Guerra comercial nos ares: aliados dos EUA não querem seus caças

Aliados históricos dos EUA, como Brasil, Portugal, Colômbia e Canadá, buscam alternativas aos caças supersônicos americanos. Enquanto isso, o Brasil perde sua riqueza aquífera, vítimas da tragédia de Mariana enfrentam a mineradora Samarco em Londres, e executiva do Credit Suisse é condenada pelo escândalo Moçambique.
De 15 a 21 de março de 2025, vasculhamos a imprensa suíça para dar uma visão geral das notícias mais importantes relacionadas ao Brasil, Portugal ou África lusófona.

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Suecos são mais atraentes
O exército colombiano quer comprar o avião de combate sueco Gripen. Mas Donald Trump diz “não”. Ele quer que a Colômbia compre o F-16V americano.
Assim abre o comentarista Heiner Hug do jornal online Journal21.ch sua análise da guerra comercial em torno da venda de caças militares que há anos envolve grandes produtores, como a amaericana Lockheed Martin (F-16, F-35), a sueca Saab (Gripen) e a francesa Dassault (Rafale), entre outros, por mercados emergentes.
O caso colombiano relembra o caso semelhante do Brasil, que não só optou pelo produto sueco como ainda resultou numa inédita transferência de tecnologia, com a abertura de uma fábrica da Embraer para a produção do Gripen, sob licença da Saab.
Essa é a primeira aeronave de combate a ser construída no Brasil. A Saab esperava que o Gripen pudesse ser exportado do Brasil para outros países da América Latina. Como isso seria feito às custas das aeronaves americanas, os EUA estão tentando impedir que outros países sul-americanos comprem o Gripen.
Para a Suécia, o “não” de Trump é um sério golpe econômico. Agora teme-se que outras negociações de vendas que foram iniciadas também se tornem obsoletas. O Peru e a Tailândia também cogitam comprar aeronaves Gripen. Será que Trump vai vetar isso também?
Fonte: Journal21.chLink externo, 19.03.2025 (em alemão).
Portugal e Canadá também não querem
Em abril passado, Portugal anunciou sua intenção de substituir sua frota envelhecida de F-16 por caças F-35. No entanto, o Ministro da Defesa recuou na compra do F-35 – devido às políticas de Donald Trump.
Segundo Melo, o F-35 já não é uma opção porque Trump poderá impor “restrições à sua utilização, manutenção, componentes e capacidade operacional”. Publicações especializadas, como a Defense One, estão agora se perguntando se a postura crítica de Trump em relação à OTAN poderia prejudicar novos pedidos de F-35.
O Canadá, alvo de primeira instância do governo Trump, também anunciou estar buscando alternativas. O novo primeiro-ministro Mark Carney tornou público em 17 de março que seu governo estava analisando a compra de 88 aeronaves no valor equivalente a 11,7 bilhões de francos suíços. A Saab pode, portanto, estar de volta à corrida.
E agora um ex-chefe da Airbus também está alimentando o debate sobre o F-35 na Alemanha: “Ninguém precisa de um F-35”, disse Thomas Enders ao Frankfurter Allgemeine Zeitung. “É imperativo que nos tornemos independentes dos sistemas americanos o mais longe e o mais rápido possível”. Simplesmente não podemos fechar os olhos para o fato de que esse governo americano agora se tornou um adversário e não é mais um aliado.” No entanto, Enders também é contra o F-35 por outro motivo: comparado aos drones, o complicado sistema americano é muito caro.
A guerra do futuro será baseada em “dezenas de milhares de robôs inteligentes no campo de batalha e, atualmente, esses são, antes de tudo, drones que podem ser produzidos em pequenas fábricas”, explica Enders.
Fonte: Bluewin, 14.03.2025Link externo e 18.03.2025Link externo (em alemão).
O Brasil seca sua riqueza aquífera
O Brasil, que abriga 12% das reservas de água doce do mundo, especialmente na Amazônia, está experimentando uma redução constante na área coberta por água, de acordo com um relatório publicado na sexta-feira pela plataforma de monitoramento MapBiomas. O relatório aponta o dedo para o avanço das terras cultivadas e para as mudanças climáticas.
Entre 2023 e 2024, o país perdeu 2% de sua superfície coberta por água. Essa é uma tendência constante. Desde 1985, a proporção do país coberta por rios, lagos e outros corpos d’água caiu 15%.
Quase dois terços da área coberta por água no Brasil estão na Amazônia. A maior floresta tropical do planeta desempenha um papel crucial na regulação do clima local e global ao absorver o dióxido de carbono.
