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Como a agricultura regenerativa e a IA podem impulsionar a agricultura sustentável 

Jeff Rowe

A agricultura regenerativa, a tecnologia digital e a inteligência artificial podem nos ajudar a resolver a contradição entre agricultura sustentável e produtiva?

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Minha família trabalha com a terra em Illinois há décadas, cultivando atualmente cerca de aproximadamente 1200 hectares. Como muitos outros agricultores, estamos sempre procurando maneiras de melhorar nossas práticas – para sermos mais eficientes, mais produtivos e melhores administradores da terra.

A agricultura regenerativa representa uma abordagem completa da agricultura que vai além da simples manutenção do status quo. Seu objetivo é melhorar ativamente a saúde do solo, aumentar a biodiversidade, aprimorar os serviços ecossistêmicos e capturar carbono no solo.

Os princípios fundamentais da agricultura regenerativa enfatizam medidas como minimizar os desajustes do solo por meio da redução da lavoura, mantendo o mesmo coberto com colheita ou resíduos durante todo o ano. A agricultura regenerativa promove também o aumento da diversidade de plantas através da rotação de culturas e de culturas de cobertura, além de reduzir gradualmente os insumos sintéticos ao longo do tempo.

A expansão dessas práticas sustentáveis para cobrir 40% das terras agrícolas do mundo poderia desempenhar um papel decisivo na limitação das mudanças climáticas, fortalecendo a resiliência dos nossos sistemas de produção de alimentos e protegendo a diversidade ecológica e o bem-estar econômico das comunidades agrícolas.

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Jovem pilota um drone em uma plantação

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Tecnologia suíça está transformando a agricultura

Este conteúdo foi publicado em Com base nas informações transmitidas por uma start-up suíça, o proprietário de uma refinaria de açúcar na Índia diz aos produtores de cana locais que está quase na hora de colher sua safra. As informações vieram da Gamaya, uma empresa derivada do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne (EPFL), que aplica seus próprios algoritmos de…

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Como proprietário rural na quinta geração e diretor-executivo de uma das maiores empresas de tecnologia agrícola do mundo, enxerguei em primeira mão os desafios e as oportunidades que a agricultura moderna enfrenta: como cultivar de forma sustentável, mantendo, ao mesmo tempo, a produtividade.

Em nossa propriedade rural, implementamos várias práticas de agricultura regenerativa, incluindo cultivo mínimo, técnicas de plantio direto, uso de culturas de cobertura e aplicação precisa de insumos. Observamos um aumento no volume de água disponível, níveis mais altos de matéria orgânica, de carbono orgânico do solo, de carbono total e de carbono ativo. Além disso, observamos melhorias nos níveis de nitrogênio total e fósforo extraível.

Os agricultores que adotam esses métodos agrícolas regenerativos e de precisão podem obter benefícios financeiros substanciais ao longo do tempo, com alguns estudos sugerindo aumentos de lucro de até 120%, de acordo com um estudo do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSDLink externo, na sigla em inglês) de maio de 2023.

Acrescentando tecnologia

Em seu cerne, a agricultura regenerativa consiste em trabalhar com a natureza e não contra ela – e agora dispomos de ferramentas digitais e de tecnologias agrícolas inteligentes, para nos ajudar a fazer isso de forma mais eficaz.

Os sistemas de monitoramento avançado e a agricultura de precisão evoluíram para soluções multidimensionais, possibilitando que os agricultores acompanhem as melhorias e detectem problemas com uma precisão sem precedentes. Essas tecnologias integram dados obtidos por satélites, drones e mapas de solo, para guiar a aplicação direcionada de produtos de proteção da safra e detectar doenças e pragas em seus estágios iniciais.

A análise do desempenho preditivo está revolucionando a gestão de propriedades rurais, ao aproveitar dados históricos por meio de inteligência artificial e aprendizado de máquina. Isso permite aos agricultores prever condições e resultados futuros, transformando práticas agrícolas reativas em estratégias proativas de gestão agrícola.

De acordo com um artigo recenteLink externo da revista Forbes, a IA na agricultura deverá passar de 1,7 bilhão de dólares em 2023 para 4,7 bilhões de dólares em 2028. Além disso, um artigoLink externo publicado pelo Fórum Econômico Mundial aponta que a agricultura digital poderia aumentar o PIB agrícola de países de baixa e média renda em mais de 450 bilhões de dólares, ou 28%, ao ano.

