Elogios e críticas à ambiguidade diplomática do Brasil
A ausência de Lula na cúpula dos BRICs na Rússia e a recusa do Brasil em tomar parte na Nova Rota da Seda proposta pela China foram os principais assuntos discutidos pela mídia Suíça essa semana. A saga do Credit Suisse em Moçambique também continua...
De 26 de outubro a 1.o de novembro de 2024, vasculhamos a imprensa suíça para dar uma visão geral das notícias mais importantes relacionadas ao Brasil, Portugal ou África lusófona.
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A ausência de Lula preenche uma lacuna
O presidente brasileiro não pôde comparecer à cúpula dos BRICs em Kazan, na Rússia, por conta de um acidente doméstico. O colunistra Alex Baur, do semanário Weltwoche, alinhado à extrema-direita suíça, destacou que Lula “foi o grande ausente na cúpula do Brics em Kazan. Sua ausência é sintomática da ambivalência do Brasil em lidar com ditaduras.”
Assim segue o comentário de Baur:
A desculpa dificilmente poderia ter sido mais frágil: Ele havia batido a cabeça em uma queda em casa na semana passada. Embora se sentisse em plena forma, os médicos o desaconselharam a fazer uma longa viagem à Rússia. Portanto, Lula participou da cúpula do Brics apenas virtualmente.
Quem acredita nisso é um bem-aventurado.
O verdadeiro motivo da ausência de Lula é provavelmente o ditador venezuelano Nicolás Maduro, que decidiu viajar para Kazan em cima da hora, onde seu amigo e patrono Vladimir Putin lhe deu uma recepção calorosa. No entanto, o pedido de adesão da Venezuela ao Brics não deu em nada. O Brasil o vetou.
Lula da Silva já abraçou muitos potentados inapetecíveis, de Gaddafi a Assad e Castro. O pai adotivo de Maduro, Hugo Chávez, que não era melhor, foi um de seus aliados mais próximos. Junto com Fidel Castro, Lula fundou a aliança socialista “Foro de São Paulo”. E, é claro, o Brasil não fez objeções à candidatura de Cuba para participar do Brics.
Mas a inevitável foto de grupo com Nicolás Maduro em Kazan teria sido um duplo padrão demais até mesmo para Lula da Silva, que gosta de posar como o salvador da democracia. Mais de meio milhão de refugiados da Venezuela estão vivendo no vizinho Brasil. O número está crescendo diariamente.
A dança do ovo de Lula é sintomática da ambivalência do Brasil. Oficialmente, o país se considera entre as democracias ocidentais. Mas nunca teve reservas quanto à cooperação com ditaduras.
Dificilmente outro país minou as sanções ocidentais contra a Rússia de forma mais desinibida. O Brasil, que também deve assumir a presidência do Brics no próximo ano, está desempenhando um papel de liderança na criação do Novo Banco de Desenvolvimento, com sede em Xangai, e tem como objetivo quebrar o monopólio do dólar no comércio mundial.
A democracia e os direitos humanos são bons para os discursos de domingo no Brasil. Mas quando se trata de dinheiro e interesses nacionais, a moralidade é deixada de fora da equação.
Fonte: WeltwocheLink externo, em 25.10.2024 (em alemão)
Rota da Seda? Não, obrigado
Já o diário conservador Neue Zürcher Zeitung (NZZ) destacou a hesitação brasileira em abraçar a iniciativa chinesa da Nova Rota da Seda, conhecida em inglês como “Belt and Road”. O jornal diz que a China “está pressionando por um acordo, mas o governo Lula continua firme. O motivo: Pequim promete demais e oferece muito pouco.”
Celso Amorim, assessor de política externa do presidente Luiz Inácio Lula, declarou que o Brasil não assinará um acordo com a China como parte da Nova Rota da Seda neste momento.
No entanto, o Brasil ainda está interessado em um intercâmbio com a China que vá além do comércio. Faz parte da visão do Brasil não depender de um único fornecedor ou parceiro.
Essa é uma séria derrota para Pequim. Nos últimos meses, a China tem trabalhado incansavelmente para coroar a próxima viagem de seu chefe de estado à América do Sul com o acordo com o Brasil.
