Kira Peter-Hansen: a jovem “suíça” no Parlamento Europeu
Aos 21 anos, Kira Peter-Hansen foi eleita para o Parlamento Europeu, tornando-se, em seguida, a parlamentar mais votada da Dinamarca. Com dupla cidadania dinamarquesa e suíça, ela pretende trabalhar pelo fortalecimento das relações entre a União Europeia e a Suíça.
“Já cogitei várias vezes participar dos referendos”, diz Kira Peter-Hansen. “Sempre dou uma olhada no material eleitoral enviado pela Suíça”, admite a parlamentar europeia: “É muito interessante ver quais temas são importantes para os cidadãos”, afirma.
Como por exemplo, quando foi decidida a questão da adesão da Suíça ao acordo fiscal da OCDE. “Eu mesma negociei esse acordo no Parlamento da UE”, diz com um sorriso.
Nascida em 1998, filha de pai suíço natural de Flühli, no cantão de Lucerna, Peter-Hansen não apenas tem passaporte suíço, como também mantém um estreito relacionamento com esse país que não faz parte da UE.
Ela passou parte de sua infância na Suíça e visita o país regularmente com seu parceiro, que também tem família no país.
No entanto, Kira Peter-Hansen não revela mais sobre sua infância. “Prefiro separar o privado do público”, diz. Por isso se abstém de publicar o currículo Link externono site oficial do Parlamento da UE.
Desde 1979, o Parlamento Europeu é escolhido em eleições diretas nos países-membros da União Europeia. Desde então, ele tem ampliado continuamente suas competências.
A dinamarquesa Kira Peter-Hansen, retratada neste artigo, não é apenas a deputada mais jovem já eleita para o Parlamento Europeu, mas seu nome consta também atualmente entre os mais influentes.
Espaço para jovens
Até hoje, Kira Peter-Hansen não chegou a se envolver politicamente na Suíça: “Nunca fiz uso do meu direito de voto. Acho que não tenho um envolvimento suficientemente no país a ponto de tomar decisões. Acho melhor deixar isso para outras pessoas”, explica.
Um contexto totalmente diferente daquele de sua atuação na Dinamarca, onde cresceu, na capital Copenhague, ao lado de sua mãe dinamarquesa: aos 17 anos, Kira Peter-Hansen entrou para a organização juvenil do Partido Popular Socialista.
Isso se deu em um momento especial, como lembraLink externo um ex-diretor do jornal Information: “Depois de uma participação exaustiva no governo, o partido perdeu muitos membros. Naquela época, havia muito espaço para pessoas mais jovens”.
“Estou sempre tentando me familiarizar totalmente com minhas questões e me esforçando para permanecer honesta, mesmo quando há algo que não posso responder”, diz Kira Peter-Hansen.
Essa atitude fez com que a jovem avançasse dentro do próprio partido. Desde sua filiação, há quase dez anos, o partido, que integra a facção verde no Parlamento Europeu, conseguiu conquistar um novo e amplo eleitorado.
“Acho que isso se dá, porque eu e meu partido defendemos algo em que as eleitoras e os eleitores acreditam. As pessoas querem políticos que tragam boas soluções, mas também que cooperem e trabalhem de forma pragmática, que façam acordos, talvez sem muito alarde, mas que trabalhem duro”, diz Peter-Hansen.
“Dedicada, pragmática e comunicativa”
Kira Peter-Hansen não desaprendeu essa habilidade depois de sua primeira eleição para o Parlamento Europeu em 2019. Como a mais jovem deputada da história, ela “fez seu nome como uma política dedicada, pragmática e comunicativa”, diz Petros Fassoulas.
O secretário-geral da confederação internacional do Movimento Europeu em Bruxelas considera o sucesso de Kira Peter-Hansen nas urnas como um “sinal contra a tendência eurocética de direita em grandes países-membros como a Alemanha e a França”.
Nas eleições de junho deste ano, Kira Peter-Hansen obteve o maior número de votos na Dinamarca – e seu Partido Popular Socialista se tornou a maior facção do país.
“Nesse contexto”, observa Fassoulas, “é surpreendente que ela esteja atuando agora no Parlamento não nas áreas nas quais se destacou durante a campanha eleitoral – como a proteção climática e o combate ao uso de substâncias químicas –, mas sobretudo nos assuntos econômicos”.
Peter-Hansen empenhou-se na bem-sucedida campanha pela chamada “Diretiva de Transparência Salarial”, que obriga as empresas a divulgar as diferenças salariais específicas de gênero e a tomar medidas se elas forem significativas.
Apesar de ser jovem e ter um jeito reservado, por vezes até tímido, Kira Peter-Hansen nunca teve medo de negociar quando são tomadas decisões importantes.
Depois de apenas um ano no Parlamento da UE, ela se candidatou com sucesso ao cargo de vice-presidente da facção verde. E também se candidatou com sucesso a um cargo na Comissão de Assuntos Econômicos e Monetários (ECON), ocupada majoritariamente por homens, onde foi nomeada coordenadora parlamentar de negociações para questões de lavagem de dinheiro e regulamentação bancária.
Além disso, Kira Peter-Hansen é vice-presidente da subcomissão para questões tributárias, onde se empenha, entre outros, para que grupos empresariais internacionais de tecnologia, como Google ou Apple, paguem impostos nas localidades da UE onde mantêm suas representações.
Parte do pensamento político
Essa conduta não é apenas bem-vista pelo eleitorado dinamarquês de Peter-Hansen, como também fortalece sua posição no Parlamento da UE: segundoLink externo o Instituto de Análises Matrix, a deputada está hoje entre os 25 nomes mais importantes do Parlamento.
Kira Peter-Hansen acentua que não pretende atuar como uma política “dinamarquesa” ou “suíça”, mas como uma política europeia: “Trabalho para toda a UE e deixo os interesses especiais nacionais de lado”, diz.
Isso não significa, contudo, que a parlamentar não envolva a Dinamarca e a Suíça em seu pensamento político: “Quando, por exemplo, há algo que funciona bem em um desses países, é possível transpor isso para toda a UE”, pondera.
Entre suas experiências mais relevantes na Dinamarca, Peter-Hansen cita a posição das mulheres na política. Um dos primeiros exemplos, nos quais ela se inspirou, foi a ex-primeira-ministra dinamarquesa: a social-democrata Helle Thorning-Schmidt. “Para mim, ela demonstrou que “o lugar das mulheres é em altos cargos políticos”, pontua.
Kira Peter-Hansen se diz também impressionada com o comprometimento de muitos jovens em iniciativas populares e referendos na Suíça, especialmente no que diz respeito ao tema “clima e natureza”.
Como mulher jovem em um parlamento transnacional, Kira Peter-Hansen ganha pontos menos com grandes aparições em plenário e mais com sugestões construtivas no processo legislativo.
Em termos concretos, isso significa que os Serviços Parlamentares Europeus registraram pouquíssimos discursos proferidos pela suíça-dinamarquesa, mas um nada modesto número de 1552 emendas. “Sinto-me mais confortável em salas de negociação do que diante das câmeras”, resume Peter-Hansen.
Membro da delegação suíça
No que diz respeito às negociações em andamento entre a UE e a Suíça sobre acordos bilaterais, Kira Peter-Hansen espera que as relações se tornem mais próximas e que a cooperação nas áreas de proteção ambiental, tributos e lavagem de dinheiro se torne mais intensa.
Como cidadã suíça, a parlamentar gostaria que a Suíça se colocasse como “um player ativo no mundo e na Europa”. Nos próximos anos, Peter-Hansen terá a oportunidade de deixar rastros nesse contexto: há pouco, o Parlamento da UE elegeu a dinamarquesa de cidadania suíça para integrar a delegação encarregada das relações do bloco com a Suíça (DEEA).
Em nenhum outro lugar, a proximidade e a distância simultâneas da Suíça “oficial” em relação às instituições centrais da UE são mais visíveis e palpáveis do que na Praça de Luxemburgo, em Bruxelas – um local equivalente à Bundesplatz de Berna.
Em frente ao poderoso complexo de edifícios do Parlamento Europeu, a Praça de Luxemburgo, cercada por bancos, é cenário regular de grandes manifestações. Ali, nos vários cafés e restaurantes, reúnem-se as pessoas que pretendem causar algo na Europa: parlamentares, estagiários, funcionários públicos, representantes de ONGs, lobistas e diplomatas.
Ao lado de muitos símbolos da Europa, uma bandeira suíça ocupa um lugar de destaque no oeste da praça: nenhum outro país dispõe de uma “missão”, como é chamada a “embaixada” da Suíça na UE, tão próxima do Parlamento da UE. O órgão existe desde 1959.
“Funcionamos aqui em Bruxelas como uma pequena administração federal. Meu papel é, junto de meus colegas dos escritórios especializados, identificar e monitorar de perto as propostas legislativas que são relevantes para a Suíça”, diz Sandra Imhof, conselheira da embaixada, sob a bandeira suíça em frente ao Parlamento da UE.
Imhof cita como exemplo o pacote de leis, recentemente aprovado pelo Parlamento da UE, sobre a responsabilidade de grandes grupos empresariais e sobre novas disposições sobre proteção civil em casos de catástrofes e desastres.
Apesar da proximidade em termos de conteúdo e localização, Imhof declarou: “As portas estão abertas, mas somos um terceiro país em relação à UE e somos, portanto, tratados como tal”.
Edição: Mark Livingston
Adaptação: Soraia Vilela
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