Política suíça de proteção do clima gera críticas
Pacote de medidas apresentado pelo Ministério do Meio Ambiente não inclui imposto de CO2 sobre combustíveis e decepciona verdes, social-democratas e ambientalistas.
Diante da preocupação que a população suíça demonstra em pesquisas de opinião sobre a mudança climática, eram esperadas medidas mais radicais.
Ao mesmo tempo em que o diretor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o alemão-brasileiro Achim Steiner, cobrava na primeira conferência pós-Bali em Mônaco mais investimentos dos países ricos para a proteção do clima, o ministro suíço do Meio Ambiente, Moritz Leuenberger, anunciou esta semana um plano que agradou a indústria, mas decepcionou os ambientalistas e políticos progressistas do país.
O principal alvo das críticas é que o imposto de CO2 sobre gasolina e diesel não será instituído imediatamente, como havia proposto Leuenberger, derrotado por seus colegas de gabinete. A idéia só voltará à pauta após 2012, se a Suíça não cumprir até lá suas metas de redução das emissões de dióxido de carbano conforme previsto no Protocolo de Kyoto.
O Conselho Federal (Executivo suíço) almeja uma redução de pelo menos 20% das emissões dos gases do efeito estufa até 2020 e de 50% até 2050, partindo dos níveis registrados em 1990. Isso significa uma redução de 1,5% ao ano, disse Leuenberger. A compra de certificados de emissões no exteiror deve ajudar a atingí-la, acrescentou.
Além disso, o Minstério do Meio Ambiente fará uma revisão da chamada Lei de CO2, cuja vigência vai de 2000 a 2012, incluindo um pacote de 22 novas medidas, entre elas, um sistema de “bônus-malus” para o IPVA e estímulos financeiros diretos para saneamento energético de edifícios velhos.
Na política energética, o governo federal quer uma redução de 20% do consumo de energias fósseis, limitar o aumento do consumo de energia a 5%, aumentar para 50% a participação das energias renováveis na matriz energética e proibir as lâmpadas incandescentes convencionais a partir de 2012.
Quinze das 22 medidas do plano de ação, que será discutido pelo Parlamento nos próximos quatro anos, são para aumentar a eficiência energética da construção civil, do trânsito e dos equipamentos elétricos, incluindo também projetos de pesquisa e transferência de tecnologia.
Sete medidas destinam-se a fomentar as energias renováveis, sobretudo a geração de energia a partir de biomassa, a produção de energia para a calefação de edifícios e incentivos à hidroenergia.
„Pseudoproteção do clima”
Enquanto o setor econômico e os partidos de centro se mostam satisfeitos com o adiamento do imposto de CO2 sobre combustíveis, os verdes, a esquerda e organizações ambientalistas falam de uma “pseudoproteção do clima”.
“É uma vergonha que o Conselho Federal mais uma vez aposte na Fundação do Centavo do Clima (FCC)”, afirma um comunido do Greenpeace. Com isso, há o risco de que as emissões de CO2 no trânsito continuem aumentando e que a Suíça não cumpra suas metas de proteção do clima até 2012, acrescenta a organização.
Essa avaliação é partilhada pelos partidos Verde e Social-Democrata (SP), o Clube do Automóvel da Suíça, a Fundação Suíça de Energia e a Aliança Stopp Atom, que acusam o governo de haver cedido à pressão do lobby da indústria.
As metas são modestas demais para reduzir em pelo menos 20% os gases prejudiciais ao clima até 2020 como a UE, afirma o SP. Isso não é suficiente para limitar o aquecimento global. A redução teria de ser de 30%, acrescentam os verdes.
A União Democrática de Centro (UDC) também está insatisfeita com as propostas do governo, mas por outro motivo. “Elas são inaceitáveis porque só prejudicam a economia”, disse o porta-voz do partido, Alain Hauert. Ele criticou também a falta de um plano concreto para o futuro abastecimento energético do país.
Clima favorável a medidas radicais
A timidez do pacote climático foi criticada também pelos principais jornais do país. Diante dos sinais evidentes do aquecimento global, como o derretimento das calotas polares e das geleiras dos Alpes, onde muitas pistas de esquí estariam fechadas neste inverno se não fosse a neve artificial, esperava-se do governo o anúncio de medidas mais radicais.
Numa pesquisa representativa realizada em janeiro passado, 86% dos suíços entrevistados disseram que a mudança climática poderia ser freada através de uma mudança do padrão de consumo pessoal. Metade deles disse ser favorável a leis ambientais mais rigorosas e que estariam dispostos a pagar preços mais elevados pela energia e pelos combustíveis.
Em vez de aproveitar esse clima aparentemente favorável na população, o governo prefere harmonizar sua política para o clima com a da União Européia (UE), cujas metas são bem mais modestas do que as defendidas pelos setores progressistas no país. Essa opção coincide com o argumento da indústria de que, em termos de redução de CO2, é a UE que precisa acelerar e não a Suíça.
Mas talvez o Conselho Federal seja apenas realista. Segundo a revista Beobachter (Observador), ainda existe uma enorme discrepância entre o que os suíços dizem estar dispostos a fazer pela proteção do clima e o que realmente fazem na prática.
swissinfo, Geraldo Hoffmann
O Parlamento suíço ratificou o Protocolo de Kyoto em 2003. A Suíça quer reduzir suas emissões de CO2 em 10% até 2010 em relação a 1990.
Peritos duvidam que essa meta seja alcançada. Em 1990, o país emitia 53,3 milhões de toneladas de CO2; em 2000 eram 52.7 toneladas (80% das emissões totais).
A Lei de CO2 entrou em vigor em 2002 para ajudar a alcançar as metas de Kyoto. Há um ano, o Conselho Federal definiu novas diretrizes para a política energética e de proteção do clima. Sua estratégia baseia-se em quatro pilares: o aumento da eficiência energética e o fomento às energias renováveis têm prioridade. Além disso, a Suíça aposta na energia nuclear (eventualmente usinas a gás como solução intermediária) e na cooperação internacional no setor de energia.
Segundo um estudo do Ministério do Meio Ambiente, as emissões de CO2 per capita da Suíça – inclusive as causadas pela produção e pelo consumo de produtos importados ou exportados pelo país – oscilam entre 10,7 e 12,5 toneladas por ano e corresponde à média registrada nos países-membros da Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento (OCDE).
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