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Os robôs e o futuro da agricultura

Este conteúdo foi publicado em A Suíça está no centro de avanços que viram drones equipados com câmeras capazes de detectar doenças ou estimar com precisão as necessidades nutricionais de grandes plantações; alface hidropônica cultivada em um ambiente sem solo, alimentado por uma nuvem de 100% de nutrientes orgânicos; e mesmo robôs movidos a energia solar que podem remover as…

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O apoio político é crucial

A transição para práticas regenerativas traz benefícios significativos, mas vem acompanhada de desafios. Ela exige novos conhecimentos, equipamentos e tempo para que os ecossistemas do solo se reequilibrem. Ao reconhecer o poder do digital e da IA, nosso setor está aproveitando ativamente essas tecnologias não apenas para apoiar os agricultores no campo, mas também para acelerar a inovação em soluções agrícolas.

No entanto, para que a agricultura regenerativa, as tecnologias digitais e a IA esgotem todo seu potencial, precisamos de políticas de apoio nos níveis local, nacional e internacional.

As pessoas ou organismos que elaboram as políticas, as empresas e os órgãos governamentais precisam colaborar para atender às exigências financeiras e tecnológicas dos proprietários rurais. A implementação de programas de incentivo para compensar os custos de transição pode reduzir significativamente as barreiras financeiras à adoção de métodos regenerativos. O aumento dos fundos voltados para a pesquisa é também essencial para quantificar os benefícios e aperfeiçoar as melhores práticas, garantindo que os agricultores tenham acesso às técnicas mais eficazes e cientificamente comprovadas.

O desenvolvimento de mercados de carbono, que recompensam os agricultores pela captura de carbono, poderia proporcionar incentivos econômicos adicionais voltados para práticas regenerativas. Ampliar os serviços de educação e extensão é fundamental para disseminar o conhecimento e apoiar os agricultores durante a transição para novos métodos.

Por fim, a criação de estruturas regulatórias, que incentivem a inovação nesse contexto, pode ajudar a acelerar o desenvolvimento e a adoção de tecnologias e práticas regenerativas, incluindo IA e outras ferramentas digitais de apoio à agricultura sustentável. As considerações políticas e regulatórias por si só não são, contudo, suficientes. Precisamos que todos os “players” no ecossistema complexo em torno dos agricultores criem incentivos sólidos para a adoção de tecnologia e práticas regenerativas de forma significativa. Isso inclui especialmente varejistas, parceiros da cadeia de valor e agentes financeiros, como fornecedores de soluções de microfinanciamento, entre outros. Nossa colaboração recentemente anunciada com o McDonald’s EUA e a Lopez Foods, para ajudar a produzirLink externo carne bovina de forma mais sustentável nos Estados Unidos, é um bom exemplo dessa abordagem mais ampla.

O caminho a ser seguido

À medida que enfrentamos o duplo desafio de nos adaptarmos às mudanças climáticas e alimentarmos uma população crescente, a combinação de práticas agrícolas regenerativas, IA e tecnologias digitais se torna um componente crucial em nosso kit de ferramentas de uma agricultura sustentável. Essa sinergia capacita os agricultores a serem participantes ativos no enfrentamento das mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, aumenta sua capacidade de produzir alimentos de forma mais eficiente e sustentável.

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Promovemos essa abordagem com o pleno entendimento de que ela pode, em última análise, reduzir a demanda por pesticidas. O princípio que nos guia não é o da venda de produtos, mas o do desenvolvimento de soluções que ajudem os agricultores a produzir, de forma sustentável, alimentos saudáveis para a sociedade.

À medida que essas práticas e tecnologias continuam a evoluir, prevemos avanços ainda maiores em termos de eficiência e sustentabilidade. No trabalho conjunto – entre agricultores, empresariado, governos e consumidores – podemos criar um sistema alimentar que nutra as pessoas e o planeta para as gerações que estão por vir. Essa mudança é mais do que uma adaptação. Trata-se de moldar de maneira pró-ativa um futuro sustentável para a agricultura.

Edição: Virginie Mangin/Anand Chandrasekhar

Adaptação: Soraia Vilela

Artigo opinativo publicado originalmente no site do Fórum Econômico Mundial (WEF)Link externo.

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