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Floresta amazônica diminuiu drasticamente

Incêndio na floresta
Monitoramento mostra que 99% dos incêndios são por ação humana, segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. EPA/JOEDSON ALVES

Hackers, crises econômicas e desastres ambientais geram tensão global. A África está estagnada, a Amazônia desmatada e os BRICS acumulam ouro. No Brasil, a reforma agrária está parada e polêmicas envolvem a plataforma "X", do bilionário Elon Musk. Artigos publicados ao longo da semana mostram um mundo em transformação, com desafios interligados.

De 21 a 27 de setembro de 2024, vasculhamos a imprensa suíça para dar uma visão geral das notícias mais importantes relacionadas ao Brasil, Portugal ou África lusófona.

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Por que a economia da África vive em permanente crise?

Em artigo opinativo escrito pelo correspondente Wolfgang Drechsler e publicado no jornal econômico suíço Finanz und Wirtschaft, o autor analisa a persistente falta de prosperidade na África 65 anos após sua independência, atribuindo o problema a um modelo de desenvolvimento equivocado. Drechsler destaca que, apesar dos esforços globais de combate à pobreza, a África permanece imersa em miséria, com crescimento econômico insuficiente e agravado por uma população em rápido aumento. O PIB da região subsaariana caiu em relação a dez anos atrás, enquanto outras regiões do mundo registraram crescimento.

A falta de infraestrutura, educação, e governos competentes são fatores que, segundo Drechsler, dificultam o avanço do continente. Ele critica a dependência da África em relação à China, cujos investimentos diminuíram devido a dificuldades econômicas internas. Drechsler argumenta que, ao contrário da Ásia, o crescimento africano tem sido impulsionado pelo consumo e pela exportação de matérias-primas, sem uma base industrial sólida, o que impede uma transformação econômica mais profunda.

Além disso, a crise da dívida e a ineficiência de programas de ajuda externa, agravados pela diminuição do financiamento do Ocidente, são destacados como barreiras adicionais para o desenvolvimento africano. Drechsler conclui que, sem reformas significativas, o continente enfrenta um futuro de estagnação e dificuldades econômicas.

Fonte: Finanz und Wirtschaft (FuW) 27.09.2024Link externo (em alemão)

Banco de Zurique hackeado: ex-ministro português envolvido em escândalo

O blog suíço Inside Paradeplatz, especializado em jornalismo investigativo do setor financeiro, publicou um artigo revelando um grande escândalo de dados envolvendo a Boreal Capital Management, uma empresa com sede em Zurique. O vazamento expôs informações de cerca de 700 clientes, principalmente “Pessoas Politicamente Expostas” (PEPs) da Espanha, Portugal, Andorra e Venezuela. O material roubado, que envolve dados de grandes bancos como UBS e Pictet, foi divulgado por hackers na darknet em junho e está agora em posse do consórcio de jornalistas ICIJ.

O blog Gotham CityLink externo, outra publicação de referência no jornalismo investigativo, relatou que os invasores divulgaram aproximadamente 50 gigabytes de informações confidenciais da Boreal. Os dados roubados revelam detalhes de clientes cujos ativos eram gerenciados pela empresa, com alguns documentos mencionando o escritório de advocacia Walder Wyss. A Boreal confirmou que o incidente foi causado por um fornecedor antigo, mas ainda não está claro qual o papel exato desse prestador de serviços no vazamento.

Já surgiram as primeiras matérias baseadas no material vazado, incluindo histórias publicadas no jornal suíço Le Temps e em uma revista portuguesa, revelando detalhes de figuras públicas e seus ativos. Entre as revelações estão o nome de um ex-ministro de Portugal e a esposa de um oligarca moldavo, conectados à Boreal Capital. Esse incidente é considerado um dos maiores vazamentos de dados do setor bancário suíço em tempos recentes.

Fonte: Insideparadeplatz.ch 26.09.2024Link externo (em alemão)

Corrida ao ouro dos bancos dos BRICS

O artigo discute como os bancos centrais dos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) estão aumentando suas compras de ouro, refletindo uma mudança estratégica na gestão de reservas internacionais. A crescente perda de confiança no dólar americano, que tradicionalmente desempenhou o papel de moeda de reserva mundial, é um dos principais fatores por trás dessa corrida pelo ouro.

Nações como a China, Rússia e Índia buscam diversificar suas reservas para se proteger contra flutuações cambiais e riscos geopolíticos, especialmente em um cenário global de tensões, como o conflito entre Ucrânia e Rússia. Além disso, essas economias estão reduzindo suas participações em títulos do Tesouro dos EUA e optando por ativos mais estáveis, como o ouro. Em 2024, a demanda global por ouro aumentou significativamente, impulsionada pelos países do BRICS, consolidando o metal como uma ferramenta estratégica para estabilidade econômica.

Fonte: Allnews.ch 26.09.2024Link externo (em francês)

Floresta amazônica já diminuiu drasticamente

Um estudo realizado por cientistas e organizações não governamentais revelou uma “transformação acelerada” da Amazônia, com o aumento alarmante do desmatamento para dar lugar à mineração, agricultura e pecuária. O relatório destaca a perda de ecossistemas que foram substituídos por monoculturas, pastagens e crateras de mineração, gerando sérios impactos ambientais. A cientista peruana Sandra Ríos Cáceres afirmou que a liberação de carbono decorrente da destruição da floresta tem efeito direto sobre o clima, agravando as temperaturas e perturbando o ciclo da água na região.

