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Abelhas morrem e a apicultura se organiza

Cerca de 20% das abelhas suíças não teriam sobrevivido o último inverno. RDB

Na Suíça, assim como na Europa, as abelhas estão doentes e morrem em massa. O prejuízo para a agricultura é incalculável, sobretudo para a cadeia alimentar. Autoridades discutem a criação de um serviço sanitário apícola.

A apicultura é considerada mais um hobby na Suíça do que atividade econômica. A doença mortal que atinge as abelhas teve o mérito de colocar no centro de discussões a questão de profissionalizar a apicultura, um setor agrícola que continua bastante disperso.

Um grupo de trabalho criado pelo Departamento Federal de Agricultura procura agora meios para promover a apicultura helvética.

As propostas foram entregues em resposta a uma moção parlamentar. “Uma delas pede que os apicultores se reorganizem e sejam representados por uma só voz”, explica Jean-Daniel Charrière, colaborador científico no Centro de Pesquisa Agroscope Liebefeld-Posieux (ALP, na sigla em francês).

Recenseamento eficaz

As propostas do grupo de trabalho, que serão publicadas em junho, não prevêem subsídios aos apicultores. Por outro lado, elas pedem a popularização do hobby através de cursos destinados à melhora dos conhecimentos dos apicultores. Elas também sugerem o apoio financeiro à criação de rainhas.

Melhor, um serviço sanitário apícola poderá ser criado. “Ele seria uma estrutura gerada pelas associações apícolas – um sistema comparado ao aplicado para os animais de trabalho”, detalha Jean-Daniel Charrière. O grupo pede também mais cientistas para o Centro de Pesquisas Apícolas (CRA).

“Dessa forma será possível realizar recenseamentos mais eficazes e dispor de estatísticas mais precisas para toda a Suíça”, reconhece William Schneeberger, pesquisador membro do grupo e, até o final de 2007, presidente da Federação das Sociedades Suíças de Apicultura (FSSA).

Perigo para a polinização

Essas medidas devem ajudar a enfrentar o problema da hecatombe de abelhas. Especialistas estimam que 20% dos insetos não teriam sobrevivido ao último inverno na Suíça. Segundo suas análises, 10% de perdas nas colônias são consideradas “normais”, mas 20% ou mais são “preocupantes”. Desde 2002, as taxas de mortalidade de abelhas ao final da hibernação são anormalmente elevadas.

As perdas repercutem nos rendimentos dos apicultores suíços. “Mas o perigo é que essa tendência se amplifique e tenha conseqüências graves para a ecologia e a polinização”.

Mais de 80% das espécies de plantas floríferas no mundo e 80% das espécies cultivadas na Europa dependem da polinização através dos insetos, essencialmente as abelhas. Estas têm um papel fundamental nas culturas de frutos e legumes.

Como diz a ALP, “cada bocado que a humanidade coloca na boca depende da polinização”, ou seja, dos insetos. Se as perdas de colônias de abelhas se agravarem, isso significará para a humanidade uma profunda alteração da diversidade alimentar.

Um vírus

Há alguns anos, as mortalidades invernais das abelhas têm a particularidade de serem bastante extensas do ponto de vista geográfico (toda a Europa é atingida) e que elas se produzem de maneira repetida. Porém é difícil encontrar uma causa única ao fenômeno.

As doenças das abelhas são, todavia, apontadas. “De fato, parece que a varroa (nota do redator: a varroase é o principal problema patológico da apicultura atual, é uma enfermidade parasitaria cujo agente causador é o ácaro Varroa jacobsoni) é a principal razão das perdas invernais”, avalia Jean-Daniel Charrière. Esse agente patogênico suga o sangue da abelha, debilitando seu sistema imunológico. Ele também é vetor de outros vírus.

Outros fatores são geralmente também evocados: a criação de abelhas realizada de forma extremamente intensiva, a utilização de pesticidas, a falta de alimentos para as abelhas, o deslocamento de colméias, as irradiações da telefonia móvel, a cultura de organismos geneticamente modificados, a falta de novas vocações de apicultores.

Mas tanto William Schneeberger como Jean-Daniel Charrière duvidam que estas sejam causas determinantes na Suíça. Segundo o colaborador da ALP, “a probabilidade que essas sejam as causas centrais é muito fraca”.

Intensificação da pesquisa apícola

Aí está a importância da pesquisa e da colaboração entre os cientistas. Criado em 2006, o grupo de pesquisa internacional Coloss (do inglês «Prevention of Honeybee Colony Losses») reúne os institutos de pesquisa, totalizando 104 cientistas de 28 países da Europa e dos Estados Unidos. O CRA coordena o grupo.

Coloss se propõe, em primeiro lugar, criar um sistema de recenseamento fiável de perdas de colônias de abelhas em cada país. Suas pesquisas visam encontrar as causas dessas perdas, de um lado das patologias (vírus, bactérias) e de outro do meio-ambiente (falta de pólen, de néctares, telefonia móvel, pesticidas, os organismos geneticamente modificados e outros). O grupo estuda também meios de reforçar as resistências da abelha através de seleção.

Resta agora esperar que a ciência e as autoridades possam encontrar meios de frear a morte das abelhas. Isso, pois como disse Albert Einstein: “Se a abelha desaparecer um dia, o homem não irá sobreviver mais do que alguns anos”.

swissinfo, Catherine Vuffray

Hoje existem 19 mil apicultores na Suíça (em 1900 eram 45 mil, ou seja, mais do que o dobro), que exploram cerca de 190 mil colônias de abelhas.

O valor comercial total dos produtos de apicultura (mel, pólen e cera) alcançou, em 2003, 64,7 milhões de francos.

O aporte financeiro trazido pela polinização, indispensáveis sobretudo na agricultura frutífera, na produção de sementes e na manutenção da biodiversidade, não estão incluídas no total.

Em 2003, o Centro de Pesquisa Agroscope Liebefeld-Posieux estimava a utilidade econômica desse aporte em 268 milhões de francos.

As autoridades alemãs anunciaram em meados de maio que cerca de 30% das suas colônias de abelhas não sobreviveram o inverno.

Dentre as razões da hecatombe, o inseticida Clothianidin foi citado como uma das causas. Utilizado para o tratamento de sementes, sobretudo do milho, ele tem o risco de liberar fragmentos que contaminam plantas e flores situadas nas proximidades do local de aplicação. Dessa forma as abelhas seriam intoxicadas.

O inseticida é autorizado na Suíça, mas ele é pouco utilizado (5% da superfície plantada de milho), explica Jean-Daniel Charrière, acrescentando também que nenhum caso de intoxicação foi detectado na Suíça. Segundo ele, trata-se de um “caso pontual e localizado” na Alemanha.

O Departamento Federal de Agricultura recebeu o mandato de reunir um grupo de trabalho para responder à moção Gadient. Esta foi depositada em 16 de dezembro de 2004 pela deputada federal do cantão dos Grisões para exigir do governo medidas destinadas à promoção da apicultura na Suíça.

O primeiro ponto da moção (incluir a apicultura na Lei sobre a agricultura) já foi realizado.

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