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Um país tão inovador quanto parece

Um homem ao lado de um robô
Marc Pollefeys, professor da Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH) posando ao lado de Spot, o robô de quatro patas da Boston Dynamics, durante o congresso ARCHE 2023. Keystone / Salvatore Di Nolfi

A Suíça está sempre no topo dos rankings dos países mais inovadores, superando potências tecnológicas como os Estados Unidos e a China. O que está por trás de seu sucesso?

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Ao digitar “país mais inovador” no Google ou Bing, a Suíça inevitavelmente aparece. Pelo 14º ano consecutivo, a Suíça detém o título de país mais inovador, de acordo com o Índice Global de InovaçãoLink externo, publicado no final de setembro pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), sediada em Genebra. O índice, iniciado em 2007, é elaborado pela escola de administração de empresas INSEAD, sediada em Paris, e tornou-se um cartão de visita para países com alta pontuação, como a Suíça.

O Índice Global de Inovação usa a definição de inovação proposta pelo Manual de Oslo, desenvolvido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Atualizado em 2018, ele define inovação como um produto ou processo novo ou aprimorado (ou uma combinação deles), que difere significativamente dos produtos ou processos anteriores e foi disponibilizado a potenciais usuários.

“A Suíça tem pontuação elevada em muitos indicadores, na verdade, em quase todos”, disse Sacha Wunsch-Vincent, que lidera o trabalho do GII no departamento de economia e análise de dados da OMPI. “Com base nos dados, em nossa experiência com o sistema de inovação suíço e nos desenvolvimentos recentes, é improvável que o desempenho da inovação suíça diminua tão cedo.”

A Suíça não se destaca apenas no Índice Global de Inovação. Ela também lidera o Índice Europeu de Inovação (European Innovation ScorecardLink externo) de 2024.

A Suíça é, sem dúvida, um centro de pesquisa com trabalhadores altamente qualificados e uma manufatura avançada, especialmente em áreas como biotecnologia, robótica e engenharia. A grande proporçãoLink externo de pessoas com doutorado (3%) é uma prova disso.

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Mas o país dos Alpes é realmente mais inovador do que gigantes tecnológicos como os Estados Unidos ou a China, como o índice global sugere? E como ela se compara a países menores, como Israel, frequentemente chamado de “nação start-up”, ou a Estônia, conhecida como o país mais digital do mundo?

Analisamos mais a fundo o índice para entender por que a Suíça continua a superar seus pares.

Competente em todos os aspectos

O Índice Global de Inovação avalia 133 países em 80 indicadores, divididos em duas partes. A primeira parte são os insumos: fatores que impulsionam a inovação, como o ambiente regulatório, gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), o número de graduados em ciência e engenharia e a quantidade de negócios de capital de risco.

A segunda parte são os resultados, como o número de patentes, o valor das chamadas “empresas unicórnio” (empresas avaliadas em mais de um bilhão de dólares) e resultados criativos, como o número de filmes e aplicativos móveis criados.

A Suíça, como as outras três principais economias do GII (Suécia e EUA), apresenta um desempenho equilibrado, com pontuações altas em insumos e resultados derivados da inovação. Ela tem um bom desempenho, mesmo que não seja a líder em todos os indicadores.

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Isso contrasta com países como Israel e Estônia, que lideram em indicadores como avaliação de empresas-unicórnio e capital de risco recebido, mas pontuam significativamente mais baixo que a Suíça na maioria das outras dimensões.

Grandes países como China e EUA destacam-se pela diversificação da indústria ou pelo tamanho do mercado doméstico, mas a Suíça os supera em muitos indicadores regulatórios.

“Porto seguro” para empresas estrangeiras

Um olhar mais atento aos indicadores mostra que a Suíça se destaca em pesquisa. O país abriga algumas das melhores universidades de pesquisa da Europa e investe mais do que a média da OCDE em P&D como parcela do PIB. Em 2023, a Suíça gastou 24,6 bilhões de francos (27,2 bilhões de dólares) em pesquisa e desenvolvimento, o que equivale a cerca de 3,3% do PIB. Em comparação, a China aumentou drasticamente seu investimento em P&D para 458 bilhões de dólares (400 bilhões de francos) no ano passado, passando de 1% do PIB em 2000 para 2,5%.

A Suíça é particularmente eficiente em conectar academia e indústria, superando todos os outros países na colaboração em pesquisa universidade-indústria.

A agência de promoção da inovação apoiada pelo governo, InnoSuisse, oferece bolsas para projetos liderados pela indústria em parceria com universidades. “Isso funciona porque as universidades suíças têm conhecimento de ponta em tecnologias que atendem às necessidades das empresas locais”, disse Martin Wörter, professor de economia da inovação na Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH).

Cerca de dois terços dos gastos com P&D na Suíça vêm da indústria, o que é comum na Europa. O diferencial suíço, segundo Wunsch-Vincent, é que uma parcela significativa desses gastos vem de empresas estrangeiras. Além das grandes empresas suíças, como Nestlé, Roche e Novartis, muitas multinacionais, como Google e Philip Morris International, mantêm centros de pesquisa na Suíça.

