Perspectivas suíças em 10 idiomas

Lições do Brasil para a crise da agropecuária suíça

Vacas se coçando num prado suíço
O número de fazendas na Suíça está diminuindo rapidamente e as novas gerações não querem assumir o controle. Já no Brasil, a agricultura atrai um número crescente de jovens. Keystone/Urs Flueeler

Para além das Olimpíadas, a imprensa suíça destacou o agronegócio brasileiro, comparando-o ao suíço. Enquanto isso, o encontro do G-20 no Rio de Janeiro foi visto diferentemente pelas mídias de língua alemã e francesa.  

De 27 de julho a 2 de agosto de 2024, vasculhamos a imprensa suíça para dar uma visão geral das notícias mais importantes que tiveram Brasil, Portugal ou África lusófona como tema.

Mostrar mais

O agro é pop

Sob o título “As fazendas estão morrendo na Suíça, no Brasil todos querem se tornar fazendeiros”, o jornal 20Minuten realizou uma grande reportagem – coisa que não é do feitio de um diário gratuito distribuído nas estações de trem – sobre como o modelo do agronegócio brasileiro, um sucesso mundial, destoa do modelo suíço.

A morte das fazendas é um fato da vida na Suíça. De acordo com o Departamento Federal de Estatística (FSO), o número de fazendas suíças caiu para uma baixa recorde de menos de 48.000 em 2023. Há 40 anos, havia o dobro desse número.
Não há melhora à vista. Os agricultores nunca foram tão velhos. Quase um terço deles atingirá a idade de aposentadoria nos próximos dez anos e, para muitos, é incerto se a próxima geração assumirá a fazenda.

A tendência no Brasil é exatamente a oposta. Os operadores agrícolas quase não têm problemas para recrutar novos talentos. Um exército de jovens brasileiros quer assumir o negócio agrícola de seus pais, como informa a “Bloomberg”. De acordo com a Associação Brasileira de Agricultura, a idade média dos agricultores caiu para 46 anos.

Eles são motivados pela rápida expansão do setor. O Brasil acaba de assumir a posição de líder mundial dos EUA como exportador de importantes produtos agrícolas, como soja e frango, e provavelmente em breve também estará exportando milho. No entanto, a floresta tropical vem sendo desmatada para esse fim há décadas. De acordo com o WWF, há também outros aspectos negativos do boom agrícola, como a seca, a erosão e a escassez de água subterrânea.

No entanto, as gerações Z e Y do Brasil querem entrar nesse negócio. O fascínio também se deve ao apoio do governo e às possibilidades tecnológicas. Os jovens utilizam o monitoramento por GPS para analisar suas plantações. Apesar de usarem menos pesticidas químicos, eles alcançam uma produtividade por hectare maior do que a de seus pais.

Outro motivo são os fazendeiros ricos: enquanto as famílias com pequenas fazendas no Brasil geralmente são pobres e não veem outra opção além da agricultura, há fazendas enormes com centenas de funcionários. Alguns se tornaram bilionários e viajam em jatos particulares, como o magnata da soja Blairo Maggi e o magnata do açúcar Rubens Ometto.

O lobby do agronegócio injeta dinheiro em telenovelas, filmes, livros e, atualmente, com sucesso especial na música pop com o Agronejo, uma mistura de música sertaneja tradicional com música eletrônica e temas agrícolas.

Fonte: 20MinutenLink externo, 02.08.2014 (em alemão) 

Acordo ou não acordo? 

O diário conservador zuriquenho NZZ saudou o encontro dos ministros das Finanças dos 20 países mais ricos do mundo, com a manchete “‘Avanço significativo’: ministros das finanças do G20 concordam com uma declaração conjunta sobre impostos para os super-ricos”. No mesmo dia, o jornal econômico Bilan, em sua edição francesa, dizia que “G20 não chega a acordo sobre um imposto global”. Quem está certo?

No fundo, nenhum está errado – mas a discrepância reflete a diferença entre enxergar um copo meio cheio ou meio vazio. Mas o Bilan é mais informativo no que diz respeito às nuances do encontro.

Mesmo antes da reunião, os Estados Unidos haviam se oposto ao princípio de um imposto global, mas os países membros se comprometeram a cooperar para tributar efetivamente grandes fortunas.

A declaração publicada na sexta-feira refere-se ao intercâmbio de melhores práticas e à criação de mecanismos para combater a evasão fiscal, com o objetivo de iniciar a cooperação internacional em questões tributárias.

Com o G20 prejudicado por divisões entre os países ocidentais e a Rússia – também membro do grupo – desde o início da guerra na Ucrânia, mas também sobre a ofensiva israelense em Gaza, a elaboração de um comunicado conjunto continuou sendo um desafio. Mas Brasília conseguiu contornar o obstáculo publicando três textos separados: a “declaração” sobre tributação, um comunicado final mais amplo e um documento publicado separadamente pela Presidência do Brasil.

