Incerteza no comércio global pode gerar ‘graves consequências negativas’, alerta OMC

A incerteza causada pelas tarifas dos Estados Unidos ameaça gerar “graves consequências negativas” para o comércio global, com quedas de volume entre 0,2% e 1,5% em 2025, alertou a Organização Mundial do Comércio (OMC) nesta quarta-feira (16).
Este mês, o presidente americano, Donald Trump, impôs tarifas alfandegárias de pelo menos 10% sobre as importações de bens de todo o mundo juntamente com taxas de 25% sobre o aço, o alumínio e os automóveis.
Na semana passada, concedeu uma pausa de 90 dias na cobrança das tarifas para dar espaço à negociação com dezenas de países, exceto a China, à qual impôs tarifas adicionais de 145%.
“Estou profundamente preocupada com a incerteza em torno da política comercial, particularmente o impasse entre os Estados Unidos e a China”, disse Ngozi Okonjo-Iweala, diretora-geral da OMC.
“A incerteza persistente ameaça frear o crescimento mundial, com graves consequências para o mundo, especialmente para as economias mais vulneráveis”, acrescentou, em nota.
No começo do ano, a OMC previa uma expansão do comércio mundial em 2025 e 2026, com um aumento do comércio de mercadorias em linha com o PIB mundial e um crescimento ainda maior no setor de serviços.
Mas os economistas da organização reavaliaram a situação após o ‘tarifaço’ de Trump.
“Nas condições atuais”, isto é, levando em conta a suspensão das tarifas anunciadas por Trump, “o volume do comércio mundial de mercadorias deveria diminuir 0,20% em 2025”, antes de mostrar uma “modesta recuperação” de 2,5% em 2026, afirmou a OMC.
Mas a organização também enfatiza que “há grandes riscos de deterioração, como a aplicação de tarifas recíprocas e efeitos colaterais mais amplos da incerteza em termos políticos, o que poderia levar a um declínio ainda mais acentuado — de 1,5% — no comércio global de mercadorias e prejudicar os países menos desenvolvidos voltados para a exportação”.
Espera-se que o declínio seja particularmente acentuado na América do Norte, onde as exportações devem cair 12,6%, disse a OMC.
Okonjo-Iweala também assinalou que o “forte declínio previsto do comércio bilateral entre os Estados Unidos e a China” poderia ter “consequências de maior alcance”.
Embora as transações entre os dois países representem apenas 3% do comércio mundial de mercadorias, a chefe da OMC alertou que uma “dissociação” destas duas grandes economias” poderia levar a “uma fragmentação mais ampla da economia mundial”, organizada “em dois blocos isolados, em função de linhas geopolíticas”.
Neste cenário, “nossas estimativas sugerem que o PIB mundial diminuiria quase 7% no longo prazo” até 2040, afirmou.
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