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Novo estudo reforça ideia de que neandertais enterravam seus mortos

Reconstrução do homem de Neandertal na exposição no Museu do Homem de Paris, em março de 2018 afp_tickers

Morto há 41.000 anos, um menino neandertal foi enterrado por seus semelhantes no importante sítio pré-histórico de La Ferrassie, no sudoeste da França – revelou nesta quarta-feira (9) um estudo que reforça a tese da prática de enterros anteriores ao Homo sapiens.

Apesar de terem encontrado dezenas de esqueletos de mulheres e homens neandertais na Europa e Ásia com sinais claros de terem sido enterrados, os arqueólogos mantêm um certo ceticismo quanto a esta prática.

Além disso, ela entra em contradição com a imagem primitiva que os neandertais carregam há muito tempo.

Este novo estudo publicado na revista Scientific Reports, realizado por uma equipe internacional multidisciplinar, poderá resolver definitivamente essa questão.

“É uma história de caçador de tesouros!”, conta à AFP o paleontólogo Antoine Balzeau, do Centro Nacional para a Pesquisa Científica francês (CNRS), que dirige o estudo com Asier Gómez Olivencia, da Universidade do País Basco (Espanha).

Há pouco tempo, nas coleções do Museu do Homem de Paris onde trabalha, Balzeau encontrou uma caixa com os restos ósseos deste menino de dois anos, escavados em 1973 em um refúgio rochoso de La Ferrassie.

O esqueleto deste bebê foi identificado já nos anos 1970, mas seu contexto geológico não foi estudado. A caixa, onde seus restos mortais se encontravam, também continha o misterioso dente de um adulto, sem nenhuma descrição mas com um número.

Com essa pista, o pesquisador foi ao Museu Nacional de Arqueologia de Saint-Germain em Laye (oeste de Paris) onde se armazenam os restos das antigas escavações.

“Havia dezenas de cadernos, caixas, relatórios… Abri o primeiro e em um minuto encontrei a descrição do dente” e sua origem exata.

Sua equipe revisou, então, todo material que havia recolhido da caixa de escavação onde encontrou o corpo do menino e o dente e retirou 47 novos corpos humanos que não haviam sido identificados.

Para entender melhor o que tinham em mãos, os cientistas decidiram voltar a La Ferrassie. A camada de sedimentos onde encontraram o menino tinha 60.000 anos e o corpo do bebê, 41.000, “o que demonstra que cavaram para colocá-lo ali e cobriram-no depois”, aponta Antoine Balzeau.

– “Análise geológica” –

Depois de encontrar sete corpos diferentes, as hipóteses de um enterro em La Ferrassie eram plausíveis, mas “não passavam de meras especulações, na ausência de uma análise geológica que comprovasse que o que havia ali era uma sepultura”, explica o cientista.

Graças a um conjunto de técnicas modernas, foi possível demonstrar “pela primeira vez, de forma clara, que estamos diante de um enterro”, acrescentou.

“Muitos arqueólogos se opõem ainda hoje à ideia de que os neandertais enterravam seus mortos, porque não tínhamos a capacidade de comprovar isso. Mas também porque existe um julgamento de valor com o Homo sapiens”, que habitou junto com os neandertais, afirma este pesquisador.

“Pensamos que o Homo sapiens era superior ao Neandertal e, a partir deste preconceito, estudamos a história, quando o que tem que ser feito é começar pelos dados arqueológicos”, continua.

Há anos, os cientistas demonstram como os neandertais, que viveram entre 400.000 e 40.000 anos antes de nossa era, formavam uma espécie complexa com práticas modernas como a ornamentação dos corpos, ou a fabricação de ferramentas sofisticadas.

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