Perspectivas suíças em 10 idiomas

Espiões da vida privada são premiados

Existe uma câmera de vigilância para cada 180 suíços, contra uma para cada 14 londrinos. Keystone

Através de uma cerimônia bem-humorada, ativistas de duas ONGs suíças premiaram empresas e membros do governo federal suíço por "violar a esfera privada dos cidadãos".

Os troféus, em forma de esculturas de concreto, não foram entregues pessoalmente aos vencedores: membros do governo suíço, o chefe do serviço secreto, uma empresa de seguros e até uma cadeia de lojas de produtos eletrônicos.

A premiação é intitulada “Big Brother Awards” e faz alusão ao famoso livro “1984”, escrito pelo escritor inglês Eric Arthur Blair sob o pseudônimo de George Orwell e publicado em 8 de Junho de 1948. A obra retrata o cotidiano numa sociedade totalitária.

Na sua versão 2006, o Big Brother Awards é entregue mais uma vez em vários países do mundo. Os ativistas suíços explicam na sua página da internet, a razão de criar um prêmio que ninguém gosta de receber:

“Diariamente nossos movimentos e dados pessoais são detectados, registrados e controlados. O que compramos no supermercado, com quem telefonamos, quanto dinheiro retiramos do caixa-eletrônico e onde, através de quais ruas estamos trafegando, quais sites na Internet estamos navegando, etc, etc. Cada um de nós deixa um rastro que é analisado por vários agentes”.

Na Suíça os vencedores foram os membros do Conselho Federal (o gabinete executivo), a empresa de seguros de saúde CSS, a rede de lojas de produtos eletrônicos Mediamarkt e Hans Wegmüller, chefe de espionagem.

Denúncia

A premiação é uma denúncia: essas empresas e órgãos do Estado se destacaram por violar a proteção dos dados pessoais. Os troféus foram entregues durante uma cerimônia organizada no centro cultural Sudhaus, uma antiga cervejaria no centro da Basiléia.

Segundo os organizadores, a ação foi lançada pela primeira vez na Grã-Bretanha em 1998. O objetivo era “levantar um debate popular sobre o problema da invasão da esfera privada dos cidadãos, a vigilância geral”, como o grupo explica no site. Na Suíça a ação é coordenada por duas ONGs com nomes pouco usuais: “Grupo suíço de usuários da Internet” e o “Arquivo Estado espião Suíça”.

O júri formado por onze pessoas escolheu os premiados a partir de 100 indicações. Para eles, o troféu é “um prêmio que ninguém gostaria de receber”, que ainda dá direito de incluir os premiados em uma página da Internet denominada “Hall of Shame” (n.r: Muro da Vergonha).

Diferentes categorias

Na categoria “Estado”, o troféu foi para os membros do Conselho Federal, personificados na figura do ministro da Justiça, Christoph Blocher. Na opinião do júri, este merece o prêmio pela sua proposta de tornar a Lei de segurança interna mais severa.

O prêmio “Empresas” foi dado à companhia de seguros CSS. Ela permitiria acesso livre a centenas de funcionários para informações sigilosas e sensíveis sobre a saúde dos clientes.

Mediamarkt recebeu pela segunda vez o prêmio “Lugar de trabalho”. Para os membros do júri, o atacadista de eletrônicos mereceu o troféu de concreto pelo fato de ter instalado câmaras de vigilância em todas as partes das suas lojas, incluindo banheiros e espaços de descanso. Seu objetivo seria controlar melhor os funcionários da empresa.

Na categoria “Obra de vida”, o prêmio foi para Hans Wegmüller, diretor do Serviço Estratégico de Informações do Exército (SND, na sigla em alemã), a espionagem suíça. Justificativa: ninguém conhece o orçamento e nem o número de funcionários que trabalham para esse órgão público helvético.

Ironia

O público presente no centro cultural entregou no final da noite o troféu “Winkelried”. Ele é dado anualmente para pessoas ou organizações que se engajam no controle e vigilância da sociedade.

Em 2006, o prêmio foi para um comitê popular intitulado “BWIS-Referendum”, que organiza atualmente uma campanha para pedir uma plebiscito contra a revisão da Lei federal de Segurança Interna.

A revisão, um projeto defendido pelo governo federal, pede medidas mais drásticas no combate ao terrorismo e que incluem um maior controle da esfera privada dos cidadãos.

swissinfo com agências

Pela primeira vez, a Suíça acolheu em Montreux de 14 a 16 de setembro uma conferência internacional sobre a proteção de dados.
O evento recebeu 300 participantes, vindos de 40 diferentes países.
Quase a totalidade dos bancos na Suíça dispõem de câmeras de vigilância.
Cerca de 40 mil câmeras funcionam no território suíço, o que corresponde a uma para cada grupo de 180 habitantes.

Os mais lidos
Suíços do estrangeiro

Os mais discutidos

Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Mostrar mais: Certificação JTI para a SWI swissinfo.ch

Veja aqui uma visão geral dos debates em curso com os nossos jornalistas. Junte-se a nós!

Se quiser iniciar uma conversa sobre um tema abordado neste artigo ou se quiser comunicar erros factuais, envie-nos um e-mail para portuguese@swissinfo.ch.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR