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Analistas estão surpresos com os resultados das eleições

Depois das eleições, o presidente da UDC Ueli Maurer é alvo das atenções. Keystone

Para os analistas da política suíça, os resultados em si das eleições legislativas de domingo não são supreendentes. No entanto, eles não esperavam mudanças tão importantes nos quatro partidos governamentais.

Segundo os especialistas, o avanço da direita nacionalista não deverá abalar a imagem da Suíça, à longo prazo.

“O resultado não me surpreende mas eu não esperava que a vitória da UDC (direita nacionalista) chegasse a tais dimensões”, afirma a cientista política Regula Stämpfli.

Essa reação resume bem a de outros observadores contactados por swissinfo. Em geral, eles consideram que o resultado da UDC de certo modo era esperado. O partido conseguiu manter-se na atualidade durante toda a campanha, ajudado pelos adversários e pela mídia.

Durante a campanha, falou-se muito da reeleição ou não do ministro da Justiça e Política e líder da UDC, Christoph Blocher, dia 12 de novembro, quando os 7 ministros que formam o Executivo serão reeleitos pelo novo Parlamento. Com os resultados obtidos domingo pela UDC, parece evidente que Blocher será reeleito.

Em caso contrário, a UDC – que já era o maior partido do país e sai fortalecido das eleições de domingo – promete deixar o governo, o que significaria o fim da política de consenso, tão prezada na Suíça.

“Seria muito curioso imaginar um governo sem a UDC”, declara Pascal Sciarini, diretor do Departamento de Ciência Política da Universidade de Genebra. “O mais plausível seria um governo sem o Partido Socialista, grande perdedor dessas eleições e em posição de fraqueza. Os três partidos de direita (UDC, PRD e PDC) tem confortável maioria e poderiam votar qualquer projeto no Parlamento e abordar referendos e iniciativas de maneira serena.”

Ecologistas vão de vento em popa

O outro grande vencedor dessas eleições foi o Partido Verde. Ele atingiu seu objetivo de chegar a 10% dos votos e de entrar no Senado. Por outro lado, mais à direita, o movimento Ecologia Liberal (dissidente do Partido Liberal), que não existia quatro anos atrás, também elegeu deputados.

A progressão dos ecologistas foi feita essencialmente em detrimento do Partido Socialista, que ficou abaixo de 20%, principal derrotado do escrutínio. A transferência de votos dos socialistas para os ecologistas era esperarda.

Os ecologistas se beneficiam atualmente do tema das “mudanças climáticas”, tão abordado ultimamente. “Quanto aos socialistas, eles perderam principalmente na Suíça-alemã, onde se distanciaram de seus temas tradicionais como emprego, salário, seguridade social etc”, comenta o cientista político Ernest Weibel. Na Suíça romanda (de expressão francesa), onde esses temas permaceram, eles resistiram melhor.”

Resta saber se esse avanço dos Verdes pode continuar. Um estudo da Universidade de Berna mostra que os deputados verdes são os que mais votam contra a corrente no Parlamento. Parece haver uma decalagem entre o sucesso eleitoral dos Verdes e sua eficácia parlamentar. O futuro dirá como isso será percebido pelos eleitores.

Duelo fratricida ao centro

Conhecidos os resultados, fica difícil saber quem será lider do centro-direita na Suíça. Tradicionalmente, o Partido Radical Democrático (PRD, direita) ficava bem à frente do Partido Democrata Cristão (PDC, centro-direita). Agora os dois partidos estão empatados.

Além dos números, uma tendência se confirma. Os radicais continuam a perder eleitores e democratas cristãos recupera-se ligeiramente após anos de erosão.

Com os resultados de domingo, os democrata cristãos poderão reivindicar um segundo ministério perdido quatro anos atrás para a UDC. Matematicamente, essa segunda cadeira deveria ser cedida pelos radicais.

Mas a situação é mais complicada. O PDC só poderá recuperar essa cadeira com o apoio da esquerda. Mas, logicamente, a UDC deverá apoiar os radicais, mais à direita. Como os dois blocos têm a mesma força, a situação está indefinida.

Imagem abalada

Finalmente, essas eleições não mudam muito a paisagem política suíça. Como sempre ocorreu, o Parlamento continua amplamente dominado pela direita.

Mas a força da UDC foi novamente confirmada, o que causa alguns problemas para a imagem da Suíça no exterior. Antes das eleições, a mídia estrangeira falou em campanha xenófoba desse partido.

“A imagem da Suíça não vai melhorar, declara Pascal Sciarini. Existe uma verdadeira preocupação com o que ocorre na Suíça.”

Será “complicado explicar que a UDC não é uma verdadeira extrema direita como, por exemplo, a Frente Nacional na França”, explica Sciarini. “Para eles, ao verem os cartazes da UDC, é a mesma coisa”.

Clive Kent, da Universidade de Kent, acha que “os amigos da Suíça serão provavelmente desapontados. Isso não vai encorajar a União Européia a ter ilusões sobre o desejo da Suíça de aderir à UE”.

Mas as reações não deverão surtir efeito a longo prazo. “Não creio que terá repercussões. Quando da progressão da extrema direita na Áustria ou em outros países, as reações se diluíram rapidamente”, conclui Ernest Weibel.

swissinfo, Olivier Pauchard

48,8% dos eleitores que votaram nas eleições de domingo para a Câmara. É 3,6% a mais do que em 2003 e a taxa mais elevada desde 1975.

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