Descortesia diplomática
Tirando a Copa América, o ex-presidente Jair Bolsonaro continuou a chamar a atenção das manchetes suíças essa semana: ao caso de espionagem contra opositores durante sua gestão juntou-se o encontro com o presidente argentino Javier Milei, esnobando a cúpula do Mercosul no Paraguai.
De 6 a 12 de julho de 2024, vasculhamos a imprensa suíça para dar uma visão geral das notícias mais importantes que tiveram Brasil, Portugal ou África lusófona como tema.
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Milei esnoba Mercosul e vai se encontrar com Bolsonaro
Enquanto vários jornais suíços replicavam as acusações contra Bolsonaro a respeito da venda de joias da Presidência, a novidade ficou por conta da visita anti-diplomática do presidente argentino Javier Milei à CPAC, conferência de grupos de extrema-direita da qual Bolsonaro é uma das estrelas. Assim relatou o diário zuriquenho NZZ:
“O presidente ultraliberal da Argentina, Javier Milei, visitou o vizinho Brasil – e se reuniu com seu antecessor de direita, Jair Bolsonaro, em vez do presidente de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva. Milei e Bolsonaro participaram da conferência de direita CPAC, na cidade litorânea de Balneário Camboriú, no fim de semana. Em discurso, Milei criticou o socialismo e retratou Bolsonaro como vítima de perseguição legal.
Há poucos dias, a polícia federal brasileira acusou o ex-chefe de Estado de vender joias e relógios que havia recebido como presentes oficiais durante seu mandato (2019-2022) em benefício próprio. Várias investigações estão em andamento contra ele. Entre outras coisas, a polícia também está acusando Bolsonaro de ajudar a planejar um golpe para permanecer no poder após sua derrota eleitoral em outubro de 2022. Ele está proibido de ocupar cargos públicos até 2030.
O Brasil é o parceiro comercial mais importante da Argentina, onde Milei está no poder há sete meses. Não é a primeira vez desde então que o autoproclamado “anarcocapitalista” se reúne com amigos políticos em uma viagem ao exterior e não com o chefe de governo ou de estado em exercício. Em maio, ele causou um escândalo diplomático ao chamar a esposa do primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez de corrupta em um comício organizado pelo partido populista de direita Vox, na Espanha.
Em fevereiro, Milei se encontrou com o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, na conferência CPAC, perto de Washington. A “Conferência de Ação Política Conservadora” (CPAC) nos EUA é agora principalmente uma reunião de apoiadores de Trump e nacionalistas de direita. Após a participação de Milei na filial brasileira da CPAC, uma cúpula da aliança econômica sul-americana Mercosul está sendo realizada hoje no vizinho Paraguai. Ele não pretende comparecer.
Fonte: NZZLink externo, 08.07.2024 (em alemão)
Depois das joias, arapongadas
O escândalo de suposta espionagem de políticos e jornalistas durante o governo do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro ganhou força na quinta-feira (11.07), com uma operação policial contra suspeitos e a revelação das identidades de pessoas sob vigilância ilegal.
No poder de 2019 a 2022 e ainda líder incontestável da direita e da extrema direita, Bolsonaro não é alvo direto dessa investigação, ao contrário de seu filho Carlos, suspeito de ter coordenado um “gabinete do ódio” ativo nas redes sociais na época.
Mas é uma preocupação adicional para o ex-chefe de Estado, que é alvo de uma série de investigações e denunciou “perseguição” por parte do governo do presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva.
A revelação dos nomes das pessoas que supostamente foram vítimas de espionagem ilegal está dando a esse caso cada vez mais a aparência de um escândalo de Estado.
Elas incluem o influente presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (direita), e seu antecessor, Rodrigo Maia (centro-direita), de acordo com um relatório de investigação tornado público na quinta-feira pelo juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que está encarregado do caso.
Esse poderoso magistrado, uma bête noire do clã Bolsonaro, é citado no relatório como uma das pessoas espionadas, assim como três outros membros do tribunal, incluindo seu atual presidente, Luis Roberto Barroso.
A lista também inclui o ex-governador de São Paulo, João Doria, e jornalistas conhecidos, como Mônica Bergamo, colunista política do jornal Folha de S. Paulo, e Vera Magalhães, do jornal O Globo.
Fonte: WatsonLink externo, 11.07.2024 (em francês)
Indústria suíça de café se une pelos pequenos produtores
Reportagem de nosso colega da SWI swissinfo.ch repercutiu em outros veículos suíços, como a rede de TV de língua francesa RTS.
Uma aliança diversificada de comerciantes de café, torrefadores, agricultores, acadêmicos, ONGs e representantes do setor público acaba de ser formada. Seu objetivo é promover o desenvolvimento sustentável em um setor cada vez mais importante.
A pequena Suíça é um Golias do café. Os mais de 40 membros da Swiss Coffee Traders Association (SCTA) são responsáveis por mais da metade de todo o café verde (grãos não torrados) comprado e vendido no mundo. A Suíça também é o principal exportador mundial de grãos de café torrados em termos de valor (mais de CHF 3 bilhões até 2023), principalmente por meio da Nestlé, que torra todo o seu café aqui.
Mas as nuvens estão se formando no horizonte, colocando em questão o papel da Suíça como líder de mercado. O setor cafeeiro suíço deve se alinhar com as regulamentações mais rigorosas de fornecimento impostas pela União Europeia (UE). Ele também deve se preocupar com a situação dos pequenos produtores em dificuldade que não conseguem viver do café.
Outro problema para o setor é garantir aos agricultores uma renda decente. As conclusões iniciais de um relatório da Plataforma Global do Café publicado em 2023 mostram que os pequenos cafeicultores no Brasil – o maior produtor mundial – estão lutando para sobreviver. Aqueles com plantações de menos de cinco hectares não conseguem viver apenas do café.
Fonte: RTSLink externo, 11.07.2024 (em francês), e swissinfo.ch (em inglês)
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