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A reta final para o túnel do Gottardo

Os operários são os verdadeiros hérois do túnel. Keystone

Hoje operários na parte do Ticino do túnel básico do Gottardo perfuram os últimos 1,8 metros nas rochas que os separam dos colegas no cantão dos Grisões.

Esse momento histórico é acompanhado por uma festa e também intensiva cobertura da mídia.

Com 57 quilômetros, o túnel básico no maciço do Gottardo será o mais extenso túnel ferroviário do mundo. Hoje esse recorde é detido pelo Japão com o túnel do Seikan (quase 54 quilômetros).

“Estamos muito felizes de estarmos a um passo de concluir esse trecho no túnel básico do Gottardo”, disse Rahel Probst, porta-voz da empresa responsável pela obra, a AlpTransit Gotthard AG. “Todos que participaram desse projeto estão orgulhosos de contribuir à conquista desse recorde mundial.”

Os festejos irão começar na sexta-feira, às 13 horas do horário local, com uma instalação de arte com efeitos óticos e acústicos, encenada pelo diretor Volker Hesse. Depois seguem discursos e a benção oficial do túnel.

Às duas da tarde, a máquina perfuradora no túnel, nas proximidades do vilarejo de Faido, reiniciará seus trabalhos para abrir caminho nos últimos metros de pedra em direção à Sedrun. A contagem final até a perfuração completa deve durar entre 10 e 20 minutos. Depois os mineradores no canteiro de obras do lado de Faido irão transpor a abertura e dar as mãos aos seus colegas no lado de Sedrun.

Coroamento

O ministro suíço dos Transportes, Moritz Leuenberger, estará presente nesse momento histórico no túnel. Outros convidados também estarão no local como Michael Reiterer, embaixador da União Europeia na Suíça, e o chefe da Companhia Suíça de Trens (SBB, na sigla em alemão), Andreas Meyer.

Outros ministros de transporte de países da UE não virão à cerimônia, pois em Luxemburgo ocorre ao mesmo tempo o encontro de ministros europeus do setor. Porém a maioria deles deve acompanhar a conclusão do túnel do Gottardo. A televisão estatal da Suíça estará transmitindo diretamente do local.

O comissário de Transportes da UE, Siim Kallas, que qualificou o túnel básico do Gottardo como “um projeto marcante”, desculpou-se por não poder estar presente. Mas há um consolo: Leuenberger ofereceu aos colegas europeus de pasta um bilhete de trem para atravessar o túnel. Ele é válido a partir de 2017, quando o trajeto estará em plena operação.

Para Leuenberger, que no final de outubro anunciou sua saída do governo, o túnel básico do Gottardo é o coroamento de 15 anos em foi o ministro suíço de Transportes.

“Esse túnel é de extrema importância para a Suíça e uma grande contribuição ao desenvolvimento das infraestruturas europeias”, declarou Leuenberger em setembro durante uma entrevista dada à swissinfo.ch. A gigantesca obra também foi um empreendimento arriscado.

“Nos quinze anos em que defendi o projeto no Parlamento helvético, sempre escutei argumentos sarcásticos ou céticos, que previam seu fracasso”, lembrou o ministro.

“Um túnel só está terminado quando ele foi completamente perfurado. Antes disso havia muitos riscos geológicos. Estes foram comunicados por nós antes do plebiscito popular e, mesmo assim, o eleitor deu o seu apoio”, ressaltou.

Importância europeia

O túnel básico do Gottardo é a peça central da nova rota através dos Alpes. Através desse caminho, que nunca está a mais de 550 metros acima do nível do mar, a duração de uma viagem entre Zurique e Milão é reduzida para uma hora e meia.

Essa obra do século foi possibilitada depois que o eleitor suíço aprovou o financiamento do projeto NEAT nas urnas nos anos 1990.

O túnel básico do Gottardo entrará em funcionamento só no final de 2017, depois que a infraestrutura ferroviária for instalada. Porém a AlpTransit anunciou que isso pode ocorrer um ano mais cedo, caso as condições o permitam.

No total, mais de 24 milhões de toneladas de rochas foram retiradas do túnel durante sua construção. Isso corresponde a cinco vezes mais do que o volume das pirâmides de Quéops no Egito. Até agora a obra já custou 9,74 bilhões de francos. Os custos totais do complexo NEAT, inclusive adicionando inflação, impostos e juros, podem chegar a 24 bilhões de francos.

O projeto teve inúmeros críticos e sempre provocou acirrados debates. De fato, sua execução não foi sempre uma coisa fácil.

Superar problemas

Em particular, a geologia diversificada dos Alpes causou muitos problemas. Muitas vezes rochas eram porosas, o que obrigou os engenheiros a sondarem até encontrar camadas mais ideais para a construção. Graças às novas técnicas de construção subterrânea foi possível construir mesmo em áreas com incidência de quedas de rochas.

Apesar dos últimos dias até a perfuração final terem sido marcados por algumas notícias negativas – o jornal zuriquense Tages-Anzeiger revelou custos adicionais de 350 milhões de francos e problemas com canos de esgoto danificados – a expectativa é de otimismo.

Cerca de 3.500 habitantes locais e outros participantes do projeto irão acompanhar a perfuração final de diferentes locais. Também o público poderá acompanhar esse momento através das transmissões ao vivo e via swissinfo.ch.

Cento e cinquenta jornalistas da Suíça e do exterior irão cobrir o evento. Até do Japão são esperado representantes da mídia, sobretudo depois de terem descoberto que o “seu” túnel Seikan deixará de ser o mais extenso túnel ferroviário do mundo.

“Estou nervoso”, revela na televisão o chefe do AlpTransit-Chef, Renzo Simoni, poucos dias antes. Apenas uma preocupação continua: os mineiros, que trabalharam dia e noite pelo projeto, possam ser esquecidos. Para Simoni, eles são os “verdadeiros heróis do dia.”

Os túneis de base do Gottardo (conclusão no final de 2017) e do Ceneri (2019) terão uma linha ferroviária ultramoderna, com altitude máxima de 550 m (1150 atualmente).

O trajeto norte-sul da Suíça será mais plano, mais curto de 40 km e, portanto, mas rápido. Os trens de carga poderão ser mais longos, duas vezes mais pesados do que atualmente (4 mil toneladas) e duas vezes mais rápidos (16 km/h).

Juntamente com túnel de base do Lötschberg (aberto em 2007), esses dois túneis são o elemento central das Novas Linhas Ferroviárias Transalpinas e um dos maiores canteiros de obras do mundo.

O custo total deverá ser de 18 a 20 bilhões de francos suíços (9,74 bilhões somente para o Gottardo).

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