Espera-se que o presidente Lula e o chefe de estado chinês Xi Jinping se encontrem três vezes em poucos dias nas próximas semanas: no Fórum Apec dos países da Ásia e da América do Pacífico, no Peru, em meados de novembro, imediatamente depois na cúpula do G20 no Rio de Janeiro e, finalmente, durante uma visita de estado do líder chinês à capital brasileira para marcar o 50º aniversário das relações diplomáticas entre os dois países.
Em geral, esperava-se que a assinatura do acordo fosse o ponto alto da visita ao Brasil. Das principais economias da América Latina, apenas o México e a Colômbia ainda não aderiram à iniciativa ao lado do Brasil.
Há três motivos pelos quais o Brasil está resistindo à tentativa da China de adotar a iniciativa: O Brasil quer transferência de tecnologia e compromissos de investimento confiáveis, que a China não ofereceu nem está disposta a garantir. A China anuncia repetidamente projetos de investimento gigantescos para pontes, portos ou conexões ferroviárias, que depois não dão em nada.
A China também está mantendo seu mercado fechado para produtos de tecnologia brasileira, como as aeronaves da Embraer. A parceria não se trata apenas de compra e venda de mercadorias, mas também de investimentos na China para produtos fabricados no Brasil, disse Amorim, criticando pela primeira vez o fechamento do mercado chinês.
Em última análise, o Brasil está negociando com a China a partir de uma posição de força: a China é o parceiro comercial mais importante do Brasil. Entretanto, diferentemente da maioria dos países do mundo, a China tem um grande déficit comercial com a principal economia da América Latina. O Brasil fornece alimentos, petróleo e minérios para a China. Devido ao crescente confronto com os EUA, a China está cada vez mais dependente das importações de alimentos e petróleo do Brasil.
Em termos de política externa, o Brasil parece estar retornando à sua posição tradicionalmente neutra na política mundial. No grupo dos principais países do Brics, a Índia e o Brasil ainda não assinaram o Acordo da Rota da Seda. Assim, eles formam o bloco democrático na comunidade internacional que não quer ser cooptado pela China.
O grau em que o Brasil poderá emergir como um “novo” país não alinhado na política global no futuro não será decidido apenas em Brasília. Isso também dependerá de acontecimentos políticos, como as eleições nos EUA ou o curso da crise econômica na China.
Fonte: NZZLink externo, em 31.10.2024 (em alemão)
Preço do café dispara
Em um momento em que os preços do café estão atingindo recordes, os torrefadores, restauradores e consumidores suíços estão gradualmente sentindo os efeitos de uma crise de produção global. Entre as condições climáticas extremas e a crescente demanda, o café, uma bebida essencial, pode se tornar um produto cada vez mais caro.
A grande surpresa é o aumento no preço do Robusta, que antes era considerado um café mais barato. Agora ele tem quase o mesmo preço que o Arábica.
Nas lojas, o café já custa 3,7% a mais desde o início do ano, uma tendência que deve continuar nos próximos meses. “Há sempre uma diferença de cerca de um a três meses entre o momento em que o preço sobe e o impacto sobre os consumidores.
Isso geralmente se deve ao estoque que os torrefadores têm, o que atrasa o aumento de preços”, explica Nicolas Tamari, diretor administrativo da Sucafina, uma empresa comercial com sede em Genebra.
O preço do café no mercado de ações vem subindo há um ano, atingindo a maior alta em dez anos no final de setembro. Esse aumento se deve às más colheitas no Brasil e no Vietnã, os dois maiores países exportadores.
Na região de São Paulo, o Brasil está enfrentando a pior seca dos últimos 70 anos, o que reduziu drasticamente a produtividade das plantações de café. Quanto ao Vietnã, o país está sofrendo grandes perdas após as inundações causadas pelo tufão Yagi.
A situação não está prestes a melhorar, e os participantes do mercado esperam que esses desastres climáticos se repitam, com efeitos duradouros sobre a produção global. Enquanto isso, o consumo de café continua inabalável – muito pelo contrário. Na China, por exemplo, os desejos de cafeína estão explodindo, e o consumo aumentou quase 40% em cinco anos. Nesse ritmo, o café já seria a segunda bebida mais consumida no mundo, depois da água.
