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Eveline Widmer-Schlumpf aceita entrar no governo

Pouco depois de aceitar o cargo, Eveline Widmer-Schlumpf prestou o juramento. (Keystone) Keystone

Eleita ontem para o Conselho Federal contra a vontade do seu partido, a União Democrática do Centro (UDC), Eveline Widmer-Schlumpf aceita a escolha. Ela substituirá Christoph Blocher.

Ao mesmo tempo a UDC decidiu partir para a oposição e retira o apoio do seu grupo parlamentar a Eveline Widmer-Schlumpf e Samuel Schmid, seus dois ministros no governo.

O dia na capital federal da Suíça começou em suspense. Micheline Calmy-Rey, a ministra das Relações Exteriores caminhava só nas ruas em direção ao seu ministério. Ao passar pela praça central frente ao Parlamento, ela viu as centenas de manifestantes com bandeiras e até tochas. A polícia havia bloqueado todas as entradas do prédio do Palácio Federal e um batalhão de choque estava a postos para evitar conflitos.

Nos cartazes que as pessoas carregavam estavam frases como “Blocher, aceite a decisão do Parlamento” ou “A força das mulheres”. A maioria estava na praça para festejar a saída do polêmico ministro da Justiça e Polícia, Christoph Blocher.

Eveline Widmer-Schlumpf conseguiu manter o suspense até os últimos minutos. Muitos analistas achavam que ela renunciaria a nomeação para deixar Blocher fazer mais uma tentativa de eleição no Parlamento.

Na abertura da sessão, pontualmente às oito horas da manhã, ela subiu à tribuna para agradecer em primeiro lugar aos deputados e senadores pela honra de ter sido escolhida para o cargo máximo na administração do país. Lembrando também suas origens, ela citou algumas palavras em reto-romano, o quarto idioma oficial da Suíça. No final, ela aceitou a nomeação e foi aplaudida efusivamente pelos parlamentares dos partidos de esquerda e centro. Já os representantes da UDC preferiram ficar sentados em estado de choque nas suas cadeiras.

“Vocês me confiaram uma grande missão e de forte responsabilidade. Eu só posso aceitá-la se puder contar com o apoio de todos”, disse a nova ministra, cuja eleição leva pela primeira vez a três o número de mulheres no gabinete federal.

Oposição

Os momentos que se seguiram foram de confusão no Parlamento. Enquanto Eveline Widmer-Schlumpf se colocava frente à tribuna para fazer o tradicional juramento de posse, o chefe da fração da UDC, Caspar Baader subia ao pódio para fazer um discurso. Sua principal mensagem foi a promessa feita pela direita nacionalista caso Christoph Blocher não fosse eleito: Samuel Schmid e Eveline Widmer-Schlumpf, os dois representantes atuais da UDC no governo, estão excluídos da fração, mas não do partido.

Baader ainda fez questão de reforçar o estranhamento da corrente pró-Blocher do seu partido em relação à nova ministra. “Ela é desconhecida da maior parte do Parlamento”.

Com esse passo, a UDC entrou para a oposição. “Com a eleição de Eveline Widmer-Schlumpf no lugar de Christoph Blocher, o Parlamento mostrou que não queria mais que a política do nosso partido esteja representada no governo”, reforçou Caspar Baader, lembrando também a vitória da legenda nas últimas eleições parlamentares.

Para o chefe da fração, a escolha feita pelas duas câmaras do Congresso ignora a vontade do eleitor e perturba o sistema político do país. A UDC pretende continuar combater os projetos e decisões que não correspondem às suas idéias. “Iremos fazer pressão sobre o Parlamento e o governo através de iniciativas populares e referendos”, advertiu o deputado.

Indignação e alívio

Christoph Blocher estava assistindo os debates em outra sala no Palácio Federal. Depois do juramento da nova ministra, ele solicitou à tribuna espaço para fazer um discurso. O rosto enrubescido e movimentos rápidos das mãos durante a fala mostravam seu estado de espírito.

“Eu abandono o governo, mas não a política”, foi sua primeira frase. Voltando os olhos para a esquerda, onde estavam sentados os adversários na figura dos partidos de esquerda e centro, ele ameaçou. “Eu previno que não irei mais me privar de dizer tudo o que eu penso e que nunca ousei dizer até o presente”.

Blocher não escondeu a sua revolta. “Eu hesito entre a indignação e o alívio. A indignação pela forma como vocês não me reelegeram, sobretudo pelo fato de vocês não terem me dito os motivos”.

Para Christoph Blocher, as razões para a defenestração no Parlamento “não foram seguramente pelos resultados do meu trabalho ou em prol do povo”.

Quanto ao alívio, o ex-ministro explicou que acaba de perder uma mordaça. “Eu vou recomeçar a dizer o que eu penso, falar das coisas que antes me eram proibidas como, por exemplo, a concordância e a colegialidade”.

Ele ainda acrescentou. “O segredo da função já serviu muitas vezes para cobrir coisas imundas que nós não queríamos ver. Na oposição podermos mostrá-las abertamente”.

Quanto ao seu futuro, Christoph Blocher deve assumir muito provavelmente a presidência da União Democrática do Centro, explicou Yvan Perrin, vice-presidente do partido.

Merz, vice-presidente da Confederação

Sua não-reeleição priva evidentemente Christoph Blocher de assumir a vice-presidência do Conselho Federal como estava previsto. Logo depois do discurso deste, o Parlamento aproveitou a ocasião para escolher um novo nome. A decisão acabou caindo para o ministro das Finanças, Hans-Rudolf Merz, que obteve 193 votos, da maioria absoluta estabelecida em 106.

swissinfo, Alexander Thoele e agências

Filha do antigo ministro Leon Schlumpf, ela nasceu em 16 de março de 1956 em Felsberg, no cantão dos Grisões (leste da Suíça).

Ela estudou direito na Universidade de Zurique, onde obteve sua licença em 1981 e, em 1990, o título de doutorado.

Entre 1987 e 1998, Eveline Widmer-Schlumpf trabalhou como advogada e notário. Na política, ela foi eleita para o conselho do distrito de Trin a partir de 1985, onde exerceu também o cargo de presidente entre 1991 e 1997.

Ela foi membro do parlamento do cantão dos Grisões entre 1994 e 1998, quando então foi primeira mulher eleita para o governo do cantão dos Grisões em 1998. Entre 2001 e 2005 ela exerceu a presidência do governo cantonal.

Desde maio de 2004, Widmer-Schlumpf é membro do conselho do Banco Nacional Suíço e presidente da Conferência dos Diretores Cantonais de Finanças. Nesse cargo, ela se bateu em 2004 contra o pacote fiscal proposto pelo governo federal, que terminou sendo rejeitado em votação popular.

Ela é casada e tem três filhos.

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