Atingida por uma seca extrema, essa região perdeu 3,6% de sua área de superfície de água no ano passado, em comparação com a média histórica. Esse fenômeno também é uma consequência da superexploração das reservas de água, ligada principalmente à expansão, muitas vezes ilegal, das atividades agrícolas em detrimento da floresta ou do desenvolvimento urbano.
O Pantanal, por sua vez, foi o ecossistema mais afetado, com 61% menos área de superfície coberta por água do que a média desde 1985. Os incêndios que assolaram essa região, que fica ao sul da Amazônia e é a maior área úmida do planeta, aceleraram essa redução.
Fonte: BlickLink externo, 21.03.2025 (em francês).

Desastre de Mariana (MG): resumo do desastre, e processo bilionário na Inglaterra
O diário zuriquenho Neue Zürcher Zeitung publicou essa semana uma reportagem detalhada sobre o processo movido pelas vítimas do colapso da barragem de Mariana contra a mineradora Samarco, em curso na justiça britânica.
19 pessoas perderam suas vidas em 5 de novembro de 2015 em Bento Rodrigues e outros vilarejos. Após o rompimento da barragem da bacia de aterro de uma mina próxima, 32 milhões de metros cúbicos de lama misturada com minério de ferro caíram no vale. O tsunami tóxico destruiu vilarejos e envenenou o rio Doce em uma extensão de 650 quilômetros até o Oceano Atlântico. O rompimento da barragem de Mariana é considerado o pior desastre ambiental da história do Brasil e afetou a vida de 2,5 milhões de pessoas.
Sem esperança na justiça brasileira, as vítimas dirigiram-se ao Tribunal Superior de Londres. Afinal, a empresa australiano-britânica BHP (empresa-mãe da Samarco) tinha sua sede em Londres na época do acidente. De um lado, um exército de advogados de um dos escritórios mais poderosos de Londres, que a BHP mobilizou para se defender contra o pedido de indenização. Do outro, os advogados da Pogust Goodhead, a empresa que representa as vítimas do desastre.
O Reino Unido tem uma longa tradição de ações judiciais contra empresas multinacionais. Mas o processo contra a BHP não tem precedentes: Pogust Goodhead está representando cerca de 620.000 vítimas, incluindo membros de povos indígenas, agricultores e pescadores. “Esta é a maior ação coletiva da história jurídica britânica e possivelmente mundial”, explica Tom Goodhead em uma entrevista.
Os advogados da BHP haviam inicialmente argumentado, em vão, que os tribunais britânicos não tinham jurisdição. A empresa também alega que a BHP era um parceiro não operacional na joint venture que operava a mina. Portanto, ela não era responsável pelo rompimento da barragem. Por fim, a BHP afirma que o julgamento em Londres está frustrando os esforços no Brasil para indenizar as vítimas do acidente.
O que é incomum no caso é que ele está sendo ouvido no tribunal. A lei britânica oferece fortes incentivos financeiros para que as partes cheguem a um acordo extrajudicial. Goodhead atribui o fato de não ter havido acordo no caso da barragem rompida à enorme quantia em jogo. Os especialistas supõem que a BHP poderia ser condenada a pagar cerca de 44 bilhões de dólares em indenizações.
Especificamente, os investidores, que incluem famílias ricas e fundações de caridade, emprestaram grandes somas de dinheiro ao seu escritório de advocacia. Se a BHP ganhar o caso, eles perderão seu investimento e o escritório de advocacia Pogust Goodhead só conseguirá cobrir seus custos. Se a gigante da mineração perder, haverá um alto retorno para os credores e um lucro considerável para o escritório de advocacia. Goodhead não fornece detalhes exatos sobre os investimentos, os custos legais ou o valor que seria deixado para as 620.000 vítimas.
Fonte: NZZLink externo, 18.03.2025 (em alemão).
Caso Moçambique: executiva do Credit Suisse condenada
Lara Warner, ex-diretora de conformidade e risco do Credit Suisse, foi multada em CHF 100.000 pelo Departamento Federal de Finanças (FDF) em 7 de março por supostamente ter agido de forma “deliberada e intencional”. Ela supostamente não comunicou uma suspeita de lavagem de dinheiro em uma conta administrada na Suíça ao Departamento de Relatórios de Lavagem de Dinheiro (MROS).
