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Como a missão de paz da ONU opera no Líbano e qual é a contribuição da Suíça?

A Swiss military observer keeps watch over the Golan Heights in Israel
Um observador militar suíço observando as Colinas de Golã em Israel com seu binóculo. swissinfo.ch

As forças de paz da ONU no Líbano seguem ativas, mesmo em meio a ataques de Israel que bombardeia o sul do Líbano mirando o Hezbollah. SWI swissinfo.ch examina o papel da Força Interina da ONU e da Suíça nesta região volátil.

O que é a UNIFIL?

Implantada no sul do Líbano, a Força Interina da ONU no Líbano (UNIFIL) é uma força de manutenção da paz que atualmente conta com 10.000 oficiais. Foi criada pelo Conselho de Segurança da ONU em 1978, após a primeira invasão de Israel no  Líbano. A missão inicial da UNIFIL era confirmar a retirada das forças israelenses do Líbano, restaurar a paz e a segurança internacionais e auxiliar o governo libanês a restabelecer a autoridade na área.

A UNIFIL é composta principalmente por oficiais de serviços militares e policiais de diferentes países, destacados para trabalhar com a ONU. Atualmente, a missão conta com uma pequena porcentagem de civis. Itália, França, Espanha e Irlanda são alguns dos países europeus que contribuem ativamente com a UNIFIL. A Itália é o maior apoiador ocidental em termos de número de tropas, tendo destacado quase 900 soldados. A Indonésia é o país que mais contribui com tropas para a missão, com 1.231 soldados.

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A missão ao longo do tempo

A UNIFIL vem enfrentando desafios significativos ao longo das décadas, acompanhando o compasso dos conflitos militares entre Israel e o Líbano.

Em junho de 1982, Israel iniciou uma segunda invasão do Líbano. O ataque serviu para criar as bases de uma zona de controle e segurança no sul do país, mantida por Israel com o apoio do Exército do Sul do Líbano (SLA), dominado por cristãos, até 2000. Como resistência a essa segunda invasão de Israel surgiu o Hezbollah que, apoiado pelo Irã, se tornou uma poderosa força política e militar no Líbano.

Em abril de 2000, Israel anunciou a retirada completa de suas tropas do Líbano. Em maio, as Forças de Defesa de Israel (IDF) e as forças do SLA se retiraram e a ONU estabeleceu a chamada Linha Azul, marcando o fim da ocupação. Em outubro do mesmo ano, o Conselho de Segurança da ONU endossou o desfecho do conflito com a Resolução 1310, que encoraja o Líbano a fortalecer sua presença no sul, que era então um reduto do Hezbollah.

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Em 2006, após novos conflitos entre Israel e o Hezbollah, o Conselho de Segurança adotou a Resolução 1701, que ampliou significativamente o mandato da UNIFIL.  A ONU decidiu aumentar as tropas, somando 15.000 oficiais, e estabelecer uma Força-Tarefa Marítima para auxiliar a Marinha Libanesa no monitoramento de águas costeiras e na prevenção de transferências de armas não autorizadas.

Qual é a diferença entre UNIFIL e UNTSO?

A UNIFIL opera dentro de uma estrutura mais ampla da ONU, a Supervisão da Trégua (UNTSO), a primeira missão de paz estabelecida para atuar na região do Oriente Médio.

Estabelecida em 1948, essa estrutura da ONU conta com participação ativa da Suíça. Atualmente a UNTSO mobiliza aproximadamente 150 observadores militares desarmados e mais de 200 funcionários civis com o objetivo de apoiar as missões de paz.

Os observadores da UNTSO apoiam a UNIFIL no sul do Líbano e a Força de Observação de Desengajamento das Nações Unidas nas Colinas de Golã, área que Israel tomou da Síria na Guerra dos Seis Dias de 1967 e continua a ocupar militarmente até hoje. Além disso, a UNTSO mantém escritórios no Egito, Israel, Jordânia, Líbano e Síria para promover o diálogo e a cooperação regional.