O último documento, assinado apenas pela Presidência brasileira, informa que alguns países “expressaram suas opiniões sobre a Rússia e a Ucrânia e a situação em Gaza”. Alguns membros veem o G20 como um fórum apropriado para discutir essas questões, enquanto outros têm uma visão oposta.

O comunicado final assinado por todos os países não faz nenhuma menção às guerras na Ucrânia e em Gaza, mas simplesmente se refere a “guerras e à escalada de conflitos” como fatores de risco para a economia global. Os membros do G20 também saudaram o “consenso” sobre o lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza por Lula na quarta-feira, e enfatizaram a necessidade de enfrentar as mudanças climáticas e as crises ambientais.

O fato de se ter chegado a um comunicado conjunto é “uma vitória para o Brasil e para a comunidade internacional”, disse Fernando Haddad, muito satisfeito. Para ele, a cooperação internacional é “o antídoto para a escalada dos conflitos”.

Fontes: BilanLink externo (em francês), e NZZLink externo (em alemão), 27.07.2024.

Brasil: exportações de carne bovina voltam a crescer

Depois que o motor das exportações parou por um tempo em 2023, as vendas de carne bovina brasileira voltaram a acelerar recentemente, segundo os números publicados recentemente pela Associação Brasileira de Processadores de Carne (Abrafrigo).

De acordo com o relatório, o Brasil vendeu um total de 1,44 milhão de toneladas de carne bovina processada e não processada no exterior entre janeiro e junho de 2024; isso foi cerca de um terço a mais do que nos primeiros seis meses de 2023.
A Abrafrigo calcula que o faturamento dos exportadores brasileiros de carne bovina no primeiro semestre de 2024 foi de US$ 5,82 bilhões (CHF 5,14 bilhões), 18% maior do que de janeiro a junho de 2023. No primeiro semestre de 2022, o Brasil alcançou vendas externas de US$ 6,23 bilhões (CHF 5,50 bilhões) com um volume de exportação de 1,09 milhão de toneladas de carne bovina.

A China continuou sendo o cliente mais importante para os exportadores brasileiros de carne bovina no primeiro semestre de 2024, embora o faturamento tenha caído ligeiramente para US$ 2,52 bilhões (CHF 2,22 bilhões) com um ligeiro aumento no volume de vendas. Nos EUA, as vendas aumentaram em cerca de um terço, para US$ 665 milhões (CHF 588 milhões), e nos Emirados Árabes Unidos, em até 238%, para US$ 435 milhões (CHF 385 milhões).

O cenário foi menos favoráveis para os exportadores brasileiros de aves no primeiro semestre de 2024. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as vendas de carne de aves processada e não processada caíram 1,6% em relação ao ano anterior, para 2,59 milhões de toneladas. O faturamento encolheu cerca de um décimo, para US$ 4,64 bilhões (CHF 4,10 bilhões). A China continuou sendo o cliente mais importante dos exportadores de aves no Brasil, embora com uma queda de 29% no volume de vendas, para 276.100 toneladas.

As exportações de carne suína do Brasil no primeiro semestre deste ano cresceram 4,1% em relação ao ano anterior, atingindo um novo recorde de 613.700 toneladas, mas as vendas caíram cerca de 8%, para US$ 1,30 bilhão (CHF 1,15 bilhão). A associação explicou que os negócios foram reorganizados. O principal cliente, a China, encomendou 127.900 toneladas, cerca de 40% menos do que no primeiro semestre de 2023, mas as Filipinas subiram para o segundo lugar entre os clientes mais importantes, com um aumento de 65% no volume para 84.200 toneladas. De acordo com a ABPA, os negócios também melhoraram nas Américas do Norte e do Sul.

Fonte: Der Schweizer BauerLink externo, 27.07.2024 (em alemão) 

Participe do debate da semana:

Mostrar mais

Debate
Moderador: Amal Mekki 

Como seu país lida com a devolução de artefatos antigos roubados?

Países ocidentais, como a Suíça, muitas vezes têm de lidar com o processo de recuperação ou devolução de artefatos saqueados que foram importados ilegalmente. Como é a situação em seu país?

6 Curtidas
15 Comentários
Visualizar a discussão

Se você tem uma opinião, crítica ou gostaria de propor algum tema, nos escreva. Clique AQUI para enviar um e-mail.

Publicaremos nossa próxima revista da imprensa suíça em 2 de agosto. Enquanto isso, tenha um bom fim de semana e boa leitura!

Até a próxima semana!

Conteúdo externo
Não foi possível salvar sua assinatura. Por favor, tente novamente.
Quase terminado… Nós precisamos confirmar o seu endereço e-mail. Para finalizar o processo de inscrição, clique por favor no link do e-mail enviado por nós há pouco
Nossa newsletter sobre o que a imprensa suíça escreve sobre o Brasil, Portugal e a África lusófona.

Um resumo das notícias e opiniões mais recentes publicadas em jornais, revistas e portais da Suíça.

Toda semana

A política de privacidade da SRG SSR oferece informações adicionais sobre o processamento de dados. 

</span

Preferidos do leitor

Os mais discutidos

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR