Suíça defende livre comércio com Argentina, China, Tailândia e Kosovo
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Ao longo dos últimos anos, o Fórum Econômico Mundial (WEF) tem servido como um importante propulsor do avanço da diplomacia comercial suíça. No encontro de Davos de 2025, a estratégia suíça para o comércio internacional assumiu um papel especialmente ativo.
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Logo após o encerramento oficial do Fórum Econômico Mundial (WEF) de 2025 na tarde da sexta-feira 24 de janeiro, o governo suíço emitiu um comunicado à imprensa intitulado “Davos: Forte apoio à OMC e ao comércio baseado em regras”.
À primeira vista, o comunicado pode ter surpreendido. As manchetes do WEF foram dominadas pelos discursos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do presidente da Argentina, Javier Milei, defendendo exatamente o oposto. Ambos advogaram pelo abandono de uma economia globalizada e baseada em regras, promovendo a ideia de um modelo comercial que priorize os interesses nacionais, acompanhado de uma agenda social conservadora.
Mas em uma análise mais detalhada, fica claro que nem todos compartilham o interesse nesse tipo de relações internacionais. Afinal de contas, o Fórum Econômico Mundial é principalmente uma reunião para se tirar a temperatura das elites econômicas de todo o mundo.
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E, o WEF é também um encontro político em que iniciativas diplomáticas são discutidas ou anunciadas. Como país anfitrião, a Suíça naturalmente aproveita ao máximo as oportunidades que a reunião anual oferece. Seis dos sete membros do Conselho Federal Suíço participaram do WEF de 2025 em Davos.
Aqui estão alguns dos principais eventos para a diplomacia suíça no WEF 2025:
Dois novos acordos de livre comércio para a Suíça
O fórum proporcionou ao governo suíço a possibilidade de finalizar dois novos acordos de livre comércio (FTAs), um com Kosovo e outro com a Tailândia. Os acordos foram negociados entre os dois países e a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA). Como parte da EFTA, a Suíça frequentemente assume a liderança nas negociações.
Até o momento, o volume de comércio com ambos os países tem sido modesto, mas a conclusão dos dois novos acordos destaca a abordagem da política econômica da Suíça. Como uma economia pequena, o país alpino depende do comércio internacional, bem como de um conjunto confiável de regras – tanto em estruturas multilaterais quanto em relações bilaterais. “As pessoas tendem a esquecer que os acordos de livre comércio não apenas oferecem vantagens tarifárias, mas também proporcionam um certo grau de segurança jurídica para as empresas”, disse o Ministro da Economia, Guy Parmelin.
Outros acordos estão atualmente em negociação e alguns tratos existentes devem ser atualizados.
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Quem se beneficia dos acordos de livre comércio com a Suíça?
A Suíça mantém fortes laços tanto com Kosovo como com a Tailândia. As grandes comunidades da diáspora em ambos os países fomentam atividades econômicas. A Tailândia, por exemplo, há muito tempo serve como porta de entrada para empresas suíças no Sudeste Asiático. Da mesma forma, o intercâmbio entre Berna e Pristina é particularmente movimentado.
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Suíça e Kosovo: uma ligação transcultural em transformação
Convites e portas abertas
Um acordo com o Mercosul está há muito tempo na agenda da Suíça. Isso fez do presidente argentino Javier Milei um importante convidado do WEF. Ele chegou a declarar sua admiração pela Suíça, mas isso não o impediu de fazer um ataque abrangente contra grande parte do que o WEF representa. Milei se manifestou contra as elites ocidentais, denunciou o “ambientalismo fanático” e criticou o que chamou de “epidemia de wokeism”. No entanto, fora do palco, no que foi descrito como uma “reunião extremamente cordial”, ele convidou a presidente suíça Karin Keller-Suter para ir a Buenos Aires.
