
Exilados colombianos contribuem para a reconciliação

Reconciliação é um objetivo importante do trabalho de paz. Pela primeira vez, a Colômbia incluiu pessoas muitas vezes esquecidas: os refugiados. Mário Morales*, que fugiu para a Suíça, é uma deles.
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De 1958 a 2016, o Estado, as guerrilhas de esquerda, como as FARCLink externo, e os grupos paramilitares de direita estiveram em guerra entre si na Colômbia. O conflito continua a se agravar até hoje. Em 2018, uma comissão da verdade colombiana iniciou o seu trabalho – para investigar as violações dos direitos humanos cometidas.
Mário Morales é uma das milhões de pessoas deslocadas em consequência do conflito. Na Colômbia, ele trabalhava em prol dos povos indígenas. Por isso, ele quase perdeu a vida quando um suposto paramilitar de direita disparou, de uma motocicleta, inúmeros tiros contra ele. Milagrosamente, apenas sofreu ferimentos leves. O ataque foi seguido de ameaças contra ele e sua família. Moralis decidiu fugi e viajou para a Suíça em 2019.
O objetivo da Comissão da Verdade da ColômbiaLink externo era esclarecer as causas e padrões do conflito e a sua longa duração. O processo de investigação visa também recomendar ao Estado e à sociedade civil formas de evitar uma situação semelhante à de uma guerra civil no futuro – e deve criar uma verdade comum para a sociedade colombiana atual.
Para isso, a Comissão da Verdade entrevistou 30 mil vítimas e perpetradores, testemunhas oculares e sobreviventes. Não só na Colômbia: a comissão também recolheu cerca de 2.100 testemunhas em 23 outros países. Mário Morales é uma das 60 delas na Suíça.

Depoimentos recolhidos no exílio
Morales só fugiu depois do acordo de paz entre o governo e as FARC – a pacificação da Colômbia não está de modo algum concluída com este acordo histórico. O tráfico de drogas e a presença de grupos armados ainda alimentam a violência.
Na Suíça, Mário Morales obteve asilo e pôde concluir seus estudos graças a um programa de integração. Ele está ciente de que as suas condições de vida são incomparavelmente melhores do que as de muitos de seus compatriotas refugiados. Mas ele não procurou esta vida involuntária no exterior, foi imposta a ele. Ele sofreu durante muito tempo com isso.
O pedido para testemunhar perante a Comissão da Verdade foi catártico para ele. Afinal, era a primeira vez que alguém lhe fazia perguntas sobre o assunto desde a sua fuga.
Desde a década de 1970 que existem dezenas dessas comissões sobre muitos conflitos. No entanto, a Comissão da Verdade da Colômbia é a primeira a incluir sistematicamente pessoas exiladas. Também classificou explicitamente o exílio devido a um conflito armado como uma violação dos direitos humanos.
Na Suíça, a Fundação Swisspeace coordenou a participação da diáspora e a coleta de testemunhos. Ela recebeu do governo federal o mandato para lançar projetos de mediação de conflitosLink externo do passado (em inglês denominado “Transitional Justice”). Lidar com o passado significa ajudar as sociedades a aceitarem um passado conturbado e a iniciarem um processo de reconciliação.
“A Comissão da Verdade colombiana é muito inovadora e tem recebido muita atenção global”, diz Lisa Ott, responsável pelo tema na Swisspeace.. A inclusão de grandes setores da sociedade, o amplo enfoque temático e a digitalização contínua lhe conferem um caráter exemplar. A inclusão de pessoas no exílio é também uma importante novidade: “Os conflitos conduzem sempre a deslocamentos de refugiados. Estas pessoas sofrem duplamente – como vítimas do conflito e como refugiados no exílio”. Outras comissões da verdade em todo o mundo poderiam aprender com essa experiência.
Há mais de uma década que a Suíça tenta posicionar-se na mediação de conflitos internacionais. “Faz parte da política externa suíça apoiar os processos globais de paz”, diz Ott.

Suíça comprometida com a Colômbia
A Colômbia tem sido um país prioritário para a política suíça de paz e de direitos humanos há duas décadas. Juntamente com outros países, a Suíça ofereceu seus serviços de mediação durante muitos anos, muitos dos quais – como é comum em tais questões – ainda não são de conhecimento público. No entanto, um anúncio em outubro de 2023 mostrou que esta poderia ser uma contribuição significativa: A Suíça tornou-se, entretanto, um Estado garantidor nas negociações entre o governo colombiano e o grupo rebelde ELN. Ela participará das negociações e prestará apoio político e técnico ao processo.
Há ainda uma outra ligação com a Comissão da Verdade colombiana: uma cópia de backup digital de seus arquivos foi criada na Suíça. Isso inclui os depoimentos dos entrevistados no exílio. Portanto, também os de Mário Morales, que continua a viver na Suíça.
Edição: Benjamin von Wyl
Adaptação: Karleno Bocarro
* nome modificado por questões de segurança

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