Como resultado, um dos executivos mais graduados na hierarquia do banco foi considerado pessoalmente responsável por falhas em um dos muitos escândalos financeiros que abalaram o banco. A multa é a segunda mais alta já imposta pelo FDF por violar a obrigação de relatar a lavagem de dinheiro. No entanto, ela ainda não foi definitivamente aplicada, pois Lara Warner anunciou que recorrerá da multa.
A ordem criminal do FDF revela outra informação explosiva: desde novembro passado, assado, a ex-executiva, que se reportava diretamente ao então CEO Tidjane Thiam, está na mira do Ministério Público Federal da Suíça (MPC). Ela está envolvida em um dos dois processos criminais ligados ao caso de Moçambique, ou seja, aquele aberto em 2023 por suspeita de lavagem de dinheiro em conexão com uma transferência de CHF 7,9 milhões.
O processo também diz respeito a um ex-funcionário em um nível inferior na hierarquia, bem como ao UBS, que assumiu o controle do Credit Suisse. A presunção de inocência se aplica tanto aos processos movidos pela Procuradoria Geral da Suíça quanto à ordem criminal inexequível da FDF.
O caso diz respeito a um pagamento de cerca de 7,9 milhões de dólares que chegou em uma conta bancária em março de 2016. Ele está ligado a um dos maiores escândalos do Credit Suisse: a concessão de empréstimos no valor total de 2 bilhões de dólares a Moçambique.
Fonte: 24Heures.chLink externo, 19.03.2025 (em francês).
Lula não é tão verde como parece
Artigo do jornal zuriquenho Tages Anzeiger analisa criticamente as credenciais ambientalistas do governo Lula.
Quando Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil no final de 2022, os ativistas ambientais no país e no exterior se alegraram. O presidente de 79 anos não apenas substituiu o ultradireitista Jair Bolsonaro, sob o qual caçadores ilegais e fazendeiros estavam desmatando as florestas amazônicas em velocidade recorde e com impunidade. Lula também priorizou a proteção ambiental como uma questão fundamental em sua campanha eleitoral, conquistando muitos eleitores jovens.
Os primeiros sinais foram promissores. Lula nomeou a conhecida conservacionista Marina da Silva como Ministra do Meio Ambiente. Além disso, o desmatamento na região amazônica caiu para o nível mais baixo dos últimos nove anos. A proteção ambiental parecia ser uma alta prioridade.
Entretanto, pouco resta da euforia inicial. Isso ficou claro apenas alguns meses após sua eleição quando se tratou de petróleo. Quando o presidente colombiano Gustavo Petro pediu uma moratória para a produção de petróleo na Amazônia, Lula vetou a medida. Ele quer usar os lucros da empresa estatal de petróleo Petrobras para financiar seus programas sociais, entre outras coisas.
Lula também mostrou quais são suas prioridades durante as negociações da UE com a aliança comercial sul-americana Mercosul no ano passado. Seu governo queria remover uma passagem sobre a proteção da floresta tropical do acordo de livre comércio. Também nesse caso, o ex-sindicalista priorizou os interesses econômicos em detrimento das metas ambientais.
As prioridades de Lula agora também se refletem em dois grandes projetos de construção de estradas na Amazônia. Ele anunciou que a rodovia BR-319 será totalmente asfaltada. Essa estrada de cascalho, com inúmeros buracos, percorre centenas de quilômetros na região amazônica. A experiência mostra que projetos de construção de estradas dessa magnitude incentivam o desmatamento ao longo das rotas. Os caçadores ilegais estão muito satisfeitos com o fato de o estado estar lhes fornecendo a infraestrutura necessária.
O projeto com o nome poético de “Avenida Liberdade” é particularmente incompreensível. Seu governo está construindo uma rodovia de quatro pistas através de uma região amazônica protegida para a Cúpula Mundial do Clima em Belém, em novembro, entre todos os lugares. Assim, os 50.000 participantes poderão chegar mais rapidamente ao local remoto.
A amarga ironia do projeto não pode ser ignorada. Nenhuma floresta é tão importante para o clima global quanto a Amazônia; ela resfria a atmosfera e armazena enormes quantidades de carbono. Sem ela, a luta contra o aquecimento global está perdida. Lula agora está mandando desmatar florestas aqui, entre todos os lugares, para que os políticos possam discutir mais facilmente a salvação do clima.
Fonte: Tages AnzeigerLink externo, 15.03.2025 (em alemão).
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Publicaremos nossa próxima revista da imprensa suíça em 14 de março. Enquanto isso, tenha um bom fim de semana e boa leitura!
Até a próxima semana!

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