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Governo quer combater salários “excessivos” nos bancos

Widmer-Schlumpf ao anunciar a maior ajuda governamental já dada aos bancos, na quinta-feira (16/10). Keystone

Os fortes protestos contra as bonificações e os salários elevados pagos a executivos do UBS fazem com que a ministra da Justiça, Eveline Widmer-Schlumpf, anuncie planos para reforçar o direito dos acionistas.

Ao mesmo tempo, jornais revelam que o maior banco suíço irá pagar sete bilhões de francos em bonificações, apesar das dificuldades que vive e da ajuda que acaba de receber do governo.

Eveline Widmer-Schlumpf planeja medidas para “impedir os salários excessivamente elevados de executivos”, como publicou o jornal dominical SonntagsZeitung. A ministra da Justiça avalia diversas formas de tornar a legislação de acionistas mais rigorosa, dentre elas dar o direito destes de determinar em assembléia os “salários dos membros dos conselhos administrativos e dos conselhos executivos das empresas” e também possibilidades legais de criar limites para a remuneração.

A ministra da Justiça, que, devido aos problemas de saúde do ministro das Finanças Hans-Rudolf Merz, também exerce seu cargo interinamente, criticou fortemente nos últimos dias as bonificações milionárias pagas a executivos do UBS. “Não é possível aceitar que pagamentos de bonificações sejam feitos em um momento onde estamos enterrando tanto dinheiro na areia”, declarou Widmer-Schlumpf no programa “Arena” do canal público de televisão.

A ministra dava sua resposta à polêmica afirmação feita por Peter Kurer na televisão suíça. Nela, o presidente do conselho de administração do UBS não descartou pagamentos futuros de bonificações de até dois dígitos de milhão para seus executivos. Dois dias depois (18 de outubro), Kurer pedia desculpas formais ao público, afirmando ter sido mal compreendido. Ele próprio considera bonificações de dez milhões de francos ou mais “um escândalo”.

O primeiro banqueiro a mudar as regras

Em entrevista ao programa Samstagsrundschau, Kurer afirmou compreender a reação da ministra da Justiça e revelou ter renunciado às bonificações em 2007, prometendo fazer o mesmo no atual ano. O chefe do UBS ainda ressaltou “ter sido o primeiro executivo de um banco a ter renunciado publicamente às bonificações” e prometeu que o sistema de remuneração interno será revisado. “As bonificações irão cair drasticamente”, disse. “Estamos trabalhando com os órgãos fiscais e os políticos para melhorar o sistema”, completou.

Frente às câmaras, o presidente do conselho administrativo lançou um pedido claro ao seu predecessor, Marcel Ospel, e aos executivos que o acompanhassem. Eles estariam sendo “convidados a pensar em formas de como contribuir”. Não existiriam bases legais para obrigar essas pessoas à devolução das bonificações já pagas no passado, porém “existem questões de ordem moral e ética nesse sentido”.

Já o chefe executivo do UBS, Marcel Rohner, confirmou no programa Arena que o banco está em negociação com Marcel Ospel sobre possíveis devoluções. “Estamos negociando, mas o conteúdo da conversa é reservado. Os resultados serão publicados futuramente em um relatório do UBS”.

Forte crítica popular

No final de semana, a imprensa helvética também deu indícios de como a população está reagindo ao pacote de salvamento do maior banco do país.

Em uma pesquisa de opinião realizada pelo jornal dominical SonntagsZeitung, 79% das pessoas entrevistadas se mostraram favoráveis à limitação de até 5 milhões de francos para os salários de executivos dos bancos. Quanto ao pacote de salvamento costurado para o UBS, uma maioria apertada de 47% concorda, 38% consideram incorreto e 15% não têm opinião própria.

Já o jornal Sonntag revela que, apesar de o governo ter injetado seis bilhões de francos no UBS e assumido os riscos dos papéis podres em até 60 bilhões, o banco deve pagar ainda este ano sete bilhões de francos de bonificações, o que corresponderia a uma média de 90 mil francos por funcionário do banco (o UBS tem 80 mil funcionários).

Abaixo dos dois funcionários mais importantes – Peter Kurer e Marcel Rohner, que renunciaram às bonificações de 2008 – os salários mais elevados são de Roy Tapner, executivo responsável pelo mercado asiático, e Ryan F. Primmer, que será responsável pela fundação extraordinária responsável pela administração dos papéis “podres” do banco.

O UBS se absteve de comentar o valor de sete bilhões de francos. A porta-voz Eveline Müller-Eichenberger apenas comentou: “Iremos pagar bonificações, mas seu valor será seguramente muito mais baixo do que no ano passado”. Em 2007 foram 12 bilhões de francos, apesar de o banco ter tido prejuízos elevados. A porta-voz ainda acrescentou: “No relatório semestral de 2008, o UBS havia anunciado que iria reduzir em um terço o volume de salários. Na primeira metade de 2008, o custo de pessoal baixou em 4,46 bilhões de francos em comparação com o mesmo período em 2007. Essa queda deveu-se a compensações menores pagas segundo os resultados e através de cortes de empregos”.

swissinfo com agências

O Partido Social Democrata irá apresentar uma “contra-proposta” ao programa de salvamento do UBS. O documento, redigido pelos parlamentares Alain Berset e Susanne Leutenegger Oberholzer, foi aprovado pela direção do partido e deve ser submetido ainda ao grupo parlamentar. Ele prevê um controle maior do Estado sobre o banco e também participação nos futuros lucros.

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