José Mujica considera fundamental cuidar da agricultura familiar na América Latina
O ex-presidente uruguaio José Mujica defendeu nesta sexta-feira(6) o cuidado com a agricultura familiar na América Latina e alertou que, sem vontade política para apoiá-la, a segurança alimentar da região está em risco.
A alimentação dos povos não pode depender “pura e exclusivamente de recursos importados ou exportados. Devemos garantir uma massa de alimentos o mais próximo possível dos centros de consumo”, disse Mujica, de Montevidéu, durante um seminário virtual organizado pela Agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
Mujica, 85 anos e também agricultor e ex-ministro da Pecuária do Uruguai, destacou que o “primeiro problema” do campesinato da América Latina é fazer a população perceber “a importância estratégica que tem para a segurança alimentar, para o cuidado do meio ambiente, para o futuro da própria humanidade”.
“A agricultura familiar não tem lobby, não tem peso institucional e é específica em seus problemas e fragilidades”, disse o ex-líder de esquerda (2010-2015).
Para Mujica, os pequenos agricultores devem se unir, pois “não se pode esperar que famílias isoladas possam lutar com o lucro no mundo de hoje” e vender o mais diretamente possível para “se livrar da intermediação”.
Por outro lado, perguntou “por quanto tempo vão crescer as cidades monitoradas e administradas pelo interesse imobiliário” e convidou a refletir se não seria inteligente pensar “no tamanho” das cidades, porque no futuro haverá “campos despovoados e cidades superlotadas , dificultando todos os problemas de distribuição.
Mujica destacou que a Europa cuida do seu campo, subsidia a sua produção interna, “porque aprendeu que a segurança alimentar é uma mola fundamental para a estabilidade de um país”.
Segundo o ex-guerrilheiro, “se não houver vontade política para enfrentar esses problemas … a agricultura familiar vai sucumbir”.
“Quando as regras de intercâmbio são quebradas, quando o comércio internacional é travado por decisões políticas das grandes potências, a única segurança alimentar é o que é produzido perto de casa”, concluiu.