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Direita domina campanha eleitoral na Suíça

"Aarau ou Ankara?" é a questão provocativa e anti-islâmica escrita no cartaz de um candidato da UDC no cantão da Argóvia. swissinfo.ch

Abusos do sistema social e estrangeiros criminosos apresentados como ovelhas negras: provocação constante é a estratégia da União Democrática do Centro.

A agressiva campanha levada pelo partido para as eleições de 2007 está provocando polêmica e inúmeros protestos. Porém com ela a UDC já conseguiu atrair a atenção do eleitorado, como no passado.

Os abusos são o problema – a expulsão dos malfeitores é a solução. A União Democrática do Centro (UDC), partido de direita e a mais importante força política do país, oferece aos seus eleitores soluções simplificadas. Eles mostram quem são os vilões do país: os “falsos inválidos”, pessoas que recebem indevidamente a aposentadoria por invalidez; os “parasitas”, que vivem às custas da assistência social; ou os jovens criminosos, que se aproveitam dos cidadãos de bem.

Na mira da UDC estão os estrangeiros, que abusam do direito de asilo e da hospitalidade da Suíça. Nos cartazes de campanha do partido, eles mostram como três ovelhas brancas dão coices para expulsar a ovelha negra do “paraíso”.

Os slogans da UDC também geram protestos e isso não apenas na Suíça, mas também no exterior. Eles vêm de vários partidos políticos como associações de estrangeiros e outras minorias. Também Micheline Calmy-Rey, ministra das Relações Exteriores e atual presidente da Confederação Helvética, e o Comitê de Combate ao Racismo da ONU criticaram publicamente a campanha do partido. Porém seus representantes não se mostraram contrariados. Pelo contrário. A atenção conquistada pela UDC através da mídia mostra que o objetivo foi conquistado: que as pessoas discutam os temas propostos por eles.

Prós e contras da UDC

“Os temas que dominam as eleições são os mesmos temas de campanha da UDC. Eles conseguiram colocar tudo: seus conteúdos, suas propostas e também o estilo de personalizar a política. Dessa forma o partido ataca e influencia a tática dos seus oponentes”, explica o cientista político Oscar Mazzoleni.

“Na concorrência e na luta pela conquista dos votos, a força do partido está na sua capacidade de utilizar uma linguagem clara e ter uma imagem marcante para o eleitor. Para conquistar esse objetivo, a UDC realiza uma campanha no estilo preto e branco: a favor ou contra estrangeiros, dentro ou fora e por ai vai”.

Essa tática obriga outros partidos e o eleitorado a tomar posição contra ou a favor da política da UDC. Como o partido questiona num dos seus vídeos, o eleitor pode escolher “entre o céu e o inferno”. Nele, o eleitor descobre sem muito raciocínio que o inferno são as forças de esquerda e ecológicas que dominam atualmente a Suíça, um país que nesse caso estará dominado pela violência, o mundo de drogas e desemprego, onde os muçulmanos se reproduzem cada vez mais.

“Durante décadas a política da concordância e da fórmula mágica (ler quadro à direita) soldou uma geração completa de políticos num pacto de não-agressão. Isso inclui não apenas a distribuição de cadeiras no governo federal, mas também a maneira como as campanhas políticas eram conduzidas. A UDC acabou com essa tradição”, avalia Oscar Mazzoleni.

Campanha personalizada

A indignação dos outros partidos, que consideram o estilo da UDC como “pouco suíço”, permite a este partido de direita se colocar no papel de vítima e personalizar sua campanha. Por isso muitos dos seus políticos estão reclamando um possível complô pela não reeleição do ministro Christoph Blocher, um dos seus mais importantes líderes.

“A UDC está muito interessada na personalização do debate político. Com a mensagem ‘Blocher em perigo’, eles estão conseguindo mobilizar os eleitores e evitar a discussão de muitos temas primordiais”, analisa por sua parte o cientista político Werner Seitz.

De fato, muitos desses temas acabaram não entrando nos debates pré-eleitorais. Até mesmo a defesa do meio-ambiente, que até a primavera ainda era um dos principais assuntos do dia, hoje já não está mais na ordem do dia. Apesar dos partidos terem incluído ecologia e outras importantes questões políticas nas suas agendas, eles terminam não entrando nas discussões atuais.

“Assim como o exército e as igrejas, também os partidos e seus programas estão deixando de ser referência para os cidadãos. Os jornais dos partidos, por exemplo, desapareceram completamente. Os eleitores sentem-se mais livres do que nunca, mas também sentem a dificuldade de se orientar na complexidade de temas básicos”, afirma Seitz. Questões sociais complicadas terminam se reduzindo a simples perguntas: vocês estão contra ou a favor de Blocher?

Mudança na forma de fazer política

A tendência de personalização e de rudeza nos hábitos políticos durante uma campanha eleitoral cresceu também na Suíça. Isso se mostra através do atual debate criado através do caso Blocher-Roschacher (leia reportagem “Ministro da Justiça sofre pressão política” acima).

Diversos políticos, não apenas da UDC, passaram a fazer declarações que não correspondem à forma tradicional de se fazer política na Suíça.

“Até bem pouco tempo, há uns dez anos, as eleições federais não eram algo de grande importância. Se tratava apenas de distribuir alguns lugares no Parlamento. Porém nos últimos anos isso mudou, sobretudo a partir de 2003. O que ocorreu é que as eleições são agora capazes de realmente modificar completamente a composição do governo”, conclui Mazzoleni.

Isso explica a exacerbação da campanha eleitoral. Para Mazzoleni a revolução política vivida pela Suíça mostra simplesmente que ela se aproximou de outras democracias européias.

swissinfo, Armando Mombelli

O sistema político na Suíça é dominado há meio século por quatro partidos políticos. Juntos, eles têm quase 80% dos votos: União Democrática do Centro (UDC), Partido Social-Democrata, Partido Radical Democrático e Partido Cristão-Democrático (PDC)

Entre 1957 e 2003, os quatro partidos dividiram entre si os sete postos de ministros no governo federal. O acordo informal recebe o nome na Suíça de “fórmula mágica”. A divisão é feita da seguinte forma: 2 para radicais-democratas, 2 para os sociais-democratas, 2 para os cristãos-democratas e 1 para a UDC.

A UDC era, até oito anos atrás, o menor dos partidos governamentais. Porém nas eleições de 1999 e 2003, ela cresceu e se tornou no mais forte partido da Suíça.

Graças ao sucesso eleitoral, a UDC recebeu em 2003 o segundo assento no gabinete de ministros. Os cristãos-democratas tiveram de abdicar de um posto. Atualmente a UDC está representada no governo através dos ministros Samuel Schmid e Christoph Blocher.

Resultados das eleições parlamentares de 2003 (entre parênteses os resultados anteriores das pesquisas de opinião realizadas em agosto):

União Democrática do Centro: 26,7% (26,2)
Partido Social-Democrata: 23,3% (22,8)
Partido Radical Democrático: 17,3% (15,8)
Partido Cristão-Democrático: 14,4% (15,2)
Partido Verde: 7,4% (9,5)

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