Mercosul e União Europeia: o acordo é pra valer?
Nesta edição, trazemos um panorama das notícias mais impactantes da semana, com enfoque em temas de relevância nacional e internacional.
De 30 de novembro a 6 de dezembro de 2024, vasculhamos a imprensa suíça para dar uma visão geral das notícias mais importantes relacionadas ao Brasil, Portugal ou África lusófona.
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Nossa newsletter sobre o que a imprensa suíça escreve sobre o Brasil, Portugal e a África lusófona
A maior parceria comercial do mundo ainda precisa ser ratificada
Apesar de a Suíça não fazer parte da União Europeia (UE), a imprensa helvética acompanhou avidamente a reta final das negociações, que já duram 25 anos. Afinal, o acordo certamente afetará o mercado agrícola da pequena nação alpina – como isso se dará, porém, ainda é assunto de especulação.
Mesmo com o acordo assinado hoje Montevidéu, Uruguai, entre os presidentes do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, alguns líderes europeus já se manifestaram contrariamente ao acordo, como o presidente francès Emmanuel Macron e a italiana Georgia Meloni.
O jornal online WatsonLink externo destaca que “após a conclusão das negociações, os textos do acordo ainda precisam ser examinados juridicamente e traduzidos para os idiomas dos países signatários antes de serem assinados. Também ainda não está claro se o acordo será dividido em uma parte comercial e uma parte política. Uma divisão poderia evitar que estados da UE, como a França e a Polônia, que continuam a criticar o acordo, impeçam que ele entre em vigor no final.
O pano de fundo disso é que, de acordo com as normas dos tratados da UE, os acordos comerciais podem ser decididos por maioria de votos e os tratados não são ratificados nacionalmente por todos os estados-membros. Os procedimentos de ratificação nacional só se tornam necessários se os acordos também contiverem disposições políticas que não sejam de competência exclusiva da UE.”
Outro jornal online, Nau.chLink externo, publicou um quadro com as questões-chave do acordo e o que elas acarretam.
Fontes: WatsonLink externo em 05.12.2024, e Nau.chLink externo em 06.12.2024 (ambos em alemão)
Queimadas nas Américas provocam emissão recorde de CO2
O Serviço de Monitoramento Atmosférico do Programa Copernicus de Observação da Terra (Cams) da UE anunciou na quinta-feira que milhões de hectares de florestas e terras agrícolas na região amazônica, no Canadá e no oeste dos EUA foram destruídos pelos incêndios. Além disso, a seca exacerbada pela mudança climática acelerou os incêndios na maior área úmida do mundo, o Pantanal, que é compartilhado pelo Brasil, Bolívia e Paraguai.
De acordo com a Cams, os grandes incêndios na América do Sul também tiveram um impacto na qualidade do ar em uma “escala continental”. Enormes nuvens de fumaça envolveram grandes cidades como Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo este ano; o ar ficou poluído por várias semanas devido à forte fumaça.
A escala de alguns dos incêndios atingiu “dimensões históricas”, explicou o especialista da Cams, Mark Parrington. Isso se aplica especialmente à Bolívia, ao Pantanal e a partes da região amazônica. De acordo com o cientista, os incêndios nas florestas canadenses foram mais uma vez “extremos”.
No Pantanal, houve uma “atividade de incêndio florestal sem precedentes” em 2024, o que, de acordo com Cams, representa uma séria ameaça ao ecossistema e à sua biodiversidade. De acordo com o programa da UE, a Nicarágua registrou as maiores emissões de carbono de incêndios de todos os tempos. Na Bolívia, as emissões anuais de carbono ficaram bem acima do recorde anterior.
Fonte: BluenewsLink externo, em 06.12.2024 (em alemão)
Chegou a hora dos PIGS
É uma vergonha para a França, mas um marco histórico para a Grécia. 15 anos após o início da crise da dívida grega, na qual o país perdeu a confiança dos investidores internacionais, discutiu a saída do euro e esteve à beira da insolvência, o ex-candidato à falência é visto pelos mercados como um devedor mais sólido do que a França.
