Franco suíço vira refúgio para especuladores
A moeda suíça é cobiçada em tempos de crise financeira. Sua valorização em relação ao euro freia as exportações helvéticas para a União Européia (UE), principal parceiro comercial do país.
Desde 1° de janeiro de 2008, o valor do franco suíço subiu 15% em relação ao euro (5% só na semana passada). Na última segunda-feira, um euro valia 1,4308 franco suíço, o nível mais baixo dos últimos sete anos.
O assunto já preocupa os analistas financeiros, o Banco Central e os empresários ligados ao setor de exportações. A corrida dos especuladores ao franco em tempo de crise encarece de forma artificial os produtos suíços exportados para a UE. Isso já ficou evidente na balança comercial de setembro.
O paradoxo cambial
A política cambial suíça orienta-se pelo mercado. A oferta e a demanda de francos em relação a outras divisas determinam a paridade que a moeda helvética terá frente ao dólar, ao yen e ao euro.
Um franco suíço excepcionalmente forte tem um seleto grupo de ganhadores: os suíços aumentam seu poder aquisitivo na Europa, tanto para fazer compras nas fronteiras quanto para viajar. A Europa fica mais barata para eles e os importadores aplaudem.
No entanto, pelas mesmas razões, as indústrias mecânica, relojoeira, química, farmacêutica e o turismo são afetados negativamente.
Os europeus pensam duas vezes antes de comprar produtos suíços porque estes se tornaram 10% ou 15% mais caros do que há alguns meses. Isso é ruim para a Suíça, já que dois terços de suas exportações se destinam à UE. Sempre é lembrado que a cada dois francos ganhos, um vem do estrangeiro.
Sinais de fadiga
Segundo a Administração Federal de Alfândegas (AFA), de janeiro a setembro desde ano, a Suíça exportou o equivalente a 157 bilhões de francos suíços, apenas 0,7% a mais do que no mesmo período em 2007. Nos primeiros nove meses do ano passado, as exportações haviam crescido quase 8% em relação a 2006.
Nas importações observa-se um fenômeno inverso. A Suíça comprou bens no valor de 142 bilhões de francos entre janeiro e setembro deste ano – um aumento real de 8% em relação ao mesmo período em 2007 (3,3% em 2006).
Em 2008, setores como o de plásticos e têxteis registram quedas em suas vendas, a sólida indústria farmacêutica prevê um recuo em torno de 5%.
Valorização temporária?
As vendas da indústria de máquinas, equipamentos eletrônicos e produtos metalúrgicos, representada pela associação Swissmem, somaram 80 bilhões de francos nos primeiros nove meses de 2008 (80% ou 64 bilhões vieram das exportações).
Um ‘superfranco’, conseqüentemente, é um desafio para o setor, que é um dos pilares das exportações helvéticas. “Esperamos que seja uma valorização temporária. Do contrário, as vendas de nossas indústrias seriam afetadas pelo impacto que o câmbio exerce sobre os preços dos nossos produtos”, disse o diretor de comunicação da Swissmem à swissinfo, Ruedi Christen.
O que se espera agora é que Banco Central Suíço siga a tendência internacional e baixe a taxa de juros. “Temos muita confiança no nosso Banco Central e estamos convencidos de que suas decisões sempre buscam o bem-estar geral da economia suíça”, disse Christen.
swissinfo, Andrea Ornelas
A moeda oficial da Suíça e do Principado de Liechtenstein é considerada uma das mais estáveis do mundo. Ela resultou da união monetária de vários cantões (estados) suíços criada em 1850.
Ano / bilhões de francos suíços
2000: 126,5
2001: 131,7
2002: 135,7
2003: 135,4
2004: 146,3
2005: 156,9
2006: 177,4
2007: 197,2
2008: 201,3 (previsão)
Os 10 países para os quais a Suíça mais exportou em 2007 (em bilhões de francos suíços):
Alemanha: 41,9
EUA: 20,1
Itália: 18,0
Francia: 17,2
Grã-Bretanha: 10,5
Áustria: 6,3
Espanha: 7,6
Japão: 6,7
Bélgica: 4,2
Fonte: Administração Federal de Alfândegas (AFA)
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