Há anos que o clima político na Turquia tem sido de repressão. O jornalista Can Dündar foi obrigado, por isso, a deixar o país. Morando na Alemanha, ele luta por um futuro democrático em sua terra natal.
A Turquia celebra, em 2023, seu centenário – e este será um ano de eleições no país. Recep Tayyip Erdogan, que ocupou o posto de primeiro-ministro a partir de 2003 e é presidente desde 2014, vem enfrentando há um bom tempo baixas nas taxas de aprovação pela população. A catástrofe dos terremotos em fevereiro foi mais um golpe em sua popularidade. A insegurança no país é grande. E também o temor de que Erdogan possa acirrar ainda mais seu estilo autoritário de governar.
No ranking de liberdade de imprensaLink externo da ONG Repórteres sem Fronteiras, a Turquia ocupa o 149° lugar entre 180 nações. O país é um dos que possui maior número de jornalistas detidos. A mídia é controlada ou pelo Estado ou por empresas próximas do governo e a prática da censura é disseminada. Sobretudo após a tentativa fracassada de golpe no ano de 2016, o governo turco passou a adotar medidas ainda mais repressoras contra a mídia, a oposição política e a sociedade civil.
Can Dündar, uma das vozes mais conhecidas da Turquia, sofreu isso na própria pele. Como jornalista, escritor, apresentador e documentarista, Dündar sempre foi um crítico afiado de Erdogan – tendo caído, por isso, na mira do governo. Após ter descoberto, em 2015, que a Turquia estava fornecendo armas ilegalmente para a Síria, Dündar foi acusado de espionagem e apoio ao terrorismo em diversos processos. Depois de ter sido vítima de uma tentativa fracassada de assassinato – um homem disparou contra ele em frente ao prédio de um tribunal –, Dündar deixou o país em 2016. Ele foi condenado à revelia a cumprir penas severas e seu patrimônio na Turquia foi confiscado.
Hoje Dündar vive na Alemanha e é editor-chefe da rádio online ÖzgürüzLink externo. Mesmo no exílio, ele continua sua luta em prol de uma Turquia democrática. Em entrevista à swissinfo.ch, Dündar diz: “A liberdade de expressão é como respirar, é como beber água, como matar a fome. Infelizmente, no nosso país, faz tempo que não podemos mais respirar, estamos sedentos e famintos”. Segundo ele, é tarefa do jornalismo “desobstruir as vias respiratórias” da população.
De acordo com Dündar, a Turquia encontra-se hoje em uma encruzilhada: um dos caminhos leva a um regime autoritário, talvez até a uma ditadura; o outro leva à construção de uma democracia. Um Turquia democrática, completa o jornalista, representaria uma grande oportunidade para a região, para a Europa, para o mundo. E se empenhar para que isso aconteça é tarefa de um jornalista no exílio, conclui.
Adaptação: Soraia Vilela
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