A Suíça provavelmente aceitaria de bom grado esse convite. Milei garantiu a Keller-Suter que as negociações sobre o acordo do Mercosul estão “progredindo bem”. Apesar de todas as críticas, a economia argentina está procurando maneiras de recuperar a estabilidade.
Mortes de suíços no Irã
Um impasse trágico está se desenrolando atualmente entre a Suíça e o Irã. Um cidadão suíço morreu recentemente enquanto estava sob custódia iraniana, após ser acusado de espionagem. O Ministro das Relações Exteriores da Suíça, Ignazio Cassis, usou o WEF como uma oportunidade para exigir informações sobre o caso com o vice-presidente do Irã, Javad Zarif.
Meeting with Iranian Vice President Zarif in Davos. In the current delicate geopolitical context, Switzerland remains engaged in dialogue with Iran and stands ready to contribute diplomatically to help de-escalate tensions in the region. pic.twitter.com/APeLmJ0aMRLink externo
— Ignazio Cassis (@ignaziocassis) January 22, 2025Link externo
O Irã tem sido repetidamente acusado de fazer uma “diplomacia de reféns”, embora no caso em questão não tenha aparecido nenhuma evidência disso. O país desempenha um papel importante na diplomacia suíça, pois o país alpino detém um mandato de poder protetor entre os EUA e o Irã, o que lhe garante um canal direto com Teerã e Washington. Tradicionalmente, as autoridades suíças tratam os casos consulares com extrema discrição.
Anos atrás, outra morte misteriosa também ocorreu. Em maio de 2021, uma diplomata suíça morreu em Teerã após cair do 17º andar do prédio onde morava. As autoridades iranianas consideraram o caso um suicídio, enquanto as autoridades suíças inicialmente iniciaram uma investigação sobre um possível homicídio. Posteriormente, a investigação suíça também concluiu que se tratava de um suicídio. Mas nesse caso, quando o corpo da diplomata foi entregue pelas autoridades iranianas, descobriu-se que órgãos importantes estavam faltando.
O que esperar em relação à Ucrânia?
Como um país neutro, a Suíça não fornece apoio militar à Ucrânia, concentrando-se na ajuda humanitária e nos esforços diplomáticos. O WEF do ano passado, por exemplo, foi marcado pelo anúncio da Conferência de Bürgenstock. O evento, realizado na Suíça naquele verão, foi a maior reunião desse tipo desde a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Nada em uma escala semelhante foi anunciado este ano. Mas as discussões em Davos voltaram-se novamente para a possibilidade de a Suíça assumir um mandato de poder protetor, o que permitiria ao país alpino estabelecer um canal diplomático entre a Ucrânia e a Rússia. Embora a Ucrânia tenha solicitado a medida, a Rússia tem recusado até agora. “As conversas estão em andamento”, disse brevemente a presidenta suíço. A Suíça é sempre muito discreta quando se trata de tais mandatos.
No entanto, a Ministra do Comércio e da Economia da Ucrânia, Yulia Svyrydenko, assinou um memorando reafirmando a importância do setor privado suíço na reconstrução da Ucrânia.
A experiência tem demonstrado que a atmosfera discreta que paira sobre a pequena cidade montanhosa de Davos oferece um cenário ideal para que políticos de todo o mundo se conheçam e troquem ideias. Geralmente, leva meses até que se saiba o que foi acordado – e implementado – em Davos.
A amplitude das reuniões do Ministro da Economia Guy Parmelin deixa clara a abordagem da Suíça. Além das discussões com a Ucrânia, ele se reuniu com delegações do Reino Unido, Peru, Moldávia, Indonésia, Arábia Saudita, Marrocos, Egito, Índia, Emirados Árabes Unidos, Cingapura, Vietnã e China. O Conselho Federal até convidou o vice-primeiro-ministro da China, Ding Xuexiang, para visitar Berna. Mais uma vez, com o livre comércio na pauta, explicitando a provável intenção da Suíça em expandir o acordo existente com a China.
Edição: Balz Rigendinger/fh
(Adaptação: Clarissa Levy)
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