Internet dá nova dimensão à pedofilia
A polícia da Suíça desmantelou uma plataforma na internet que servia de ponto de encontro para 650 pedófilos de quatro países. Foram abertos inquéritos contra 13 suíços.
As autoridades do país constatam um aumento desse tipo de criminalidade através da internet. O jurista Daniel Jositsch diz que as penas para pedófilos na Suíça deveriam ser mais severas.
A Justiça suíça conseguiu desbaratar o círculo de pornografia infantil a partir de uma dica que foi dada à polícia pela população.
O Serviço de Coordenação da Luta contra a Criminalidade na Internet (Scoci, na sigla em francês) observou a plataforma por algum tempo, antes de entregar o caso à Promotoria Pública de St-Gallen (nordeste do país).
Depois de reunir informações e material suficientes, a Justiça estadual fechou o cerco. Cerca de 600 pessoas da Alemanha, 40 da Áustria, 13 da Suíça e 4 de Liechtenstein deixaram seus rastros no site, gerenciado por alemães e hospedado por um provedor de St-Gallen.
Na última terça-feira, a plataforma foi desativada e foram abertos inquéritos contra os 13 suíços – quatro deles (homens entre 20 e 65 anos) se encontram em prisão preventiva. A Justiça investiga as suspeitas de produção de pornografia infantil e violação sexual de crianças.
Segundo a juíza Ursula Brasey, no material confiscado há imagens de “graves cenas de violação”. Uma das vítimas teria sido uma menina de 12 anos, conhecida de um dos usuários suspeitos e que não vive na Suíça.
“Nova qualidade”
Em termos numéricos, não se trata do maior escândalo de pedofilia na Suíça. Em 2002, a polícia fez buscas em 1300 casas durante uma operação pente fino.
Segundo o diretor do Scoci, Philipp Kronig, no entanto, a pedofilia na internet atingiu uma “nova dimensão qualitativa” com o novo delito. A plataforma foi configurada como bolsa, na qual os pedófilos não só trocavam fotos e vídeos, como faziam principalmente um intercâmbio de experiências e dicas para lidar com crianças e conselhos sobre como entrar em contato com elas.
Kronig deduz que os usuários da plataforma tinham intenção de abusar das crianças fisicamente. “Até agora, a pedofilia na internet se restringia a satisfazer uma pervertida curiosidade e se satisfazer sexualmente com a ajuda de fotos e vídeos em que eram mostradas relações sexuais com crianças”, explicou.
Segundo Kronig, não havia obstáculos especiais para acessar o site. Os interessados precisavam apenas se cadastrar através de email. Com isso, o fórum estava aberto a todos. Devido ao estágio precoce das investigações, a promotoria não pode dizer se, em função da bolsa, os pedófilos passaram das palavras aos atos.
As investigações já duram meses, mas a avaliação do material apreendido é muito morosa, informou a Promotoria Pública de St-Gallen, em comunicado à imprensa.
A Secretaria Federal de Polícia (Fedpol) enviou os dados sobre os usuários estrangeiros do site às respectivas autoridades no exterior, principalmente ao Departamento de Investigações Criminais da Alemanha.
Entre os acusados não se encontra o provedor de internet de St-Gallen que havia hospedado o site. “Ele mostrou muita disposição para cooperar com a Justiça”, disse Kronig.
Penas mais duras
O Scoci obteve vários sucessos nos últimos anos. Em nove de dez casos investigados, a suspeita de pedofilia foi confirmada e os criminosos foram pegos.
De acordo com dados do Departamento Federal de Estatísticas, de 2002 a 2006, de um total de 1096 pessoas acusadas de pedofilia 620 foram condenadas à prisão condicional na Suíça.
Em 2002, a multa média por uso de material pornográfico infantil era de 900 francos, em 2005 de aproximadamente 1500 francos. Além disso, devido ao risco de reincidência de muitos pedófilos, teria se multiplicado o número de tratamentos psiquiátricos.
Terapia
Segundo o psicanalista alemão Klaus Beier, os pedófilos podem aprender a controlar sua tendência sexual. “É tarefa dos atingidos aprender que podem fazer tudo na fantasia, mas não na realidade”, disse Beier à agência de notícias EPD.
Beier, professor de Ciências e Medicina Sexual na Universidade de Berlim, coordena desde 2005 um projeto de terapia para pessoas com tendências pedófilas. Segundo ele, do ponto de vista científico, ainda não é possível dizer que exista cura no sentido de que um pedófilo deixe de sentir atração sexual por crianças.
swissinfo com agências
Segundo o professor de Direito Penal Daniel Jositsch, os 13 suíços envolvidos no caso de pedofilia em St-Gallen podem esperar penas suaves.
“Os consumidores de pornografia não serão punidos. Quem, por exemplo, fez download de fotos arisca levar uma multa de algumas centenas até alguns milhares de francos, dependendo da renda e do cantão. Os produtores de pornografia infantil, por lei, podem levar até três anos de cadeia. De fato, no máximo, levarão uma multa. A lei prevê até dois anos de reclusão para quem viola sexualmente crianças, mas os réus primários geralmente sempre são condenados à prisão condicional”, disse Jositsch ao jornal gratuito .ch.
Jositsch disse que, devido ao risco de reincidência, as penas para pedófilos deveriam ser mais duras.
No estado de Berna, 158 pedófilos caíram nas malhas da polícia em 2007 – 30% a mais do que no ano anterior e 80% a mais do que em 2000.
O assédio sexual acontece cada vez mais na internet, explica o porta-voz da polícia, Olivier Cochet.
O deputado estadual Daniel Steiner-Brütsch (EVP) citou um estudo segundo o qual quatro de cada cinco crianças que freqüentam chat na internet já sofreram assédios sexuais. Ele criticou o fato de Berna não fazer um amplo trabalho de prevenção, como o fazem outros cantões (estados).
Ele citou como caso positivo o cantão de Zurique, cuja campanha de outdoors “Olhe com muita atenção!” contra a pedofilia está causando furores. “Os cartazes são provocantes e estimulam a reflexão”, disse Steiner-Brütsch (veja foto ao lado desta reportagem)
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