O país não está sozinho. De fato, algo notável aconteceu na economia europeia: Os países do sul, que há uma década ainda eram considerados os filhos problemáticos da zona do euro, estão passando por uma recuperação notável. Grécia, Espanha e Portugal, antes à beira do abismo financeiro, agora estão crescendo mais rápido do que a Alemanha, o tradicional motor de crescimento da UE.
As economias dos antigos retardatários cresceram mais de duas vezes mais rápido do que a média da zona do euro em 2023 e provavelmente alcançarão um crescimento igualmente notável este ano.
Os pesquisadores econômicos da Comissão Europeia, por exemplo, esperam que a economia grega cresça 2,1% este ano, a de Portugal 1,7% e a da Espanha até 3,0%. Em comparação, espera-se que a economia da Alemanha sofra uma leve retração este ano, assim como no ano passado.
Há uma década, o mapa econômico da Europa era muito diferente. A Alemanha era o motor do crescimento, enquanto o sul da Europa estava em uma crise profunda. A crise financeira após 2008 atingiu os países que fazem fronteira com o Mediterrâneo de forma particularmente dura por vários motivos, e os resgates bancários e os programas de estímulo econômico fizeram com que a dívida nacional explodisse nesses países.
Às vezes, os países em crise eram chamados de GIPS (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha) e, nos círculos bancários, às vezes eram chamados de forma particularmente depreciativa de PIGS – coincidentemente, a abreviação é a palavra inglesa para “pigs” (porcos).
A Irlanda se recuperou surpreendentemente rápido da crise, mas os países do sul da Europa, especialmente a Grécia, tiveram uma década perdida: o turismo se recuperou apenas lentamente e a queda dos salários, o cancelamento de benefícios sociais, a insegurança dos consumidores e os programas de austeridade do governo alimentaram um círculo vicioso de contração econômica.
A Itália, por exemplo, ficou atrás da taxa média de crescimento da UE por mais de uma década. Até hoje, o país ainda está lutando com quase duas décadas de estagnação generalizada.
Fonte: Die Welt em 04.12.2024 (em alemão)
Corteva quer expandir seu braço de soja no Brasil
A empresa norte-americana de agroquímicos e sementes Corteva quer aumentar a concorrência da Bayer no mercado brasileiro de sementes de soja. O Brasil é o mercado-alvo para um maior crescimento da empresa, explicou Chuck Magro, CEO da Corteva, em uma entrevista à agência de notícias Bloomberg publicada na quinta-feira. Ele não vê razão para que “20 ou 30 por cento da área cultivada com soja no Brasil não possa ser atendida até o final da década”. Atualmente, a Bayer, em particular, tem uma forte presença no país, que é o maior produtor mundial de sementes de soja.
As sementes da Corteva permitem que os agricultores pulverizem áreas com herbicidas como glifosato e 2,4-D-colina, já que essas plantas de soja são imunes aos pesticidas. De acordo com a empresa, a Corteva já conquistou grande parte do mercado dos EUA com o sistema de sementes Enlist 3 correspondente, enquanto a participação de mercado no Brasil ainda é insignificante. O Enlist 3 concorre diretamente com os produtos Roundup da Bayer em um mercado que vale bilhões.
Em novembro, a Bayer havia reduzido suas perspectivas para o ano, em parte devido à lentidão dos negócios agrícolas. A pressão sobre o negócio de sementes de soja no Brasil aumentou como resultado dos preços mais baixos nos mercados agrícolas, explicou o chefe da divisão agrícola da Bayer, Rodrigo Santos, ao apresentar os números do terceiro trimestre.
As ações da Bayer, que já estavam sob forte pressão, sofreram uma pressão ainda maior como resultado da redução da previsão. A empresa já perdeu 42% de seu valor somente em 2024, o que a coloca em último lugar no principal índice alemão DAX. Entretanto, o litígio do glifosato nos EUA também desempenha um papel importante. As ações da Corteva, por outro lado, ganharam mais de 25% em 2024.
