O Jardim das Geleiras de Lucerna
O Gletschergarten de Lucerna é muito mais que um museu : é uma viagem no tempo, dos alvores da Terra a nossos dias.
Painéis didáticos, filmes, descobertas e reconstruções permitem ao visitante percorrer a história de nosso planeta, do caos inicial às últimas glaciações.
É difícil acreditar que faz apenas 20 mil anos a Suíça – e o resto do continente europeu – estivesse coberta de uma camada de gelo espesso de quase um quilômetro.
É ainda mais inverossímil a idéia de que 20 milhões de anos antes, a atual “doce” Helvécia se assemelhasse mais a uma ilha do Caribe que a um país alpino.
Mas é mesmo assim. Não acredita? Para tirar a dúvida visite, então, o Jardim das Geleiras, de Lucerna…
Uma descoberta extraordinária
Era dia 2 de novembro de 1872, quando, durante os trabalhos de construção de uma adega, Joseph Wilhelm Amrein-Troller, comerciante de vinho de Lucerna, descobriu algo extraordinário: uma marmita-de-gigante que remontava à era glacial.
Essa espécie de cratera em espiral – de 8 metros de diâmetro e quase 10 de profundidade – que penetra no terreno e parece querer baixar até às vísceras da Terra, é resultado do lento desgaste da camada de gelo que por quase 200 mil anos recobriu a tranqüila cidade da Suíça Central.
A ação turbinosa das águas de degelo, mescladas à areia e ao cascalho poliu a rocha subjacente ao gelo formando primeiro um buraco que, com o passar dos séculos, se transformou numa voragem.
Não o chame de museu…
A sensacional descoberta mudou os planos do empreendedor comerciante de Lucerna: nos arredores da casa não surgirá uma adega para vinho, mas um parque temático dedicado às geleiras.
O Gletschergarten (jardim de geleiras) foi inaugurado em 1° de maio de 1873. As escavações realizadas na área circunvizinha ao achado prosseguiram por mais três anos. Outras marmitas-de-gigante, embora de dimensões inferiores, foram achadas na vizinhança.
Hoje o Jardim das Geleiras fica aberto 364 dias por ano. Desde que foi inaugurado, mais de 12 milhões de pessoas o visitaram. “Todos os anos acolhemos cerca de 130 mil visitantes”, disse Peter Wick, diretor do museu a swissinfo.
“Nosso público é composto principalmente de famílias com filhos pequenos. Mais de um terço dos visitantes vem do exterior”, assinala Peter Wick.
As geleiras, uma fonte de vida
Nos últimos anos ouvimos freqüentemente falar de efeito estufa, de aquecimento do planeta, de buraco na camada de ozônio e de derretimento das geleiras.
De 1850 para cá, as geleiras suíças diminuíram dramaticamente com a superfície das mesmas reduzindo-se de um terço: passaram de 1.800 a 1.300 km2.
Este fenômeno não se limita, infelizmente, só à Suíça, mas atinge todo o planeta. A sorte é que há uma exceção, a Antártida, o continente gelado, que, ao contrário, se expande.
As geleiras – espessas massas de neve compacta e cristalizada – recobrem cerca de 10% da superfície terrestre e representam a maior reserva de água doce do mundo.
No futuro as coisas não devem melhorar. Ao contrário: as temperaturas se elevam, aumentarão as precipitações atmosféricas e as catástrofes naturais.
Onde a história encontra a modernidade
Se as geleiras suíças encolhem, o Gletschergarten se expandem. As ameaças ambientais claramente fortaleceram o interesse pelo “jardim das geleiras” onde não há apenas marmitas-de-gigante para ver. Na casa que numa época foi residência de seu fundador, a história antiga vai, hoje, de braços dados com a tecnologia moderna.
Se de um lado foram, de fato, encontrados pedras e fósseis no correr dos anos na margem do Lago dos Quatro Cantões (que banha Lucerna) e no resto da Suíça, de outro, há painéis didáticos, filmes e guias interativos.
Em GeoWorld, por exemplo, com um simples clique do mouse se pode obter imagens e informações sobre milhares de geleiras, suíças e estrangeiras. Uma das coisas que mais impressionam no Gletschergarten é seguramente o Jahrenmillionen-Show (espetáculo dos milênios): representação multimídia que percorre, por período de 20 milhões de ano, as transformações da cidade de Lucerna, de oásis tropical a reino de gelo.
E, para encerrar, uma curiosidade: à saída do parque se pode admirar o famoso Löwendenkmal – estátua de um leão esculpido na rocha – que é um monumento em honra dos soldados suíços mortos em 1792 em Paris, quando defendiam o rei da França da ira dos revolucionários (da Revolução Francesa).
O escritor globe-trotter norte-americano Mark Twain definiu o monumento como “o mais triste e comovente pedaço de rocha do mundo”.
swissinfo, Michel de Marchi, Lucerna
Em conseqüência do aquecimento climático, de 1850 para cá a superfície das geleiras suíças diminuiu de um terço, passando de 1.800 a 1.300 km2.
Considerando todo o arco alpino, a retração das geleiras foi de cerca de dois terços.
Segundo alguns estudiosos, por volta de 2025 as geleiras alpinas estarão quase completamente desaparecidas e o pouco que restará não vai agüentar até o fim do século XXI.
O Gletschergarten de Lucerna não é um simples museu. É uma representação – em parte ao ar livre – dedicada a geleiras, aos fenômenos naturais e afins.
O Jardim das geleiras foi inaugurado em 1° de maio de 1873, depois da descoberta, no ano precedente, de uma marmita-de-gigante que remontava à última glaciação.
O “museu” fica aberto 364 dias por ano. De sua inauguração até hoje, registrou mais de 12 milhões de visitas.
Desde 1930 o Gletschergarten é gerenciado pela Fundação Amrein-Troller.
O museu se financia com os ingressos dos visitantes, a contribuição dos membros da Fundação e doações privadas.
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