Igreja enfrenta pedofilia de padres
Bispos suíços rompem com um tabu em momento em que um sacerdote do País confessa abusos sexuais com menores. Os bispos criam uma "task force" para enfrentar o problema. Vaticano já havia reagido.
Em St. Gallen , no início da semana – segundo juiz que se ocupa do caso – um padre, acusado de pedofilia, confessou parcialmente os fatos. Fatos qualificados de “graves”. Durante vários anos, o sacerdote, atualmente com 63 anos, abusou de menores que lhe haviam sido confiados.
Suspeita
No mesmo dia, a Conferência dos Bispos Suíços anunciava a criação de uma força-tarefa para cercear e prevenir comportamentos pedófilos no clero.
Na semana precedente, o Papa João Paulo II denunciava o “grave escândalo” dos abusos sexuais cometidos por padres. Rompendo com anos de silêncio, o Papa falou de “negra sombra de suspeita” que esses casos deixam em toda a Igreja.
“Os bispos não esperaram o caso de Walenstadt (cidade onde ocorreu o incidente) para levar o problema a sério”, declarou o porta-voz da Conferência dos Bispos Suíços (CBS), Marc Aellen.
Caça às feiticeiras
O porta-voz adverte, porém, contra a tentação de lançamento de uma caça às feiticeiras visando o clero. “Posso garantir que casos como o de Walenstadt são isolados e desafio quem quer que seja a provar o contrário”, realça Marc Aellen.
Ele afirma que jamais a Igreja procurou esconder um caso desse gênero. “Isso pode ter acontecido no passado, numa época em que não se estava ainda consciente do problema e de suas conseqüências, mas isso não ocorre mais na Suíça”, insiste Aellen.
A Igreja nega-se também a identificar a origem do problema no celibato dos padres. Sempre segundo o porta-voz da CBS, os pedófilos seriam estatisticamente mais numerosos entre os pais de família que entre os membros do clero.
Carência
Gabriella Loser, présidente de Zäfra – associação para mulheres atingidas por celibato obrigatório – vê coisas com outros olhos. Estima que o risco de se tornar pedófilo seja maior para um padre que para uma pessoa que leve uma vida equilibrada, tanto no plano intelectual e espiritural quanto afetivo.
E observa: “Os padres não têm experiência de trabalho com crianças. A formação deles negligencia completamente o aspecto afetivo da pessoa, que muitas vezes é reprimido. Vejo nisso risco sério”, acrescenta.
Tabu
Segundo Franz Ziegler, secretário geral para a Associação Suíça pela Criança, é impossível fazer uma idéia da extensão do problema na Suíça enquanto o assunto continuar tabu.
“A questão não atinge apenas a Igreja. Atinge igualmente os clubes esportivos, as escolas e os escoteiros. Na realidade, existe sempre que crianças fiquem submetidas a autoridade de um adulto, lembra Franz Ziegler.
Apesar disso, Ziegler espera que a Igreja dê provas de maior transparência e condene claramente a pedofilia em seu interior.
“Gostaríamos de ouvir que toda relação sexual com criança é delito, que a Igreja não a tolera e que seus padres que o fazem sejam excluídos da Igreja”, lembra o secretário geral da Associação Suíça para a Proteção da Criança.
Casos numerosos
Nos últimos anos, a Igreja Católica tem sido manchada por numerosos escândalos sexuais, no mundo inteiro, envolvendo representantes de toda hierarquia, do simples cura ao arcebispo.
Na Polônia, o arcebispo de Poznan é atualmente investigado pelo Vaticano por ter abusado de seminaristas e padres.
E nos Estados Unidos, a Igreja teria aceitado indenizar, por vários milhões de dólares, vítimas de um padre que passou 10 anos na prisão depois de abusar de um menino.
Adam Beaumont / swissinfo com agências
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