Brasileira está na política há vinte anos na Suíça
Ela já foi vereadora duas vezes e atualmente acumula os mandatos de deputada estadual e prefeita de Chêne-Bourg, uma comuna no cantão de Genebra. Em outubro, ela será candidata, pela primeira vez, a deputada federal.
A carioca de coração Beatriz de Candolle veio para a Suíça para estudar num internato e nunca mais voltou para o Rio de Janeiro, a não ser de férias!
O gabinete tem uns 15 metros quadrados, plantas verdes, um computador e uma mesinha redonda com três cadeiras para reuniões. Pela janela, avista-se uma árvore várias vezes centenária, no meio de um pequeno bosque.
É ali que trabalha a prefeita de Chêne-Bourg, uma comuna de 7.800 habitantes, a vinte minutos de bonde da estação ferroviária de Genebra. Chêne-Bourg está situada na aglomeração de Genebra e nem se nota a passagem de um município a outro.
“A cidade tradicionalmente é de operários mas, nos últimos anos, com a falta crônica de apartamentos, o perfil da população está mudando. Jovens casais, com melhor formação, se instalam por aqui”, afirma Beatriz de Candolle. Ela nascieu em Curitiba, foi criada em Botafogo, no Rio, passava as férias em Nova Fribourgo e está na política suíça há 20 anos.
Executivo e Legislativo
“Faz cinco anos que não vou ao Rio. Tenho tido eleições de dois em dois anos e não vou de férias para ficar estressada por causa da violência”.
A carioca de coração foi vereadora em Genebra e depois mudou para Chêne-Bourg, onde está em seu segundo mandato na prefeitura. No cantão de Genebra, o Executivo é chamado de Conselho Administrativo, eleito pelo voto direto. Nas comunas com menos de 10 mil habitantes, esse conselho têm três membros que assumem as secretarias municipais e se revezam no cargo de prefeito.
Os três membros do Conselho Administrativo trabalham praticamente a tempo integral e recebem uma verba de representação que, segundo prefeita, não dá para viver. Essa verba é aprovada pela Câmara que, em Chêne-Bourg, tem onze vereadores, todos voluntários, o que é o caso, aliás, do poder Legislativo em geral na Suíça.
Problemas principais
Em paralelo, Beatriz de Candolle mantém sua atividade de jornalista e escreve atualmente sobretudo para revistas de moda.
Ao mesmo tempo, ela é deputada cantonal (estadual) em Genebra, reeleita em 2005 e como a mulher mais votada do cantão. “As duas funções são interessantes e bem diferentes. No Executivo, os resultados são mais rápidos e palpáveis; no Legislativo, o processo é mais longo e a satisfação é intelectual”.
A prefeita locomove-se com um pequeno carro popular de dois lugares. No restaurante da sala de esportes de Chêne-Bourg ela é reconhecida e interrompida várias vezes por outros clientes, apesar da discrição habitual dos suíços. “Gosto do contato com as pessoas e geralmente são palavras de simpatia”, afirma.
Na gestão de Chêne-Bourg, a prefeita atual é titular das Secretarias de Obras Públicas e Segurança, Prevenção e Informação. Os principais problemas são o crescente sentimento de insegurança da população, que nem sempre corresponde à realidade. “Em todo caso, o que surgiu e aumentou nos últimos anos foi a incivilidade e os atos de vandalismo”, explica.
Motivação na política
Ao vê-la tão à vontade na função, fica difícil imaginar a adolescente de 16 anos enviada do Rio de Janeiro pelos pais para estudar francês em um colégio interno, católico, em Fribourg. Fez amizades, entrou na universidade e formou-se em jornalismo. “Aí fui ficando e quando percebi minha vida estava aqui”.
Por casamento, Beatriz entrou em uma das famílias tradicionais de botanistas (De Candolle) com 11 séculos de história e presente em Genebra há 5 séculos. O fato da família do esposo ter uma longa história despertou o interesse em conhecer as origens portuguesas de sua própria família. “Descobri inclusive que entre meus parentes está o escritor Alberto de Sousa Costa” (1869-1961).
Mas qual seria a motivação para uma mãe de três filhos entrar na política, se não é um meio de vida na Suíça? Beatriz de Candolle explica que a decisão foi motivada pelo nascimento de seu segundo filho. “Ele nasceu surdo e teve acesso a todos os tratamentos e ao ensino especializado. Sabia que não era o caso de todas as crianças e decidi entrar em política para tentar diminuir essa injustiça”.
Feita a primeira experiência, ela foi tomando gosto pela política e os mandatos se sucederam. Além disso, Beatriz preside várias associações, entre elas a Raízes, dedicada à promoção da cultura brasileira em Genebra.
Não deve ser nada fácil conciliar tanta atividade pública com a vida familiar (marido médico e três filhos), como explica prefeita. “Tem época que eles reclamam bastante mas no verão, durante as férias, compensamos um pouco”.
Candidatura federal e corrupção
Como se não bastassem as atividades atuais, Beatriz de Candolle vai tentar alçar vôos mais altos, desta vez na política federal. Nas eleições legislativas de 21 de outubro próximo, ela será candidata, pela primeira vez, a deputada federal, pelo Partido Liberal. “Sempre estive no PL porque tem a noção de liberdade e também o lado social e de defesa da família”.
Ela acompanha a política no Brasil apenas pelos jornais e afirma que talvez também exista corrupção da Suíça mas, em todo caso, em escala muito menor. “Eu nunca vi e nunca ninguém me propôs”, conclui a brasileira com mais de 20 anos de experiência na política suíça.
swissinfo, Claudinê Gonçalves, Chêne-Bourg
Chêne-Bourg tem 7.800 habitantes e fica na aglomeração de Genebra.
O Excutivo tem 3 membros, atualmente do Partido Liberal, Democrata Cristão e Radical.
E Legislativo tem 21 vereadores (10 de esquerda e 11 de direita).
Orçamento anual: 18 milhões de francos suíços.
Originária do sul da França, a família de Candolle existe desde o século XI está instalada em Genebra há 5 séculos. O primeiro prefeito de Genebra foi Augustin de Candolle.
O filho de Augustin, Augustin Pyramus, interessou-se pela Botânica, antes que a disciplina fosse considerada como ciência. Formou-se inicialmente em medicina mas foi professor de botânica na Universidade de Montpellier (sul da França).
Foi fundador do Jardim Botânico de Genebra e escreveu um dos primeiros tratados de botânica: Prodomus systematis naturalis regni vegetalis, um repertório das espécies vegetiais conhecidas na época.
O filho de Augustin, Alphonse, apesar do doutorado em direito, estuda botânica acrescentou vários volumes ao Prodomus do pai. O filho de Alphonse, Casimir, escreveu da Inglaterra ao pai, dizendo que “estava feliz por ter finalmente encontrado Darwin”.
Depois de Casimir, os membros da família De Candolle passarem a dedicar-se a outras atividades.
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