Parceiros comerciais dos EUA pedem diálogo após ofensiva protecionista de Trump

Os parceiros comerciais dos Estados Unidos pediram diálogo nesta quinta-feira (3) após a ofensiva tarifária do presidente americano, Donald Trump, que provocou quedas nas bolsas de valores ao redor do mundo.
O magnata republicano apresentou as tarifas como uma “declaração de independência econômica” para impulsionar uma “era de ouro” nos Estados Unidos, mas os mercados financeiros sentiram o impacto.
As perdas alcançaram os bilhões de dólares, com a queda dos índices Nasdaq (-5,97%) e S&P 500 (-4,84%). Os investidores evitaram empresas dependentes das importações asiáticas, como o grupo têxtil GAP (-20,38%) e a gigante tecnológica Apple (-9,25%).
Os mercados asiáticos e europeus também recuaram (-2,77% em Tóquio, -3,31% em Paris).
Trump minimizou o colapso: “Os mercados terão um boom” e “o país terá um boom”, previu.
Por enquanto, nenhum país aumentou a tensão: Pequim optou por “manter a comunicação” com Washington, mas pediu que os impostos sejam “imediatamente” anulados e anunciou “contramedidas”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que tomará “todas as medidas cabíveis”.
A França defende uma resposta gradual, a Itália insiste que o objetivo deve ser a “abolição” das tarifas e a Espanha denunciou um “protecionismo do século XIX”.
O Japão considerou que os Estados Unidos podem ter violado as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e seu acordo bilateral.
O comissário europeu de Comércio, Maros Sefcovic, conversará com seus pares americanos na sexta-feira.
O Lesoto, país mais punido com tarifas de 50%, também pretende enviar uma delegação aos Estados Unidos para defender sua causa.
-“Mais forte”-
Mas Trump está convencido de que fez a coisa certa para seu país e acredita que sairá “mais forte”.
Ele manteve, portanto, o tom da quarta-feira: “Durante décadas, nosso país foi saqueado, violado e devastado por nações próximas e distantes, aliadas e inimigas, por igual”, disse no jardim da Casa Branca.
A ofensiva protecionista consiste em uma tarifa aduaneira mínima de 10% para todas as importações, e sobretaxas seletivas para alguns países.
A conta sai cara para a China – cujos produtos serão taxados em 34%, que se somarão aos 20% impostos a Pequim em fevereiro – e para a União Europeia, que terá um adicional de 20%. As taxas serão de 24% para o Japão, 26% para a Índia, 31% para a Suíça e 46% para o Vietnã.
Diversas economias latino-americanas estão na lista da Casa Branca: Brasil, Colômbia, Argentina, Chile, Peru, Costa Rica, República Dominicana, Equador, Guatemala, Honduras e El Salvador. No entanto, a tarifa aplicada a esses países será a mínima, de 10%. A exceção é a Nicarágua, que será taxada em 18%.
O Reino Unido, que está negociando um acordo comercial bilateral, saiu relativamente ileso, afetado apenas pela tarifa universal de 10%.
A tarifa universal de 10% entrará em vigor às 4h01 GMT (1h01 de Brasília) do próximo dia 5, e as mais elevadas em 9 de abril no mesmo horário.
Analistas da Oxford Economics não descartam uma desaceleração econômica mundial.
“As tarifas de Trump são as mais caras e masoquistas que os Estados Unidos aplicaram em décadas”, criticou Larry Summers, ex-secretário do Tesouro, na rede social X.
As novas tarifas poderiam reduzir o comércio mundial de mercadorias em “cerca de 1%” em termos de volume este ano, declarou a diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala.
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, alertou que as tarifas “representam claramente um risco importante para as perspectivas globais em um momento de crescimento muito lento”.
– E os vizinhos? –
Alguns produtos, como cobre, produtos farmacêuticos, semicondutores, madeira, ouro, energia e “certos minerais” não estão sujeitos às tarifas.
Cuba, Belarus, Coreia do Norte e Rússia também não estão na lista porque estão sujeitos a sanções que restringem as relações comerciais.
Nem México, nem Canadá, os parceiros dos Estados Unidos no tratado de livre comércio da América do Norte (T-MEC), estão na lista. A Casa Branca anunciou que seus vizinhos “continuam sujeitos” aos impostos exigidos por Washington para incentivá-los a combater a imigração ilegal e o tráfico de fentanil.
Isso implica tarifas de 25% (10% para hidrocarbonetos canadenses), exceto para produtos contemplados pelo T-MEC.
Um relativo alívio para o México. “Isso é bom para o país”, disse a presidente Claudia Sheinbaum.
Mas nenhum deles está imune às tarifas sobre carros importados que entraram em vigor nesta quinta-feira: +25%.
De certa forma, o México mais uma vez será beneficiado, assim como o Canadá, países onde as tarifas serão aplicadas apenas a peças individuais não originárias dos Estados Unidos.
Há outras tarifas em vigor que ninguém pode ignorar: sobre o aço e o alumínio.
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