Otan pode chegar a acordo sobre gastos satisfatório para Trump?

Os Estados Unidos exigem que os países da Otan destinem 5% de seu PIB para a defesa, um nível inalcançável para a maioria, fazendo com o que o debate se concentre em qual compromisso poderia ser adotado para satisfazer o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A aliança transatlântica tem na agenda uma cúpula em Haia, em junho, e busca um acordo que possa satisfazer o magnata republicano.
– O que Washington quer? –
Há muito tempo, Trump acusa os aliados europeus de considerarem garantida a proteção dos EUA e, portanto, negligenciarem seus gastos com defesa.
Ele pressiona para que este nível chegue a 5% de cada PIB e ameaçou não defender os países que, segundo ele, estão se esquivando de aumentar seus desembolsos.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, disse aos seus homólogos da Otan na quinta-feira que os membros devem chegar a um acordo por um “caminho realista” para se comprometerem com 5%.
Rubio admitiu que “ninguém espera” que esse nível seja alcançado em “um ou dois anos”, mas exigiu que seja adotado um plano para atingir essa meta.
– Qual o nível atual? –
Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, os países da Otan decidiram aumentar seus investimentos em defesa, sobretudo após os EUA sugerirem a possibilidade de reduzir seu compromisso com a aliança militar.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, disse que os anúncios europeus representam “provavelmente o maior aumento nos gastos com defesa (…) desde o fim da Guerra Fria. Mas ainda precisamos de mais”.
Segundo ele, para atingir o objetivo de combater o poderio da Rússia, os membros da aliança precisam dedicar muito mais do que 3% de seu PIB à defesa.
Aqueles que se sentem mais ameaçados pela Rússia assumiram a liderança, com a Polônia e os países bálticos assegurando que, em breve, atenderão à demanda de Washington.
A Alemanha já anunciou um enorme plano de gastos militares. Mas outros países, como Espanha, Itália e Canadá, ainda estão abaixo da meta atual de 2%.
Os Estados Unidos, o membro que mais investe neste quesito, destinam 3,4% do seu PIB em defesa no ano passado.
– Como chegar aos 5%? –
Chegar aos 5% é uma tarefa gigantesca para países que já enfrentam dificuldades financeiras. Significaria um aumento de mais de um trilhão de dólares por ano em toda a aliança, segundo uma estimativa do Peterson Institute for International Economics.
Para o tamanho de seu PIB, os EUA teriam que adicionar cerca de US$ 400 bilhões (R$ 2,2 trilhões na cotação atual).
“Para alguns países, como a Polônia ou a Grécia, essa é uma meta alcançável, mesmo diante das ameaças percebidas”, disse Ian Lesser, especialista do think tank alemão Marshall Fund.
Para outros membros, “a meta provavelmente está fora de alcance, considerando o estado de espírito da sociedade e outras necessidades de gastos”, acrescentou.
Uma forma de se aproximar deste número pode ser expandir a definição do que conta como gasto militar, incluindo itens como segurança de fronteira, estradas e segurança cibernética. Mas Rutte já descartou essa possibilidade.
Outro possível obstáculo pode surgir se a guerra comercial desencadeada por Trump atingir a economia europeia.
Chegar a 5% “no curto prazo é inviável”, afirmou o primeiro-ministro belga Bart de Wever, especialmente “depois de ser humilhado e insultado o tempo todo”.
– Compromisso possível? –
Até o momento, a maioria dos países da Otan admite a necessidade de aumentar os gastos, mas evita definir até aonde estão dispostos a chegar.
“Há um consenso de que devemos fazer mais e de que trabalharemos na cúpula em Haia e talvez estabeleçamos uma nova meta”, disse o ministro das Relações Exteriores da Noruega, Espen Barth Eide.
Em maio, espera-se que a Otan comece a discutir a posição a ser tomada antes da cúpula no mesmo mês e, de acordo com vários diplomatas, os membros estão se esforçando para ser criativos e encontrar um equilíbrio que satisfaça todas as partes.
Outra possibilidade seria definir um valor mais realista no curto prazo, com 5% como meta mais distante.
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