Jimmy Carter, de Camp David aos acordos de Genebra.
O antigo presidente americano Jimmy Carter apóia a iniciativa de Genebra: o plano de paz alternativo entre Israel e palestinos.
Carter declarou a swissinfo que esse acordo poderia dar um impulso ao “roteiro pela paz” do governo Bush. Este deve, porém, moderar suas posições pró-israelenses.
O plano de paz apresentado em Genebra recebeu o apoio de diversas personalidades israelenses e palestinas. O governo suíço, por sua vez, ofereceu o respaldo logístico e o financiamento para a iniciativa.
O acordo, que será assinado em primeiro de dezembro em Genebra, recebeu fortes críticas do governo israelense, de grupos judaicos e também de algumas facções palestinas.
swissinfo: quais foram os motivos que o levaram a aceitar o convite de vir à Suíça, para assistir a assinatura do acordo de Genebra em primeiro de dezembro?
Jimmy Carter: o Centro Carter se informa há anos do bom trabalho feito pelas partes implicadas nesse acordo. Nos últimos meses, um dos nossos representantes esteve presente nas negociações.
Eu mesmo estou engajado no dossiê do Oriente Médio. Já em 1978 eu negociei e obtive os acordos de Camp David.
Ao mesmo tempo, eu fiquei muito desencorajado e decepcionado pela falta de progressos no processo denominado “roteiro pela paz”. Os israelenses e os palestinos não andaram um passo em direção à paz. As atividades de colonização continuam.
Por outro lado, o que o acordo de Genebra prevê é perfeitamente compatível com o objetivo final do “roteiro pela paz” e os acordos de Oslo de 1993.
swissinfo: o papel da Suíça, instigadora e promotora desse documento, foi criticado em Israel, que o considera “pior do que os acordos de Oslo”. Na sua opinião, um país como a Suíça pode colaborar a solucionar esse conflito?
Nós temos um grande reconhecimento em relação à Suíça. Oslo, que constituiu um passo importante no caminho para a paz, foi quase que totalmente elaborado pela Noruega, sem muito apoio dos Estados Unidos.
swissinfo: o antigo presidente Bill Clinton foi convidado, mas ainda não confirmou sua presença em Genebra. Ao mesmo tempo, não está prevista a vinda de nenhum representante do governo americano para a assinatura do acordo. Tanto um como o outro não deveriam estar presentes ao acontecimento?
Sim, eu gostaria muito que eles estejam presentes. Pelo menos eu estou contente que a administração Bush não tenha condenado o acordo de Genebra. Eu tenho a impressão que esse acordo vai beneficiar de um apoio crescente, seja em Israel ou em outros países.
Os partidários do acordo de Genebra afirmam que este se apóia, em grande parte, nas proposições apresentadas por Bill Clinton a Ehoud Barak e Yasser Arafat em 2000. Isso é verdade?
É uma continuação de Camp David. Quero dizer: as proposições apresentadas em Camp David eram inaceitáveis do ponto de vista dos palestinos. Yasser Arafat não teria sobrevivido no plano político se a proposta tivesse sido aceita.
Essas proposições conservavam intacto um grande número de colônias de povoação em Gaza e na Cisjordânia. Também elas não davam solução tangível aos problemas de Jerusalém e dos refugiados. Mas esta era uma base, e o acordo de Genebra é o apogeu de todos os acordos que já foram concluídos anteriormente.
swissinfo: os responsáveis pelo acordo de Genebra afirmam que o documento resolve todas as questões, inclusive aquelas ligadas ao “estatuto final”: refugiados, colônias, fronteiras de um Estado palestino e Jerusalém. Na sua opinião, quais são seus pontos fortes e fracos?
De maneira geral, as concessões das duas partes permitiram de dar um passo adiante, o que pode ser considerado positivo. Por exemplo, as disposições em relação ao retorno dos refugiados poderão ser aprovadas pelo governo israelense.
Também existe um progresso no que diz respeito às colônias. Pela primeira vez está previsto que os colonos poderão continuar nas suas casas em terras palestinas. E também está previsto a remoção das colônias israelenses mais avançados que, desde o início, eram ilegais.
swissinfo: o acordo de Genebra é o melhor a ser obtido nesse momento?
Nesse estágio ele é o melhor que podemos ter e é algo mais difícil de cumprir, do que fazer esse tipo de concessões.
swissinfo: à propósito, o senhor encontrou os dois principais autores do acordo, o palestino Yasser Rabbo e o israelense Yossi Beilin?
Eu conheço o senhor Beilin, mas ainda não tive ocasião de encontrar o senhor Rabbo.
O governo israelense denunciou Yossi Beilin como um traidor. Qual a sua opinião em relação a ele?
Ele é um herói, um cidadão de Israel muito corajoso e tenaz.
swissinfo: analisando a situação em campo, parece que o “roteiro para a paz”, patrocinado pelos Estados Unidos e os outros membros do quarteto (Rússia, União Européia e a ONU), não funciona. Como é possível sair desse impasse?
O acordo de Genebra é completamente compatível com o objetivo final do “roteiro para a paz”. Foi o processo por etapas que acabou com ele.
O governo de Israel não quis tomar as primeiras medidas, como o desmantelamento das colônias. Isso acabou levando o lado palestino à violência. Porém eu creio que o acordo de Genebra fornece uma imagem do que pode ainda ser realizado.
swissinfo: na Suíça, assim como em outros países da Europa, as pessoas têm a impressão que, desde a chegada do presidente George Bush ao poder, que os Estados Unidos não são eqüitativos na gestão do conflito entre israelenses e palestinos? O senhor está de acordo com essa impressão?
Eu partilho absolutamente dessa opinião. O presidente Bush é o primeiro presidente americano, desde a criação do Estado de Israel, a ter adotado uma posição que manifesta uma preferência clara por Israel.
Porém a situação não foi fácil para os seus predecessores nos Estados Unidos. Eles eram sempre criticados por cada posição tomada em relação ao governo israelense.
O que é necessário são posições equilibradas. Infelizmente o presidente Bush quase sempre tomou partido do primeiro-ministro Sharon. Quando este recusou de aceitar as proposições americanas, Washington não prestou atenção ao que foi feito por Israel logo depois.
Houve algumas fracas críticas da parte da administração de Bush em relação às colônias e à sua remoção, porém nenhum esforço real foi feito em relação a esse ponto.
swissinfo, Marie-Christine Bonzom em Washington
tradução de Alexander Thoele
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