Em 4 de julho de 1819, 1088 suíços embarcam em Estavayer-le-Lac para uma viagem sem volta rumo ao Brasil. Naquele dia, uma última missa reúne os migrantes na Igreja Colegiada de São Lourenço. Exatamente duzentos anos depois, uma Missa da Lembrança é celebrada na mesma igreja, com a presença de descendentes dos suíços que partiram e muitos admiradores dessa emocionante história.
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Suíço-brasileiro formado em jornalismo e comunicação social pela Universidade de Friburgo, Suíça. Ex-colaborador da antiga Rádio Suíça Internacional (RSI), que deu origem à swissinfo.ch.
A tarde é de sol e o clima estival não é nada surpreendente para a comitiva que chega carregando uma faixa comemorativa. 68 brasileiros vindos de Nova Friburgo, a cidade serrana do estado do Rio formada pelos antepassados suíços, param diante à Igreja Colegiada de São Lourenço, acompanhados de alguns “primos distantes” que ficaram na Suíça e de outros brasileiros e suíços que procuram resguardar os laços de amizade entre os dois povos.
Alguns curiosos param para entender o que a pequena multidão de bonés amarelos faz em frente ao lugar santo medieval.
No início do século XIX, os suíços sofrem de pobreza e fome. Em 1816 e 1817, trigo e feno não crescem devido a uma grave crise climática. Além disso, as guerras napoleônicas deixam um rastro de indigentes sem ter para onde ir. Para muitos nessa época, a salvação virá com a partida para terras distantes de tanta miséria.
Missa comemorativa
Após uma breve confraternização, as pessoas do cortejo vão entrando na igreja. A “Collégiale Saint-Laurent d’Estavayer-le-lac” foi construída sobre os restos de um santuário romano. Sua construção durou de 1379 a 1525. O lugar conheceu muitas histórias, mas uma, em especial, reuniu ali há exatamente 200 anos várias almas aflitas com uma viagem que não poderia ter volta.
Do pequeno porto desta cidade lacustre suíça, em 4 de julho de 1819, 1088 suíços embarcam em direção a Basileia para continuar pelo rio Reno até a Holanda, de onde sairiam os navios que os levariam até o Brasil. Nessa missa de adeus, todos pedem proteção para a longa travessia. Muitos não chegarão lá.
Dom Charles Morerod, bispo de Lausanne, Genebra e Friburgo, entra na igreja precedido por outros sacerdotes. O bispo suíço diz aos fiéis ali reunidos que ele também tem familiares que emigraram para a América Latina, mais precisamente para a Argentina.
Essa missa comemorativa é dedicada aos 400 suíços que morreram durante a travessia do Atlântico. Dom Charles Morerod não hesita em traçar um paralelo entre os suíços que partiram para o Brasil há duzentos anos e os migrantes que agora atravessam o Mediterrâneo.
Da igreja, um desfile conduzido pela banda “La Persévérance” leva a celebração até a “Place Nova Friburgo”, situada bem à beira do lago de Neuchâtel. Ali, suíços e brasileiros terão que enfrentar uma última tormenta antes de aportar nas deliciosas mesas com o aperitivo oferecido pela cidade: oito discursos de autoridades e personalidades suíças e brasileiras. Haja “persévérance”!
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