iniciativa. Na nossa opinião, existem outros temas mais importantes para se debater no país. A iniciativa bloqueia apenas qualquer possibilidade de diálogo”, declara.
O que agride particularmente Méjri, no seu entender, é que no final de março o ministro da Justiça, Christoph Blocher, ao mesmo tempo o “homem forte” da UDC, havia convidado vinte membros da comunidade muçulmana para debater temas como a integração ou segurança.
Discriminação
Méjri lembra que um relatório publicado em setembro de 2006 pela Comissão Federal contra o Racismo já indicava como a população muçulmana suíça é discriminada nos mais diferentes aspectos da vida, uma situação que pode ser amplificada pela campanha contra minaretes.
“Através do diálogo podemos encontrar soluções. Porém essa forma agressiva – também ouso dizer “islamófoba” – como está sendo debatida a questão dos minaretes pode ter conseqüências inesperadas. De fato, a campanha ameaça a paz e fere profundamente os muçulmanos”, afirma.
Representantes tanto das igrejas protestantes, assim como da Igreja católica, se unem na defesa da comunidade muçulmana, lembrando que a Constituição helvética assegura a liberdade religiosa e, conseqüentemente, a construção de minaretes.
“Temos de reconhecer o fato de que uma grande comunidade muçulmana já está vivendo hoje na Suíça. Essas pessoas têm o direito de praticar sua religião”, reforça Walter Müller, porta-voz da Conferência Suíça de Bispos.
Ao mesmo tempo em que criticam a campanha da UDC como uma forma de propaganda para outros fins políticos, os representantes das igrejas cristãs lembram a necessidade de um diálogo extenso e profundo para combater o medo que muitas pessoas têm do Islã.
“Mesmo se temos no país uma liberdade religiosa absoluta, acredito não ser possível a construção imediata de 20 minaretes na Suíça, sem que a população compreenda como os muçulmanos praticam a sua fé e a importância que essa peça arquitetônica tem para uma mesquita”, avalia Simon Weber, porta-voz da Federação Suíça de Igrejas Protestantes.
swissinfo, Adam Beaumont
Na Suíça, apenas as mesquitas de Genebra e Zurique possuem um minarete. A chamada à prece não é realizada a partir deles.
Uma pesquisa de opinião realizada no ano passado pelo jornal “Le Matin” mostrou que 43% da população francófona da Suíça apóia a interdição dos minaretes.
Na Suíça vivem 340 mil muçulmanos.
12% dessas pessoas têm o passaporte suíço.
A maior parte delas vêm dos países balcânicos ou da Turquia.
O número de muçulmanos cresceu nos últimos anos, passando de 2,2% da população em 1990 a 4,3%, em 2000.
Almádena ou minarete, é a designação da torre da mesquita, de onde o almuadem anuncia as cinco chamadas diárias à oração. A mesquita de Hassan II (foto), em Casablanca, no Marrocos, possui uma almádena de 210 metros, sendo a mais alta do mundo, sendo visível dia e noite até de milhas de distâncias.
No tempo do profeta Muhammad (Maomé) a chamada à oração era feita a partir do por dos sol visto no telhado mais alto que se achava perto da mesquita, com o crecimento das cidades os horizontes ficam mais distantes prejudicando o instante certo das orações. Oitenta anos após a morte de Muhammad surgem as primeiras minaretes com mais de 50 m, quando a religião muçulmana se expandiu pelo Médio Oriente, e devido à influência da arquitectura bizantina com as suas igrejas com torres. Um dos minaretes mais antigos é o da mesquita de Kairouan, no Norte de África. Texto: Wikipédia em português)
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