Karim Aga Khan IV, impulsionador do desenvolvimento e referência do islamismo moderado
Líder religioso e filantropo com uma vasta fortuna, o príncipe Karim Aga Khan IV, que morreu na terça-feira em Lisboa aos 88 anos, dedicou grande parte de sua vida a construir pontes entre culturas e promover um islamismo moderado.
O líder espiritual dos ismaelitas nizaristas, Karim al-Hussaini, era reverenciado por esta comunidade muçulmana xiita de 12 a 15 milhões de fiéis em cerca de vinte países da África, Oriente Médio e Ásia, onde deixou inúmeros investimentos e projetos de desenvolvimento.
“Sua Alteza, o príncipe Karim Al Hussaini, Aga Khan IV, 49º imã da coroa dos muçulmanos xiitas ismaelitas e descendente direto do profeta Maomé (que a paz esteja com ele), morreu pacificamente em Lisboa em 4 de fevereiro de 2025, aos 88 anos, cercado por sua família”, publicou no X a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN).
Será sucedido por seu filho, Rahim Al Hussaini, segundo um anúncio das autoridades do grupo muçulmano xiita nesta quarta-feira (5).
– Filantropia com sentido empresarial –
Depois de passar a infância no Quênia, o príncipe foi nomeado em 1957 como o 49º imã dos ismaelitas em Dar es Salaam, Tanzânia, herdando o cargo de seu avô, Mahomed Shah.
Seu pai, Ali, foi excluído da sucessão após seu tumultuado casamento com a atriz americana Rita Hayworth.
Nascido em Genebra em 1936, o estudante de Harvard poderia ter vivido da herança de um avô, literalmente a peso de ouro, como mostra uma fotografia de 1946 dele em pé em uma balança recebendo o equivalente ao seu peso em ouro.
Mas com pouco menos de 21 anos, o novo Aga Khan assumiu a tarefa de continuar o trabalho de seu antecessor, que criou hospitais, moradias e cooperativas bancárias para ajudar os mais vulneráveis.
O herdeiro investiu grande parte de sua fortuna em países mais pobres, combinando filantropia com tino empresarial.
Ele também fundou e liderou a Rede Aga Khan de Desenvolvimento, que afirma empregar 96.000 pessoas e gastar cerca de um bilhão de dólares anuais (5,72 bilhões de reais na cotação atual) em atividades de desenvolvimento sem fins lucrativos, como redução da pobreza, educação, saúde, planejamento urbano e desenvolvimento de infraestrutura.
Desde 1984, a fundação tem um braço de desenvolvimento econômico, o Fundo Aga Khan para o Desenvolvimento Econômico (AKFED), que tem 36.000 funcionários e 90 empresas e gera receitas anuais de 4,5 bilhões dólares (26 bilhões de reais na cotação atual).
O AKFED opera em setores como telecomunicações, produção de eletricidade, turismo com a rede de hotéis Serena, serviços financeiros e de mídia através do influente Nation Media Group, de capital aberto em Nairóbi.
– “Religião de paz” –
Discreto e cauteloso, Aga Khan evitou falar sobre questões como os conflitos no Oriente Médio, a ascensão do islamismo radical ou as tensões entre sunitas e xiitas.
O islamismo não é uma religião de “conflito ou desordem social, é uma religião de paz”, disse em uma entrevista à AFP em 2017. Se é usado em situações “essencialmente políticas, que ocorrem, por diferentes razões, em um contexto teológico, isso simplesmente não é correto”, argumentou.
Cidadão britânico, também obteve nacionalidade portuguesa. O Parlamento do Canadá lhe concedeu uma rara cidadania honorária do país por seu trabalho em prol do desenvolvimento e da tolerância no mundo.
Bilionário e proprietário de vários iates e aviões particulares, o imã também criou o Prêmio Aga Khan de Arquitetura em 1977 para homenagear projetos inovadores em países muçulmanos.
Entusiasta dos hipódromo, Karim al Hussaini perpetuou a tradição familiar de criar cavalos puro-sangue em seus oito estábulos na França e na Irlanda.
Aga Khan teve quatro filhos: Zahra, Rahim e Hussain, de seu primeiro casamento com a modelo britânica Sally Crocker-Poole, e Aly, nascida em 2000 de seu casamento com a jurista alemã Gabriele zu Leiningen, de quem se divorciou em 2004.
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