O artigo foi publicado em diversos jornais suíços, ressaltando a preocupação global com a destruição da Amazônia, uma questão que afeta leitores de diferentes nações. O estudo também relaciona a perda de vegetação à grave seca e aos incêndios florestais que assolam países da América do Sul, como Brasil, Peru, Equador e Colômbia. A seca tem causado a queda dos níveis de rios e ameaça a vida de milhões de pessoas que dependem dessas águas, além de intensificar os incêndios na Amazônia e no Pantanal, liberando grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera.

Fonte: nau.chLink externo, Blick.chLink externo, 24.09.2024 (em alemão)

Brasil: E a reforma agrária?

A entrevista com Ayala Ferreira, membro da direção do Movimento dos Sem-Terra (MST), foi publicada no jornal francófono Le Courrier e aborda os desafios enfrentados pelo movimento durante o terceiro governo de Lula. Ferreira destaca que, embora o presidente respeite os movimentos sociais, o avanço na questão da reforma agrária tem sido lento devido à forte presença do agronegócio e à oposição de forças conservadoras no Congresso.

Durante o governo de Jair Bolsonaro, o MST foi tratado como inimigo e suas ocupações foram violentamente reprimidas, com o apoio aos grandes proprietários de terra. Apesar da reabertura do Ministério do Desenvolvimento Agrário por Lula, medidas concretas como a redistribuição de terras ainda não avançaram, frustrando as expectativas de 100 mil famílias que vivem em ocupações e 400 mil em assentamentos do MST.

Ferreira salienta que a prioridade do movimento é garantir a dignidade dessas famílias, com investimento em infraestrutura básica e apoio à produção agroecológica. Além disso, destaca a importância de defender o governo Lula contra a extrema direita, sem perder a autonomia como movimento social.

Celebrando 40 anos de luta, o MST vive um momento de fortalecimento, apesar das adversidades. O movimento ganhou reconhecimento público ao distribuir alimentos durante a crise da Covid-19 e vê como essencial conquistar o apoio da sociedade para que a reforma agrária popular se concretize nos próximos anos.

Fonte: lecourrier.ch, 23.09.2024Link externo (em francês)

O recente conflito entre a plataforma X, de Elon Musk, e o sistema judicial brasileiro ganhou destaque na mídia suíça por se tratar de um tema de liberdade de imprensa. Após o fechamento temporário da plataforma no Brasil, a empresa nomeou a advogada Rachel Villa Nova Conceição como sua representante legal no país, mas o juiz Alexandre de Moraes exigiu mais documentos para formalizar a nomeação, estabelecendo um prazo de cinco dias para a entrega.

Essa situação teve início quando a X não cumpriu o prazo anterior imposto pelo tribunal para a nomeação de um representante e recusou-se a bloquear contas de ativistas de direita que espalhavam desinformação. Em consequência, a empresa foi multada em R$ 18,35 milhões pelo Supremo Tribunal Federal, e o escritório da X no Brasil foi fechado por Musk, temendo a prisão do ex-representante da empresa no país.

Musk, conhecido por seu apoio à liberdade de expressão e ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump, acusou o juiz Moraes de atentar contra essa liberdade, chamando-o de “ditador do mal”. Essa crítica surge em meio a uma investigação aberta contra o próprio Musk por obstrução da justiça e incitação ao crime, levantando ainda mais polêmicas sobre o comportamento do empresário no cenário brasileiro.

O caso chamou atenção internacional, principalmente na Suíça, onde questões envolvendo liberdade de expressão e o papel de grandes plataformas tecnológicas como a X têm sido amplamente debatidas. A situação reflete o crescente confronto entre governos e corporações tecnológicas sobre a responsabilidade das plataformas digitais na disseminação de informações.

Fonte: cash.chLink externo, nau.chLink externo, Berner ZeitungLink externo, 22.09.2024 (em alemão)

Floresta queima como nunca

O NZZ, o mais importante diário suíço, publica um artigo do correspondente Alexander Busch sobre a tentativa frustrada do ministro brasileiro da Agricultura, Carlos Fávaro, de promover a sustentabilidade agrícola do país durante uma reunião do G20. Fávaro convidou os ministros a visitarem Mato Grosso, mas o evento teve de ser transferido devido à poluição do ar causada por incêndios. Esses incêndios são um reflexo da crise ambiental que se agrava no Brasil, afetando não apenas o país, mas também seus vizinhos.

Segundo o artigo, muitos veem o setor agrícola como um dos principais responsáveis pelos incêndios que têm devastado áreas como o Cerrado e o Pantanal. A situação é um golpe para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que buscava recuperar a imagem ambiental do país após os anos de Jair Bolsonaro. O aumento dos incêndios, que agora afetam regiões como a Amazônia, desestabiliza os esforços de conservação que Lula vinha promovendo em seu terceiro mandato.

O texto também aborda a crescente preocupação com a má gestão do governo frente a essa crise. Lula havia planejado usar a Assembleia Geral da ONU para destacar o progresso do Brasil na luta contra as mudanças climáticas, mas os incêndios estão minando essa narrativa. Ambientalistas e especialistas apontam para a falta de um plano eficaz de combate aos incêndios, enquanto a proposta de um superministério do clima surge como uma ideia vaga e sem recursos suficientes para enfrentar o problema.

Fonte: nzz.ch, 21.09.2024Link externo (em alemão)

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Moderador: Sara Ibrahim

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