Fonte: CASHLink externo, em 05.12.2024 (em alemão)
A Volkswagen e a escravidão moderna
O Ministério Público do Trabalho brasileiro processou a Volkswagen do Brasil por possível trabalho escravo em uma fazenda na Amazônia nas décadas de 1970 e 1980.
Na ação civil, as autoridades estão exigindo pagamentos de indenização no valor total de 165 milhões de reais (cerca de 26 milhões de euros). A Volkswagen do Brasil não comentou inicialmente sobre o assunto quando perguntada. Um acordo extrajudicial fracassou em março do ano passado.
As alegações referem-se às condições da Fazenda Volkswagen, que pertencia a uma subsidiária da Volkswagen do Brasil. De acordo com os investigadores, guardas armados e um sistema de servidão por dívida impediam os trabalhadores de deixar a fazenda. Essas são características do trabalho escravo moderno.
“Documentos e testemunhos comprovam as graves violações de direitos humanos na fazenda durante esse período”, disse o procurador Rafael Garcia Rodrigues. “Os trabalhadores foram submetidos a condições análogas à escravidão por meio de jornadas de trabalho exaustivas, condições degradantes de trabalho e servidão por dívida.”
Com a Fazenda Volkswagen, o fabricante de automóveis queria entrar no negócio de carnes. A fazenda foi fundada na década de 1970 e apoiada pela ditadura militar brasileira. Tinha cerca de 1.400 quilômetros quadrados e cerca de 300 trabalhadores. Os trabalhadores terceirizados responsáveis pela limpeza da terra não eram empregados diretamente pela subsidiária.
Fonte: CASHLink externo, em 05.12.2024 (em alemão)
As agruras de Ava Gardner no Brasil
Em 1954, a estrela de Hollywood Ava Gardner foi ao Brasil para apresentar seu último filme, The Barefoot Countess (A Condessa Descalça), de Joseph Mankiewicz, no qual estrelou ao lado de Humphrey Bogart. É difícil encontrar artigos ou arquivos sobre essa estada de dois dias, mas ela de fato aconteceu. Então, quanto dessa história em quadrinhos “Ava” é fato e quanto é ficção? É difícil saber.
Parece, no entanto, que a mulher que foi considerada, com razão, uma das mais belas mulheres do mundo passou por um inferno no Brasil. A recepção não foi de fãs, mas de homens ansiosos para chegar perto, para tocar, a mulher que na época era chamada de “o animal mais bonito do mundo”. Maltratada e hostilizada, Ava tenta encontrar uma ilha de calma nessa tempestade, mas não é fácil, especialmente porque ela foi enviada para um palácio diferente daquele que queria.
Ao longo das páginas, o roteiro de Emilio Ruiz mostra o caráter forte de Ava, sua propensão para a bebida e sua capacidade de manter a compostura. Mas o que também vemos é a pressão exercida sobre a atriz pelos estúdios, é claro, mas acima de tudo pelos homens.
Eles queriam dominá-la, possuí-la. Durante muito tempo, Ava foi submetida aos avanços mais do que insistentes, sobretudo invasivos, do bilionário Howard Hughes. E em 1954, a estrela se casou com Frank Sinatra, que a traiu. Ela o deixou logo após essa viagem para ir morar na Espanha.
Então, será que o exílio europeu de Ava Gardner foi desencadeado por esses dois dias no Brasil? O álbum pode nos levar a acreditar que sim. O que é certo é que essa história fascinante é maravilhosamente ilustrada por Ana Mirallès. Ela é, sem dúvida, a mulher que melhor desenha mulheres (“Djinn”, “Eva Medusa”).
Sua Ava é perturbadoramente semelhante, alternando poses de pin-up com extraordinária classe. Uma leitura que obviamente faz você querer ver novamente “A Condessa Descalça”, “As Neves do Kilimanjaro” ou o fascinante “A Noite da Iguana”. E tantas outras maravilhas que ela iluminou com sua presença.
Fonte: Le MatinLink externo em 05.12.2024 (em francês)
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Publicaremos nossa próxima revista da imprensa suíça em 13 de dezembro. Enquanto isso, tenha um bom fim de semana e boa leitura!
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