Fonte: RTSLink externo, em 25.10.2024 (em francês)
Credit Suisse continua enrolado no “caso Moçambique”
O Gabinete do Procurador-Geral da Suíça (OAG) recebeu documentos de antigas empresas do Credit Suisse relacionados ao escândalo da dívida de Moçambique. A Câmara de Apelações rejeitou um recurso da instituição financeira, que foi adquirida pelo UBS.
Em setembro de 2023, o Ministério Público Federal da Suíça abriu um processo contra pessoas desconhecidas em conexão com o escândalo da dívida de Moçambique por suspeita de lavagem de dinheiro. O caso diz respeito a omissões ou ações de funcionários desconhecidos do Grupo Credit Suisse.
O ponto de partida do caso foi um pagamento de US$ 7,86 milhões em uma conta de uma das empresas do Credit Suisse, de acordo com uma decisão do Tribunal de Reclamações do Tribunal Penal Federal publicada na quarta-feira.
O dinheiro, supostamente de origem criminosa, foi debitado ao Ministério da Economia e Finanças de Moçambique. As circunstâncias que envolveram o fechamento subsequente da conta também estão sendo investigadas. Isso ocorreu sem que uma denúncia de suspeita tenha sido feita ao Escritório de Denúncia de Lavagem de Dinheiro.
O MPF se recusou a selar os documentos, conforme solicitado pelo Credit Suisse. A Câmara de Apelações confirma que não há razão válida para isso. Ela não aceitou o argumento do banco de sigilo comercial. Os bancos devem disponibilizar as informações solicitadas a fim de apoiar a acusação de crimes de lavagem de dinheiro.
O escândalo de Moçambique diz respeito a empréstimos concedidos a Moçambique pelo Credit Suisse há cerca de dez anos, sem o conhecimento do parlamento local ou do Fundo Monetário Internacional. O dinheiro deveria ser usado para pagar a construção de uma frota de pesca de atum. Uma grande parte do dinheiro foi paga em subornos.
No ano passado, o UBS encontrou uma solução extrajudicial para a disputa entre o Credit Suisse, que havia comprado, e o governo moçambicano.
Fonte: BluenewsLink externo em 30.10.2024 (em francês).
Será que o príncipe vai se mudar para Portugal?
Há uma semana, tornou-se oficial que o príncipe Harry (40) e a duquesa Meghan (43) haviam comprado uma propriedade em Portugal. Agora, há cada vez mais indícios de que uma mudança poderá ocorrer em breve.
Uma mudança para o país ensolarado teria muitas vantagens para o casal real: Portugal é “um dos lugares mais seguros da Europa”, explica a radialista Helena Chard à Fox News.
A região do sul da Europa também está mais próxima do Reino Unido do que sua atual residência nos EUA, na Califórnia. Isso é “um sinal promissor de que eles esperam trabalhar pela paz com a família real”, disse Chard.
Então, será que a tão esperada reconciliação realmente acontecerá em breve? Para o especialista em realeza Ian Pelham Turner, é ainda mais do que isso.
Como cita o especialista da Promiflash, o câncer do Rei Charles (75) também pode ser uma razão para a proximidade desejada: “Se algo acontecer com o Rei Charles, então é uma distância mais curta para visitá-lo”.
Já se sabia que a prima de Harry, a princesa Eugenie (34), e seu marido, Jack Brooksbank (38), também moram em Portugal. O casal possui uma casa no CostaTerra Golf and Ocean Club, cerca de duas horas ao sul de Lisboa.
Segundo consta, a nova propriedade de Harry e Meghan não fica muito longe de seus parentes. Aliás, o Príncipe Harry se dá muito melhor com eles do que com o resto de sua família.
Fonte: Nau.chLink externo em 26.10.2024 (em alemão)
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Publicaremos nossa próxima revista da imprensa suíça em 8 de novembro. Enquanto isso, tenha um bom fim de semana e boa leitura!
Até a próxima semana!
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