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A direita conservadora já atingiu seus limites?

O ex-ministro Christoph Blocher é o principal líder do partido Keystone

O sucesso eleitoral do Partido do Povo Suíço (SVP na sigla em alemão, UDC na sigla em francês), nos últimos 15 anos, afetou a estabilidade política do país, que parecia praticamente inabalável.

Mas será que o crescimento do partido poderá cessar em 2011 com as próximas eleições federais?

Antes de cada eleição parlamentar, adversários, cientistas políticos e pesquisadores de opinião pública prevêem o fim do espetacular crescimento do SVP. Não se pode esquecer, porém, que essa agremiação política da direita conservadora, obteve em 2007 sua quinta vitória eleitoral consecutiva.

Foi depois de meio século de estabilidade que o SVP, com um modesto 11-12% da votação nacional, atropelou em 1992 o “establishment” político do país. Na base do um contra todos, o menor dos partidos governamentais conseguiu, finalmente, que a maioria de eleitores se posicionasse contra o projeto de adesão da Suíça ao EEE – Espaço Econômico Europeu.

A partir dessa vitória, o SVP, liderado pelo tribuno de Zurique, Christoph Blocher, não se contentou mais em desempenhar seu tradicional papel de representante dos camponeses e da pequena burguesia. Graças a uma hábil manobra à direita, o partido se tornou um ativo defensor da identidade nacional suíça, o promotor de uma longa série de campanhas contra a Europa e contra os estrangeiros, defensor do Estado e da luta contra os abusos sociais.

Frutos Eleitorais

Esta reorientação, marcada por uma política de permanente oposição aos outros três partidos governamentais, foi bem aceita pelo eleitorado. O SVP conseguiu 28,9% dos votos nas eleições federais de 2007, arrancando novos eleitores, principalmente dos dois grandes partidos de centro, o Partido Liberal Radical (PLR) e o Partido Democrata Cristão (PDC).

Os eleitores da UDC (SPV) não se localizam apenas nas zonas rurais, particularmente entre os camponeses e pequenos comerciantes, como também nos segmentos mais modestos do centro e das periferias urbanas. Com suas campanhas de cunho social, o partido de direita conservadora conquistou nas zonas urbanas uma parte do tradicional eleitorado do Partido Socialista (PS).

Aburguesamento da classe operária

“O SVP tirou proveito do auto-aburguesamento da classe operária, que concretizou alguns de seus objetivos econômicos e goza de uma certa segurança, oferecida pelo Estado Social. Para estas camadas menos qualificadas da população, a questão dos estrangeiros e a concorrência existente no mercado de trabalho são mais importantes que os temas sociais”, explica o cientista político, Michael Hermann, da Universidade de Zurique.

“O SVP seduziu inúmeros eleitores não apenas usando a bandeira da identidade nacional contra os estrangeiros, como, também, as questões correntes de globalização e das mudanças na sociedade”, prossegue. “Este fenômeno é registrado em inúmeros países europeus, onde existem igualmente partidos populistas que defendem a resistência contra a globalização e a modernização da sociedade”.

Fortes turbulências

A partir das eleições federais de 2007, o SVP atravessou um período de fortes turbulências, provocadas pela decisão do Parlamento de não endossar o nome de seu líder, Christoph Blocher, como ministro. O SVP revidou, rejeitando seus ministros Samuel Schmidt e, principalmente, a recém-eleita, Eveline-Widmer Schlumpf, que entrou na vaga de Blocher. Depois de passar mais de um ano na oposição, o SVP teve ainda que suportar a cisão de sua ala moderada com a fundação do Partido Burguês Democrático (PBD).

Nem mesmo a perda de uma parte de seu eleitorado, que em alguns cantões passou para o PBD, perturbou o presidente da UDC (SPV), Toni Brunner. “O nascimento desse partido debilitou principalmente nossos adversários: o PBD se encontra no centro onde já existem diferentes agremiações políticas, enquanto o SVP é a única formação que se posiciona solidamente à direita”, diz ele.

Entretanto, as pesquisas de opinião pública, nos últimos anos, registram uma perda de votos por parte do SVP. “Essas pesquisas não nos interessam, contesta Toni Brunner. «Somente nos interessa a realidade. E a realidade é que temos vencido praticamente todas as eleições cantonais, enquanto que o PLR, PDC e PS saíram do pleito quase sempre derrotados”.

Reserva Eleitoral

Para vencer mais uma vez as próximas eleições federais, de 23 de outubro, o presidente do SVP pretende colocar em evidência os tradicionais cavalos de batalha do partido: a luta contra a imigração de trabalhadores estrangeiros, contra a criminalidade dos estrangeiros, contra o abuso praticado pelos mesmos estrangeiros junto ao Seguro Social. E, ainda, de forma bem clara, contra todos os projetos de adesão à União Européia.

“A classe política em Berna não fala, abertamente, mas não pára de caminhar na direção da UE. Pensemos, por exemplo, na livre circulação de pessoas, no acordo sobre a liberação do mercado agrícola ou a criação de um grupo de trabalho destinado a avaliar as possibilidades de retomar, automaticamente, o direito europeu”, afirma Toni Brunner.

Mas será que o SVP ainda pode atrair eleitores de outros partidos com esses temas? “O crescimento da UDC diminuiu ao longo das últimas eleições, observa Michael Hermnan. Mas acredito que ainda reste uma margem de manobra, especialmente porque o partido dispõe de um bom curral eleitoral de votos contestatórios junto aos abstencionistas. Será, portanto, determinante ver se ele conseguirá mobilizar seu eleitorado, nos próximos meses.”

Fundado em 1917, o SVP tornou-se o maior partido suíço durante a última década

Nas eleições federais de 2007 ele conquistou 28,9% de votos (+2,2%).

O SVP dispõe de 66 cadeiras no Parlamento – 60 na Câmara Baixa (Deputados) e 6 na Câmara Alta (Senado). Conta com um representante no governo (Ueli Mauier)

O partido reforçou seu percentual de votos em 11 dos 17 colégios eleitorais cantonais dos quais participou no último escrutínio federal, em 2007.

1959-2003

O longo período da “fórmula mágica”: 2 cadeiras do Partido Socialista (PS), 2 do Partido Democrata Cristão (PDC / centro direita), 2 do Partido Liberal-Radical (PLR / direita) e 1 do Partido do Povo Suíço (SVP / direita conservadora)

2004-2007

Com Christoph Blocher, o SPV conquista uma cadeira do PDC: 2 cadeiras PS , 2 SVP, 2 PLR, 1 PDC.

Dezembro de 2007

O Parlamento não reelege Christoph Blocher, substituído por sua colega de partido, Eveline Widmer-Schlumpf. A UDC rejeita, então, a participação de seus dois representantes junto ao governo e anuncia sua passagem à oposição.

2008

Os dois ministros do SVP deixam o partido e aderem ao novo Partido Burguês Democrático (PBD): 2 cadeiras PS, 2 PLR, 1 PDC, 2 PBD.

2009

Após a demissão de Samuel Schmid, a UDC retorna ao governo com Ueli Maurer. A divisão atual assim se encontra: 2 cadeiras PS, 2 PLR, 1 PDC, 1 PBD.

Adaptação: J. Gabriel Barbosa

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