“É muito raro ver P&D em larga escala conduzido por entidades estrangeiras em outro país”, comentou Wunsch-Vincent. “A Suíça é como um porto seguro, com um ecossistema de inovação acolhedor e de alta confiança.” A combinação de baixas taxas de impostos e uma atitude liberal em relação à regulamentação da indústria tem tornado o país atraente para multinacionais há muito tempo.

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Patentes e produção

A primeira posição da Suíça também se deve ao seu sólido sistema de propriedade intelectual. Há pelo menos cinco indicadores relacionados a patentes ou marcas registradas no índice.

No ano passado, a Suíça apresentou mais pedidos de patentes internacionais per capita e como parcela do PIB do que qualquer outro país, principalmente devido à indústria biofarmacêutica suíça, que depende fortemente de patentes de medicamentos. Cerca de 80% das exportações suíçasLink externo estão baseadas em direitos de propriedade intelectual.

O setor de manufatura e exportação da Suíça é dominado por áreas de alta tecnologia, como máquinas de precisão, dispositivos médicos e biotecnologia, o que contribui para sua alta classificação.

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Embora os EUA e a China superem a Suíça em número e tamanho de empresas unicórnio, pelo menos 500 novas startups são fundadas na Suíça a cada ano. Algumas alcançam o status de unicórnio, mas nenhuma tem a avaliação de gigantes como a SpaceX, dos EUA, ou a Bytedance, da China. A Sonarsource, uma desenvolvedora de software de Genebra, é o maior unicórnio suíço, avaliado em cinco bilhões.

Muitas startups suíças atuam em setores que frequentemente são adquiridos por empresas estrangeiras, para expandir além do pequeno mercado suíço.

País pequeno que produz tecnologia

A Suíça também é beneficiada por seu tamanho e sofisticação regulatória. Apenas Cingapura costuma se classificar mais alto em estabilidade política, qualidade regulatória e eficácia governamental. O índice favorece países prontos para inovação, com notas altas para conectividade de banda larga, acesso à educação e geração de eletricidade.

Em um contexto de políticas protecionistas crescentes na China, Brasil e EUA, a Suíça se destaca em seus indicadores comerciais. As exportações representaram 70% do PIB suíço em 2021, muito acima da média de 50% da União Europeia.

“Somos um país muito pequeno que produz muita tecnologia, patentes e inovações”, disse Wörter. “Para sermos bem-sucedidos comercialmente, precisamos de acesso aos mercados internacionais.”

A Suíça também é beneficiada por sua dimensão reduzida. Com uma população de nove milhões de habitantes, ela quase se equipara a Seul, a maior cidade da Coreia do Sul. O índice costuma listar os países em relação à sua população, o que explica por que a Suíça é líder em produções de filmes de longa-metragem per capita.

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O que o índice não mede

Medir e comparar a maturidade da inovação entre países é um desafio. O índice reflete o nível de inovação em um dado momento, mas não necessariamente o progresso ou a velocidade da inovação. Arábia Saudita, Catar, Brasil, Indonésia, Maurício e Paquistão foram os países que mais subiram no ranking nos últimos cinco anos, mas ainda pontuam abaixo da Suíça.

Alguns indicadores, como patentes, também têm limitações como medida de inovação. Patentes representam invenções, ou seja, a criação de algo novo, mas não o valor gerado, como disse Yann Rousselot-Pailley, chefe de inovação e tecnologia emergente na KPMG na Arábia Saudita.

“Inovação é transformar uma invenção em receita ou melhorar a qualidade de vida dos cidadãos”, explicou Rousselot-Pailley. Ele sugere que indicadores que capturam a comercialização de invenções são melhores para medir inovação, embora mesmo critérios financeiros, como vendas ou avaliação de empresas, não capturem o impacto social.

A forma de inovar está mudando rapidamente, o que dificulta a comparação entre países usando certos indicadores. Muitos empreendedores de tecnologia valorizam a inovação aberta e preferem segredos comerciais e velocidade de comercialização a patentes.

Países como China e Arábia Saudita desafiam os caminhos ocidentais de inovação centrados no modelo bottom-up e impulsionados por capital de risco. Nesses países, o governo desempenha um papel maior, não apenas permitindo, mas impulsionando a inovação.

Os maiores investidores corporativos em P&D da China, como Huawei, Tencent e Alibaba, foram fundados nos últimos 40 anos. Já os principais gastadores em P&D da Suíça, como Roche, Novartis e Nestlé, existem há mais de um século. O investimento em P&D suíço também é mais concentrado em poucas empresas, enquanto, em países maiores, ele se espalha por milhares de empresas.

“É impossível comparar a Suíça e a China”, disse Mark Green, professor de inovação na escola de administração IMD, sediada em Hong Kong. Não é apenas uma questão de tamanho, mas “eles têm sistemas de inovação muito diferentes em objetivos, governança e tipos de empresas”.

Edição: Virginie Mangin/gw

Adaptação: DvSperling

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