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Irã e EUA concluem terceira rodada de negociações sobre programa nuclear

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O Irã e os Estados Unidos concluíram neste sábado (26), em Omã, a terceira rodada de negociações sobre o programa nuclear de Teerã, um ciclo de conversas indiretas no qual entraram em detalhes para alcançar um acordo que alivie as tensões no Oriente Médio.

O chanceler iraniano, Abbas Araghchi, liderou a delegação do Irã, enquanto os Estados Unidos enviaram o enviado especial da Casa Branca para o Oriente Médio, Steve Witkoff, para essas conversas que se desenvolveram graças à mediação de Omã.

Araghchi declarou à televisão estatal iraniana que as conversas deste sábado foram “muito mais sérias”, mas ainda existem “diferenças tanto nas questões principais quanto nos detalhes”.

A emissora iraniana informou que as “conversas técnicas e entre especialistas de ambas as delegações” entraram “em uma fase de detalhes minuciosos sobre as demandas e expectativas mútuas”.

As delegações presentes na capital omanita, Mascate, “retornarão às respectivas capitais para consultas”, acrescentou o canal.

Badr Albusaidi, o chanceler de Omã, país que atua como mediador, informou que as negociações serão retomadas na próxima semana.

Um alto funcionário americano, que falou sob condição de anonimato, descreveu as conversas como “positivas e produtivas”. “Ainda há muito a ser feito, mas houve avanços rumo à obtenção de um acordo”, declarou.

Teerã e Washington, que não mantêm relações diplomáticas há mais de quatro décadas, iniciaram conversas há duas semanas para restringir o desenvolvimento nuclear do Irã a fins civis, em troca do levantamento das sanções.

As negociações começaram por volta das 06h00 GMT (03h00 de Brasília), com as delegações reunidas em salas separadas e se comunicando através dos anfitriões, informou Esmail Baqai, porta-voz do chanceler iraniano.

Embora Teerã assegure que seu programa tem fins exclusivamente civis, os Estados Unidos, Israel e outras potências ocidentais suspeitam que o objetivo seja desenvolver uma arma atômica.

Os programas de defesa e mísseis do Irã não fazem parte da negociação, declarou o porta-voz do Ministério iraniano das Relações Exteriores à televisão estatal.

As conversas foram “apenas sobre sanções e questões nucleares”, confirmou um negociador iraniano à agência Tasnim.

O presidente americano, Donald Trump, reiterou em uma entrevista publicada pela revista Time sua ameaça de recorrer à ação militar caso não haja um acordo.

Mas também assegurou que prefere “um acordo a que bombas sejam lançadas”.

Este ciclo de diálogo representa as primeiras negociações de alto nível entre esses dois rivais desde que Trump, em seu primeiro mandato, retirou os Estados Unidos do acordo multilateral de 2015, que visava limitar o programa nuclear iraniano e suavizar as sanções.

– Sanções “hostis” –

Ao retornar à Casa Branca em janeiro, o republicano retomou sua política de “pressão máxima” sobre Teerã. Endureceu as sanções que sufocam a economia iraniana e escreveu ao líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, oferecendo diálogo, mas brandindo a ameaça militar caso não fosse encontrada uma solução diplomática.

Nesta terça-feira, os Estados Unidos anunciaram novas medidas contra a rede petrolífera iraniana, consideradas “hostis” por Teerã antes das conversas deste sábado.

Depois que os Estados Unidos se retiraram unilateralmente do acordo em 2018, o Irã começou a se desvincular dos compromissos do pacto, assinado também por Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia.

Atualmente, o Irã enriquece urânio a 60%, muito acima do limite de 3,67% estipulado no acordo, aproximando-se dos 90% necessários para fabricar uma arma nuclear.

Nesta semana, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, exigiu de Teerã explicações sobre novos túneis construídos ao redor de uma instalação nuclear.

O diplomata argentino, que visitou recentemente o Irã, afirmou que “não se pode descartar” que os túneis estejam sendo usados para armazenar material não declarado.

O Irã não respondeu a essas solicitações.

Em uma entrevista publicada nesta semana, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, reiterou a oposição de Washington ao enriquecimento de urânio em território iraniano.

“Se o Irã quiser um programa nuclear civil, pode tê-lo como tantos outros países no mundo: importando o material enriquecido”, afirmou.

Araghchi advertiu que o direito do Irã de enriquecer urânio não é negociável e, ainda nesta semana, anunciou planos para construir 19 novos reatores.

Rubio também buscou recentemente o apoio das potências europeias signatárias do pacto (Alemanha, França e Reino Unido), às quais solicitou a ativação de um mecanismo previsto para reimpor as sanções da ONU contra o Irã.

Nos meses que antecederam essa inesperada rodada de negociações com os Estados Unidos, o Irã já havia tentado reabrir o diálogo com esses três países europeus em diversos encontros.

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