Quais são os desafios atuais da UNIFIL?

A UNIFIL sofreu mais de 20 ataques no sul do Líbano desde o início de outubro, quando Israel iniciou sua ofensiva terrestre no país com o objetivo de destruir o Hezbollah. O grupo militante e Israel vinham trocando ataques transfronteiriços desde o início da guerra de Gaza, em outubro do ano passado.

Em 29 de outubro de 2024, um foguete que provavelmente foi disparado pelo Hezbollah ou um grupo afiliado atingiu a sede da UNIFIL em Naqoura, no sul do Líbano. Oito soldados austríacos sofreram ferimentos leves e superficiais quando o foguete atingiu uma oficina de veículos, causando um incêndio.

A ofensiva terrestre israelense no Líbano colocou repetidamente as forças de paz da ONU em perigo. Em 7 de novembro, seis forças de paz da Malásia foram feridas em um ataque de um drone israelense, enquanto cruzavam um posto de controle em um ônibus da ONU. Três pessoas morreram em um carro próximo. No dia seguinte, a UNIFIL declarou que soldados das forças israelenses usaram escavadeiras e tratores para destruir uma cerca e uma estrutura de concreto de um de seus pontos de manutenção da paz.

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A UNIFIL considera tais ações como deliberadas. Em outubro, a missão acusou as forças israelenses de violar a Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU , que delineou o fim das hostilidades anteriores entre Israel e o Hezbollah. A UNIFIL apontou para os múltiplos incidentes em que ataques israelenses atingiram seu pessoal, resultando em ferimentos, interrompendo operações e danificando a infraestrutura.

Israel nega as acusações de que estaria deliberadamente mirando em soldados da paz da ONU. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse em uma declaração em vídeo em 14 de outubro que a UNIFIL deveria “temporariamente sair do caminho do perigo”. As forças israelenses, de acordo com a UNIFIL, também pressionam repetidamente para que a missão da ONU “desocupe suas posições ao longo da Linha Azul,  deliberadamente danificando as bases da ONU”.

O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, alertou no mês passado que os ataques à UNIFIL “podem constituir um crime de guerra”. A missão de manutenção da paz declara que planeja permanecer, apesar da pressão exercida sobre ela e sobre os países contribuintes de tropas.

Qual é o papel da Suíça na manutenção da paz da ONU?

A Suíça não participa diretamente da missão da UNIFIL no Líbano ou da missão da UNDOF nas Colinas de Golã. Daniel Seckler, chefe de comunicações da SWISSINT, o Comando Internacional das Forças Armadas Suíças, esclareceu em um e-mail para a SWI swissinfo.ch: “UNTSO/ONUST é a única missão no Oriente Médio onde pessoal militar suíço é destacado.”

A SWISSINT tem a tarefa de executar a missão de manutenção da paz da Suíça no exterior, conforme descrito na Constituição Federal e na Lei Militar. Esta missão é uma das três principais responsabilidades das Forças Armadas Suíças.

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A Suíça tem enviado observadores militares desarmados e oficiais para operações de manutenção da paz da ONU ao redor do mundo desde 1990. Atualmente, quase 300 homens e mulheres – variando em patente desde soldado raso até major-general – estão trabalhando para tais missões, em 18 países.

No âmbito da UNTSO, a Suíça tem militares destacados nos seguintes locais: Israel (três membros da equipe, incluindo o chefe da missão), Síria (seis), Líbano (três) e Egito (um). Nenhum oficial suíço está destacado na Jordânia, embora o país seja parte da área de operações da UNTSO.

A contribuição da Suíça para a UNTSO atingiu um marco em outubro de 2021, quando Guterres nomeou o Major General suíço Patrick Gauchat como chefe de missão da UNTSO. Essa foi a primeira vez que um oficial suíço comandou uma missão de manutenção da paz da ONU.

Edição: Lindsey Johnstone/fh
(Adaptação: Clarissa Levy)

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