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Quem acredita, pode ser curado

Bons negócios para a leitora de cartas na Lebenskraft 2006. swissinfo.ch

"Lebenskraft" significa "energia da vida" em alemão e é também o nome de uma feira esotérica organizada há dezoito anos em Zurique.

Além de centenas de expositores, até paranormais brasileiros como Thomaz Green Morton e João de Deus participaram.

A energia estava carregada nos céus. Se alguns palestrantes tinham tantos poderes, pelo menos não os usaram para controlar a neve que caía incessantemente naquela tarde de sábado. Apesar do mau tempo e do preço relativamente elevado do bilhete de entrada, 22 francos suíços (US$ 17), os visitantes faziam fila frente ao caixa e não esperavam a hora de poder entrar.

Na 18a edição da Feira de Esoterismo, Saúde e Ajuda à vida, um dos eventos mais antigos do gênero na Europa e conhecida pelo título de “Lebenskraft” (Força da Vida), os organizadores resumiam tudo numa única frase: “transformar o inimaginável em imaginável”, estava escrito no convite enviado à imprensa.

De 9 a 12 de março, o Congresso de Zurique se transformou numa espécie de meca esotérica para interessados que vinham não apenas da Suíça, mas de várias partes do mundo. Além de 150 expositores, o evento também oferecia palestras, workshops, danças religiosas, sessões de cura e até mesmo uma festa “energética”

“Gurus” brasileiros

“Consciência sem fronteiras” era o nome da palestra que deveria ter sido dada por Thomas Green Morton. Como explicava o folheto descritivo, o conhecido paranormal brasileiro “é capaz de materializar objetos como perfume e jóias, transformar açúcar em medicina, fazer crescer ossos quebrados, dobrar moedas com o pensamento e até mesmo ressuscitar um pássaro congelado”.

Porém Morton acabou não conseguindo chegar à tempo e só pôde dar o workshop no fim-de-semana.

– Essa é a segunda vez que ele participa do nosso evento. O Thomas Green Morton já é muito conhecido aqui na Europa. Nesse ano ele falou mais sobre sua vida, as vivências e como podemos melhorar nossas vidas – conta Angelika Meier, organizadora da feira, que precisou viver um dos famosos fenômenos provocados pelo paranormal brasileiro para acreditar nos seus poderes.

– Eu estava do lado dele, durante sua primeira visita, quando de repente eu senti minhas mãos ficarem pegajosas. Quando vi, era uma espécie de óleo que as estava cobrindo. O aroma era maravilhoso. Vi então que o Thomas havia materialisado o perfume nas minhas mãos.

Outro brasileiro famoso representado em Zurique foi João de Deus, curandeiro sediado em Abadiânia, no estado de Goiás (centro-oeste do Brasil). Num dos estandes da feira, onde até uma “cama de cristais” importada tratava diversos suíços, Tiara Rusterholz distribuía panfletos das viagens que organiza, como guia oficial da Casa de Dom Inácio – local onde o brasileiro atua.

Por 1.900 francos (US$ 1.462), dinheiro que não inclui os custos da passagem aérea e transporte, os interessados europeus passam duas semanas no local e têm entrevistas exclusivas, traduzidas em inglês, com João de Deus. Para os que não podem se deslocar ao Brasil, a suíça também oferece tratamentos “à distância”. Por 100 francos (US$ 77 dólares), ela leva fotos dos pacientes para o Brasil.

Técnicas de cura

– Curar o espírito não é algo que se possa aprender. A gente nasce com esses poderes – afirma Andreas Meyer.

O suíço de 44 anos explica que herdou os poderes de cura da mãe. No seu estande na feira esotérica as pessoas que o procuram são energizadas por suas mãos.

– Elas chegam a esquentar até 67 graus. Após três minutos os pacientes começam a sentir o calor e então ocorre algo inexplicável: eles ficam cansados e percebem uma coçada leve que vai até as pontos dos dedos do pé. Eu já fiz ressuscitar uma mulher dessa forma – revela Meyer.

Ele não quer prometer a ninguém que é capaz de curar. Apesar disso, o suíço acredita nas suas capacidades de perceber os problemas.

– Eu sinto dores exatamente nos lugares onde os pacientes as sentem.

Não muito distante do seu estande, Christina LuginBühl, uma jovem suíça, mostra como massagens feitas através da vibração de gongos tibetanos colocados sobre o corpo é capaz de fazer milagres. A técnica vem da Índia e, segundo explica, é empregada há mais de cinco mil anos na cura de várias doenças.

Num dos gongos, repletos de água, ela mostra aos curiosos como as vibrações podem ser vistas no líquido.

– Quando batemos nos gongos colocados em cima do corpo, que em grande parte é composto também de água, cada uma das células é vibrada. Essa massagem tranqüila acaba com as tensões internas como cãibras, insônia e estresse – diz.

Alguns grupos não entram

A feira esotérica em Zurique é um espaço aberto para todas as tendências do setor. Até mesmo um grupo cristão havia montado o seu pequeno estande e distribuía Bíblias em vários idiomas e pequenos livretos com salmos e outros textos religiosos. Perguntados se não seria uma contradição estar participando de um evento tão heterogêneo, a resposta é simples é lógica:

– Vamos aos lugares para encontrar as pessoas. Aqui existem muitos que estão à procura de algo para acreditar. Por isso nós queremos oferecê-los algo muito bonito, que é a fé em Cristo – justifica um dos expositores, que rapidamente coloca um exemplar da Bíblia em francês nas mãos do repórter, se desculpando de não ter a versão em português.

Apesar da tolerância, os organizadores da Lebenskraft não abrem suas portas para qualquer um. Seitas e outros grupos radicais não são bem-vindos, como é o caso da Cientologia, seita americana vista com uma certa reserva por muitos europeus.

– Não trabalhamos com grupos que funcionam na base da pressão. A Cientologia já tentou participar da feira, mas acho que o seu método de aliciar as pessoas, muitas vezes por trás de empresas camufladas, não é muito recomendável. As pessoas que vem aqui, querem liberdade para escolher o que elas crêem – afirma Angelika Méier, que em 1989 organizou sua primeira feira esotérica no Teatro de Berna, evento que daria nascimento a “Lebenskraft” de Zurique.

swissinfo, Alexander Thoele

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