Jornais latinos apostam em assinaturas digitais
Os principais jornais da América Latina, afetados financeiramente pela migração de leitores e anunciantes para a Internet, apostam cada vez mais nas assinaturas pagas para acessar seus conteúdos digitais.
É uma mudança irreversível no modelo de negócios e no papel da imprensa na sociedade.
A crise, causada também por uma busca de cliques e “curtidas” seguindo a lógica das redes sociais, colocou em risco a credibilidade de muitos jornais.
“Os grandes veículos tradicionais teriam estruturas na maioria das vezes ineficientes, sustentadas por um negócio extremamente bem-sucedido e rentável que acabou”, explica Diego Salazar, jornalista peruano e autor do livro “No hemos entendido nada” (Não entendemos nada, em tradução livre), sobre o declínio dessas empresas.
O modelo de publicidade impressa, que sustentou grandes folhas de pagamento e jornais baratos, foi varrido pelas plataformas digitais.
Os jornais buscam agora convencer seus leitores a pagar por um jornalismo bem feito.
– Informação valiosa –
Uma pesquisa da organização privada Luminate – realizada em meados de 2020 na Argentina, Brasil, Colômbia e México – concluiu que 13% dos leitores de notícias digitais consultados pagam uma assinatura.
Apesar de pequeno, este número mostra uma “predisposição para pagar” maior que a de alguns países europeus, informa o estudo, que no entanto afirma que nove em cada dez não-assinantes dizem não ter motivos para isso.
“Nosso desafio é fazer com que o cidadão comum (…) veja que a informação cuidada, verdadeira, verificável e bem apresentada é valiosa”, comenta Mario Dorantes, subdiretor de conteúdos do mexicano El Universal.
– Foco nos leitores –
Junto a isso, soma-se uma crescente desconfiança na imprensa, segundo instituições especializadas como o Reuters Institute.
Seu relatório de 2020, que estudou 40 países incluindo Chile, Argentina, Brasil e México, mostra que apenas 38% dos entrevistados costuma confiar nas notícias, contra 42% em 2019.
Na Argentina e no Chile a confiança chega a 33%, mas no Brasil alcança 51%.
A solução, segundo os entrevistados, é o trabalho sério focado nos leitores. O eixo do negócio devem ser eles e não os algoritmos que organizam as buscas na Internet.
“Prefiro responder a um leitor indignado com a má qualidade de uma matéria, ou que acredita que nos desviamos de nossos objetivos, do que depender do Google e seu algoritmo, isso é fundamental”, diz Martínez Ahrens do El País, que já soma 130.000 assinantes desde maio passado.
Embora as assinaturas tenham crescido mundialmente, a maioria das pessoas continua satisfeita com notícias gratuitas, com uma porcentagem alta (40% nos Estados Unidos, 50% na Inglaterra) sustentando que “nada poderia persuadi-los a pagar”, aponta o Reuters Institute.